Foi apenas uma topada: Quando meu filho pode voltar a jogar?

Sempre achei que o futebol fosse um esporte mais tranquilo; não tão violento como o futebol americano, o rúgbi ou o hóquei, que são esportes em que há uma maior chance da ocorrência de ferimentos tão

Tres Ferrin

A bola subiu bem alto depois de ser lançada pelo pé da zagueira e iniciou sua descida em direção ao meio do campo. Uma jovem e atlética “meio-campo” de aproximadamente 14 anos de idade seguiu o voo da bola e se posicionou para cabecear a bola e enviá-la na direção oposta.

A bola caiu rapidamente e acertou a jovem jogadora logo acima dos olhos, bem no meio da testa. A cabeça e o pescoço absorveram a força do impacto e o corpo da jovem se curvou depois que ela deu dois ou três passos para trás e caiu de joelhos. Observei-a enquanto ela hesitou por alguns instantes, tentou se levantar e caiu de joelhos novamente.

Por fim, e com certo esforço, ela se levantou, cambaleou em direção à lateral e disse ao treinador: “Estou bem, só fiquei um pouco atordoada. Me dê só um minuto e volto ao jogo”.

Sempre achei que o futebol fosse um esporte mais tranquilo; não tão violento como o futebol americano, o rúgbi ou o hóquei, que são esportes em que há uma maior chance da ocorrência de ferimentos tão graves como um traumatismo.

Não sei qual foi o resultado do ferimento naquela jovem, mas a força do impacto me impressionou o suficiente para que eu desejasse pesquisar o assunto. Descobri que há uma chance de 19 por cento de que um jovem que participa de esportes de contato sofra um traumatismo craniano no período de doze meses.

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Conselho de um especialista

O Doutor Steve Scharmann, PhD em Medicina, é membro do corpo docente do Programa Porter de Medicina Familiar em Ogden, Utah, membro da equipe médica da Universidade Estadual de Weber e atuou como Diretor Médico dos Jogos de Inverno de 2002 em Salt Lake City, Utah.

Segundo o Dr. Scharmann, se há a suspeita de que seu filho tenha sofrido um traumatismo craniano, a primeira coisa a fazer é procurar indicações de que haja uma fratura no crânio, danos sérios no pescoço ou uma queda na condição neurológica da vítima. “Se você perceber qualquer alteração no comportamento, se o jovem vomitar, apresentar tontura, visão dupla ou torpor excessivo, leve o atleta à sala de emergência mais próxima o mais rápido possível; não demore”, aconselha o especialista.

E ele completa: “Se um atleta teve um traumatismo craniano não se deve deixá-lo retornar à partida. Alguns traumatismos se curam em uma, outros em duas semanas, mas alguns precisam de três semanas para ser curados”.

Seis pontos que um atleta deve alcançar antes de voltar a competir

Deve haver pelo menos 24 horas entre cada estágio, e o atleta deve retornar ao primeiro estágio se os sintomas reaparecerem a qualquer momento durante o processo. O tempo mínimo que um atleta com traumatismo craniano deve ficar fora das competições é duas semanas.

1. Repouso a dequado

O atleta deve observar repouso físico e mental. Isso significa que não deve ir à escola, fazer lição de casa, ver TV nem usar o computador.

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2. Atividade aeróbica leve

Quando os sintomas desaparecerem, o atleta pode participar de exercícios aeróbicos leves, como em bicicleta ergométrica, por exemplo.

3. Exercícios esportivos específicos

Se o atleta tolerar bem as atividades leves, ele pode passar a praticar atividades esportivas específicas como, por exemplo, o lançamento de bolas.

4. Sem exercícios de contato

Depois, o atleta deve passar a praticar exercícios sem contato físico, como corridas, jogging e outros exercícios leves de resistência.

5. Práticas de contato

Depois de ser liberado dos medicamentos, o atleta pode retornar aos exercícios de contato.

6. Retornar à competição

Caso não tenha mais problemas, o atleta pode retornar à competição plena. Os pais precisam entender que o traumatismo é um dano à fisiologia do cérebro; não é um dano que pode ser visto em exames como a tomografia computadorizada, a ressonância magnética ou o raio-X. O resultado negativo em qualquer um desses exames não significa que o atleta deve ser liberado para jogar, se ele ainda tiver os sintomas de um traumatismo craniano.

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Síndrome pós-traumatismo craniano

Segundo o Dr. Scharmann, a síndrome pós-traumatismo craniano é o termo usado para sintomas que duram mais de três semanas. Nesses casos, os sintomas podem durar meses, o que pode fazer com que o atleta perca uma temporada ou mais de jogos. É importante que o atleta que esteja sofrendo dessa síndrome seja tratado por um médico com experiência no tratamento desse tipo de traumatismo.

Síndrome do segundo impacto

Um dos temores de se permitir que o atleta retorne à prática esportiva logo após sofrer um traumatismo craniano é o risco da Síndrome do Segundo Impacto. Podem ocorrer consequências devastadoras quando um atleta sofre um segundo traumatismo craniano antes de estar completamente curado do primeiro. Felizmente, essa condição é rara, mas é fatal em 50 por cento dos casos e as pessoas que sobrevivem geralmente sofrem deficiências neurológicas por toda a vida.

Teste “ImPACT”

Algo que o Dr. Scharmann defende que os pais devem realizar é um teste de diagnóstico, chamado Teste ImPACT, assim que seus filhos começam a participar de esportes. O teste, que é válido para crianças acima de 10 anos de idade, é feito em um computador e geralmente leva por volta de 30 minutos. O resultado do teste inicial serve como um controle para ser comparado com outros testes após a ocorrência de um traumatismo. Ele fornece aos médicos informações que podem ser usadas para se verificar o processo de cura. As informações fornecidas pelo teste são objetivas e ajudam a determinar quando um jovem pode retornar à prática do esporte. O teste — que está disponível em toda a extensão dos Estados Unidos da América — é oferecido mediante o pagamento de uma quantia simbólica.

O impacto dos traumatismos cranianos é sério e importante — é algo que os pais de jovens atletas devem levar a sério.

É muito prazeroso assistir nossos filhos e netos na arena de jogos. A alegria de estar nas arquibancadas é inexplicável, mas é preciso lembrar que a segurança deles é ainda mais importante.

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_Traduzido e adaptado por Wagner Vitor do original It’s just a concussion: when can my child go back in the game?, de Tres Ferrin

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