Ebola: Entenda como a doença ataca e os tratamentos disponíveis

Quarenta anos depois de descoberto, o Ebola ainda vem fazendo vítimas. Com o maior surto da história a Organização Mundial da Saúde declarou emergência mundial para tentar conter as transmissões.

Caroline Canazart

Em julho de 2014, as estatísticas sobre o vírus Ebola eram assustadoras. Os países afetados pelo surto do vírus Ebola, Serra Leoa, Libéria, Guiné e Nigéria, têm corrido contra o tempo para freiar a transmissão do vírus, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Com quase mil mortos até o início de agosto de 2014, o surto na África Ocidental está entre os maiores da história em número de vítimas fatais e de pessoas infectadas com a doença. Para auxiliar no controle a OMS declarou emergência mundial em 8 de agosto de 2014, fazendo com que todos os países aumentassem os esforços para conter a propagação do vírus.

O Governo brasileiro, seguindo a recomendação da OMS, anunciou uma doação de R$ 1 milhão para auxiliar no combate ao Ebola, além disso, kits de medicamentos já haviam sido enviados aos epicentros da doença. Segundo o Ministério da Saúde do Brasil, a dificuldade maior em controlar a transmissão do vírus acontece devido à precaridade sanitária nos países acometidos pelo surto, já que eles estão entre os mais pobres do mundo. As práticas culturais e religiosas da população também têm contribuído para a disseminação da febre hemorrágica. Muitos familiares contaminam-se durante rituais para a preparação do corpo para o enterro.

Veja algumas perguntas frequentes sobre a doença e tire suas dúvidas.

Como acontece a transmissão?

O vírus pode ser transmitido por meio do sangue de uma pessoa contaminada ou de outros fluidos corporais, como saliva, lágrimas, vômito ou diarreia, inclusive se a vítima já estiver morta.

Ao que tudo indica a fonte de infecção em humanos vem de morcegos-da-fruta, chipanzés, gorilas e alguns roedores hospedeiros da doença. Geralmente, nas regiões que ocorrem os surtos, esses animais são facilmente encontrados e são também fontes de alimentação da população. E é neste momento que pode ocorrer a contaminação, durante a manipulação do animal morto e na ingestão da carne mal cozida.

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Nestelink você poderá ver um mapa da Organização Mundial da Saúde que mostra onde o morcego pode ser encontrado. A parte pontilhada é onde ele vive. Em azul são os locais que receberam das Filipinas macacos infectados com ebola que não afeta humanos. Em verde, os países que já notificaram ter macacos ou porcos domésticos com o ebola que não afeta humanos. Os países que já tiveram casos de animais com o vírus estão em amarelo. Em laranja estão os países que já tiveram casos de ebola em humanos. Em laranja-escuro estão os países atuais com surtos e, em laranja-claro, países que receberam para tratamento pacientes já com a doença. O mapa contém todos os surtos do ebola, desde 1976.

Com letalidade entre 60 e 90%, caso um homem sobreviva à doença, ele pode transmiti-la de forma sexual, já que o sêmen dele continua contaminado até sete semanas depois dos sintomas acabarem.

Os profissionais de saúde também podem ser responsáveis pela transmissão caso não sigam corretamente as diretrizes de atendimento aos doentes, observando a limpeza dos locais e a não reutilização de materiais.

Qual o tempo de incubação e os sintomas da doença?

Pode levar de dois a 21 dias para os sintomas do Ebola se apresentar. Os principais são febre alta, fortes dores de cabeça, mal-estar, dor de garganta e cansaço, evoluindo rapidamente para hemorragias interna e externa, além de deficiências no fígado e rins.

Qual o tratamento utilizado na pessoa infectada?

Um exame de sangue informa se a pessoa está com o vírus ou não. Caso dê positivo para o Ebola, o infectado deve ficar em sistema de isolamento no hospital por pelo menos três semanas para evitar a transmissão do vírus. Durante esse tempo o paciente recebe hidratação por meio de soro, transfusão de sangue, a pressão arterial é controlada e infecções que poderão surgir também são tratadas. Apesar dos cuidados, a chance de morte do atual surto é de 60%.

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Outros métodos para a cura do Ebola têm sido estudados. Mas até o momento nenhum remédio ou vacina está sendo produzida em grande escala para tratar os quase dois mil infectados da África Ocidental.

Atualmente dois americanos, um médico e uma enfermeira infectados na Libéria, receberam uma substância que poderá ser uma ajuda na cura da doença. O remédio foi desenvolvido pela empresa Mapp Biopharmaceutical Inc., da Califórnia, e só havia sido testado em macacos. Ele é feito a partir de anticorpos de ratos infectados pelo vírus Ebola. Os anticorpos produzidos pelos ratos são administrados aos pacientes e têm como objetivo impedir que o vírus infecte as células saudáveis do corpo.

Centros de pesquisas americanos testam em humanos uma vacina experimental contra esse vírus tão mortal. Se tudo correr bem, até 2015 os trabalhadores da saúde, que são os que mais têm contato com a doença, serão imunizados.

Se a pessoa sobreviver ela terá uma vida normal?

Apesar do alto índice de mortalidade, muitas pessoas conseguem curar-se da doença. O site da organização humanitária internacional Médico Sem Fronteiras tem relatos de médicos, que você pode ler aqui, descrevendo a emoção de dar alta aos pacientes curados. Mas nem tudo é só alegria. De acordo com o médico brasileiro Maurício Ferri, que esteve por dez dias em Serra Leoa, muitas pessoas curadas acabam sendo excluídas das famílias e da própria comunidade. Segundo ele, pacientes que recebiam alta pediam um “certificado de cura” para mostrar aos parentes e amigos.

A cura é diagnosticada por meio de um exame de sangue que apresenta ou não o vírus ativo na pessoa.

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Algumas sequelas da infecção podem ficar, como inflamações crônicas nas juntas (atralagia) e nos olhos (uveíte). Essas consequências são resultado do trabalho do sistema imunológico tentando expulsar o vírus.

Como prevenir-se do vírus Ebola?

Higiene é a palavra chave para a prevenção. Para isso é preciso:

  • Lavar as mãos com água e sabão constantemente;

  • Utilizar álcool em gel nas mãos;

  • Não entrar em contato com o sangue e fluidos de pessoas contaminadas;

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  • Não frequentar os locais com surto do vírus;

  • Isolar os pacientes;

  • Limpeza adequada das superfícies onde os infectados tiveram contato;

  • Uso de máscaras, luvas e aventais pelos profissionais de saúde e descarte apropriado de materiais médicos;

  • Não ter contato com animais contaminados (morcegos-da-fruta, chipanzés, gorilas e alguns roedores), vivos ou mortos. Inclusive não se alimentando deles.

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Qual é a possibilidade de um surto no Brasil?

O Brasil não está na rota da doença. Nos últimos quarenta anos, desde a descoberta do vírus Ebola, os surtos aconteceram apenas no continente africano. O risco só aumentará se casos do Ebola forem confirmados em outros países e, se os locais que já têm a doença, não realizarem o controle necessário de pessoas com suspeita do vírus nos aeroportos e portos.

O que o Brasil tem feito para impedir a entrada do vírus no país?

Além de receber um relatório diário da OMS sobre a situação do surto, o Ministério da Saúde informa que “as equipes de bordo das companhias aéreas que fazem voos internacionais devem notificar as autoridades sanitárias no aeroporto de destino sobre qualquer passageiro que apresente quadro de doença infecciosa durante a viagem. A partir dessa comunicação, é providenciada a remoção desse passageiro e transferência para hospital de referência”. Mensagens sonoras nos aeroportos brasileros também começaram a ser veiculadas com recomendações aos passageiros de voos internacionais.

De acordo com a Portaria Nº 1.271, de 6 de junho de 2014, os hospitais, postos de saúde ou prontos-socorros devem notificar imediatamente às secretarias municipais e estaduais de Saúde e ao Ministério da Saúde, caso encontre pessoas com sintomas da doença e que tenha chegado dos países atualmente com o surto do Ebola.

Se você tiver que viajar a um dos países com surto, qual é a recomendação?

O Minstério da Saúde também recomenda que brasileiros que tenham viagens aos países com surto evitem qualquer contato com animais e com sangue ou fluidos corporais de pessoas doentes ou falecidas. No caso de atividades profissionais que envolvam a assistência aos doentes e familiares ou que impliquem em contato com animais ou tecidos extraídos de animais, é preciso adotar as medidas de biossegurança apropriadas.

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Caroline Canazart

Caroline é uma jornalista catarinense que optou por ser mãe em tempo integral depois do nascimento dos filhos. Ama escrever e ainda acredita que pode mudar o mundo com isso.