Inspirando os filhos a gostarem de literatura brasileira
Monteiro Lobato, Machado de Assis, Guimarães Rosa, Carlos Drummond... tantos escritores incríveis no Brasil. Como inspirar seu filho a gostar de literatura brasileira.
Stael Ferreira Pedrosa
Tenho a sorte de ter nascido em uma família onde a maioria ama a leitura. Lembro-me desde pequena ao ver minha mãe lendo gibis e fotonovelas. Meu pai lia livros sobre política, teoria da conspiração, óvnis e os mais variados assuntos. Cresci gostando de ler tudo, até mesmo bula de remédio e rótulo de xampu.
Creio que minha maior motivação tenha sido o fato de meus pais simplesmente lerem. Nunca nos forçaram a ler. Apenas, percebíamos que aquilo era prazeroso para eles e fomos seguindo o exemplo. Meu pai me estimulava a ir além dos gibis. Deu-me alguns livros não muito próprios para minha idade, por isso às vezes eu exagerava um pouquinho. Não é comum ver uma menina de treze anos andando com um livro de Helena Blavatski debaixo do braço ou Os protocolos dos sábios de Sião. Mas essa era eu. Lia tudo o que me caía às mãos.
Aos poucos, fui descobrindo os escritores brasileiros. Apaixonei-me por eles: Guimarães Rosa, Machado de Assis, Autran Dourado, Olavo Bilac, Drummond e tantos outros. Um leque de situações, paisagens e épocas foram se abrindo à minha frente. Andei pelos Grandes Sertões, com Riobaldo e Diadorim. Apaixonei-me pelo capitão Rodrigo, enquanto O Tempo e o Ventopassavam. Tive O Encontro Marcado com uma geração anterior à minha e Yorick sorria. Conheci as duras Vidas Secas de Fabiano e sua família e também chorei quando Baleia morreu. Hoje digo a meus filhos: “Meninos, eu vi…” a terra, a luta, o homem nos Sertõesde Canudos. Vi Emíliajogar no ar o pó de pirlimpimpim e voar através da imaginação. Tudo isso eu vi sem sair do lugar.
O primeiro livro que li foi “A Escrava Isaura” de Bernardo Guimarães. Conseguia imaginar as roupas, os costumes, a beleza de Isaura como se estivesse ao seu lado. Ler se tornou minha janela para o mundo.
Mas e meus filhos? Terão essas mesmas sensações? Viajarão no tempo e no espaço como eu? Como posso fazer com que amem a literatura brasileira? Apenas faço o que sei fazer: Eu leio os autores nacionais. Meus filhos sempre me veem lendo, sempre tenho um livro à cabeceira. Isso desperta sua curiosidade. Perguntam-me sobre o livro, por que eu leio sempre, e isso me dá oportunidade de lhes mostrar minha paixão. Falo entusiasticamente sobre meus livros.
Eu lia e ainda leio para eles. Compartilho partes do que estou lendo. Sempre que acho uma parte interessante, eu compartilho. Eu lia para eles quando ainda não sabiam ler. Lia revistinhas, lia livros, escrituras sagradas, lia o mundo com eles e para eles.
Eu compro livros e filmes nacionais para eles. Meus filhos sempre tiveram certa tendência para engordar e a pediatra me deu uma dica: quando quiser agradá-los, não dê guloseimas, dê uma revistinha, um gibi, um livro, um filme, papéis e lápis de cor. Excelente ideia. Hoje, eles me pedem CDs de games… Paciência. Mas ainda gostam de ler e leem sempre. Se o dinheiro anda curto para comprar livros, é possível fazer o download (legalmente) no site dominiopublico.gov de graça. Aproveite!
Eu contava histórias para eles. Desde que eram bem pequenos, pediam-me para contar história antes de dormirem, isso sempre foi um desafio para mim, tinha que contar a história em pé ou sentada na ponta da cadeira, senão dormia primeiro que eles. Mas, consegui contar muitas histórias ainda que através de cutucões e chamadas: “Mãe, você dormiu.” Suas favoritas eram a do Saci e da Cuca (Monteiro Lobato), historinhas da Turma da Mônica (Mauricio de Souza). Também cantávamos músicas infantis de Vinícius de Moraes – plunct-plact-zum e O pato pateta. Quando me perguntavam como eu sabia aquelas histórias, eu dizia: “Li nos livros.” Eu sentia que eles queriam aprender a ler.
Eu os levava ao cinema. Eles gostam ainda quando os livros que leram ou gostariam de ler viram filme. O Auto da Compadecida (Ariano Suassuna) é seu favorito. Repetiam todas as falas principalmente as mais engraçadas. Também gostaram de ver Lisbela e o prisioneiro e Dom Casmurro.
Uma ótima dica para as crianças e adolescentes mais resistentes é começar pela série: “Para Gostar de Ler” Ed. Ática. São livros de crônicas curtas, engraçadas e de fácil assimilação. Trazem grandes autores brasileiros como: Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e Rubem Braga. São tão gostosos de ler, que seus filhos vão pedir mais.
Meus filhos agora são crescidos e conversamos sobre livros, política, costumes, música, cinema e artes. Eles são bem informados, falam e escrevem bem. É gratificante.