O desafio da educação para um novo tempo

Reflexões de Ivone Boechat sobre a educação no Brasil.

Ivone Boechat

A humanidade está evoluindo, emocionalmente, na velocidade da tartaruga, frente à tecnologia que ultrapassa qualquer previsão, na velocidade da luz! Quem não estiver disposto a rever conceitos, mas, sobretudo, assumir uma postura de maturidade emocional, frente a tantos desafios que a modernidade proporciona ao homem, ficará à margem do processo.

A pessoa que compõe a estatística de qualquer tipo de analfabetismo – e são muitos os tipos – tem vida, conforto, informação, recursos extraordinários mas não é capaz de ler, interpretar e tomar posse da modernidade. Se alguém escapa do analfabetismo da leitura e da escrita, com certeza, pode estar sofrendo como analfabeto funcional, analfabeto virtual, analfabeto político, analfabeto emocional, analfabeto social, analfabeto espiritual… etc, etc, etc. Isto se parece muito com aquela velha história do burro na porta do palácio.

Hoje, aos vinte, trinta anos, se o cidadão parar de aprender, está fora da concorrência. Aos 90, se estiver sintonizado com a evolução e fizer parte dela, como sujeito e objeto da história, não sai da concorrência: é consultor dos fracos e oprimidos! Logo, quem está do lado de fora da roda do aprendizado e do crescimento constante, deve voltar, imediatamente. O perfil do profissional é baseado na qualidade essencial. Maisoumenos morreu afogado no mar da tecnologia. Foi substituído pelos modernos gestores do tempo, do conhecimento, da informação… O eficiente tropeçou no eficaz que é capaz de fazer o impossível. O homem multifuncional, preparado para exercer numerosas atividades profissionais, deixou o especialista acomodado para trás, especializando-se no brechó

As escolas devem se organizar para receber crianças cada vez menores e tratar de se estruturar como casa de educação. Chega de empresas que vendem diploma a preços absurdos e salvem-se aquelas instituições que têm a capacidade de formar cidadãos para promover a revolução das consciências e organizar uma sociedade pacífica, feliz, adaptável, sim, porque o adaptado sucumbiu!

As escolas devem ainda se preparar, urgentemente, para oferecer cursos de formação e atualização para pessoas maduras. Quem não se programar para entrar no contexto perderá a grandiosa oportunidade de participar da Era mais fantástica da humanidade. As universidades estão recebendo estudantes com idades bem superiores, ultimamente. E tende a aumentar.

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O Brasil está cotado para ser o 4º país do mundo em número de idosos. O conceito de velho como sinônimo de doença, tristeza, abandono, tralha, desesperança, deve ser revisto. A palavra velho serve para significar coisas velhas, enguiçadas. A palavra idoso é sinônimo de bênção da longevidade. No Dia Internacional do Idoso, organizam-se eventos, com a presença de conferencistas especializados. Raramente, eles se lembram de ajudar a mobilizar a motivação e resgatar a autoestima dos convidados. De modo geral, os assuntos giram em torno do pessimismo, depressão, estresse, próteses, espinhela caída, trombose, trombada, cadeira de rodas, muletas, piriri, tosse noturna, bexiga arriada, artrose, mal disso, mal daquilo e daquilo outro… Há outros consultores que se especializaram em assombrar só com notícias ruins, ou seja, anunciam tantos horrores, dando a impressão que, se o idoso se livrar daquilo tudo, pode não escapar da bala perdida, da guerra, das batidas no trânsito, do arrastão, enfim… só desgraça, do INSS-assobração que só se desencarna a sete palmos de terra. A “filósofa” Dercy Gonçalves, do apogeu dos 100 anos orientou: “Se você cair num buraco, dê graças a Deus se não tiver terra por cima.”

Quando o ser humano e, claro, também o idoso comparece a uma conferência ele quer ouvir assuntos que o deixe animado, pronto a sair dali e programar aquela viagem adiada, retomar um projeto esquecido, fazer um curso, escrever um livro, inscrever-se num concurso de poesias, enfim, estimulado a prosseguir, a valorizar a vida, a ser fiscal da natureza – profissão na última moda! As empresas que ainda não acordaram e não se prepararam para atender, no momento, a milhões depessoas com idade acima de 65 anos, vão falir. A demanda vai dobrar dentro dos próximos anos. Se uma jovem senhora vai hoje a um shopping comprar roupa, seja para dias comuns ou para uma festa, é um horror. As roupas bonitas, modernas, não têm numerações que ultrapassam o manequim 44. As outras roupas, chamadas senhoris, são da cor bege, preta, marrom, cinza, de florzinha e, na maioria das vezes, ridículas, sem a mínima criatividade, tipo assim capa de botijão. Não existe meio termo. Ou a pessoa sai de paetê até debaixo do braço…

Quando alguém completa 70 anos é muito comum se organizar uma festa. Na cerimônia de comemorações, sublinham-se alguns versos do Salmo 90, (cuja autoria é atribuída a Moisés) que são lidos para advertir, assustar, ameaçar, amedrontar, apontar ao aniversariante as setas para a reta final. O orador com aquela voz de relações públicas de necrotério lê: “A duração de nossa vida é de 70, 80 anos o que passa disto…” Mas é bom esclarecer que Moisés escreveu este Salmo, imaginando que sua vida estaria chegando ao fim. Ele estava passando pela crise dos 70. Somente aos 80 anos o salmista iniciou o processo de retirada do povo de Israel do Egito e a missão se estendeu por mais 40 anos. Aos 120 anos, Moisés morreu e o seu substituto, Josué, com 85 anos foi nomeado, com palavras divinas de fortalecimento: “Tão-somente esforça-te e tem mui bom ânimo”. (Js 1:7).

Portanto, o maior desafio de qualquer tempo é aprender a viver. Que valor tem a vida sem projeto de vida? É preciso traçar regras de bem viver, estabelecer prioridades, administrar o tempo, gerir informações, competência emocional para reconhecer e controlar as emoções, e aprender a autoestimular a produção dos hormônios que formam o padrão químico do bem-estar. Se você é educador, antes de procurar o valor de x, invista 5 minutos diários ensinando sobre o VALOR DA VIDA!

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Ivone Boechat

Ivone Boechat é Consultora em educação, PhD Psicologia da Educação, Mestre em Educação, possui 17 livros publicados e é Membro da Academia Duquecaxiense de Letras e Artes-RJ.