A mãe que sonhei ser… Mas não sou!

Antes de ser mãe, eu tinha solução para tudo e seria uma mãe perfeita. Depois de ser mãe... Tudo mudou e eu não sou, nem nunca serei, a mãe que sonhei ser.

Mirela Acioly

Este artigo foi publicado originalmente no blog De Mãe para Mamãe e republicado aqui com permissão.

Antes de engravidar, eu levava a vida sonhando com a maternidade.

Ser mãe foi um sonho que começou cedo. Conta a minha mãe, que quando me perguntavam o que eu gostaria de ser quando crescesse, a resposta sempre era a mesma:

“Mãe, eu quero ser mãe!

Ao longo da minha vida, esse sonho me acompanhou. Aguardava ansiosa a pessoa e a hora certa para tornar real o meu maior desejo, mas enquanto nem a pessoa nem a hora certa chegava, eu vivia sonhando e fazendo planos para o meu “futuro” filho #quemnunca.

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Nossa como era fácil ser mãe em sonhos… Ser mãe do filho dos outros então… Era fácil demais.

Eu vivia sonhando com os exemplos que iria dar, vivia imaginando o que faria, e o que não faria…

Depois que casei e liberei para engravidar, foi uma loucura! Eu sofria a cada mês esperando pelo meu positivo. Não via a hora de ver o meu sonho tornar-se realidade! Levei quase um ano para engravidar, e quase enlouqueço tudo e todos que estavam a minha volta, por causa dessa minha obsessão!

Um novo mundo de sonhos invadiu a minha vida, e eu comecei a criar expetativas comigo mesma, quanto a essa nova Mirela que estava prestes a “nascer” junto com o Matheus!

Na minha cabeça, quando meu filho nascesse, eu iria amamentá-lo até ele ter 2 anos, seria bem rigorosa com a rotina dele, e nunca, jamais, não iria permitir que ele substituísse uma refeição por besteiras. Nunca deixaria que ele me levantasse a mão… Gritar comigo então, nem pensar. E fazer birra??? Eu sabia exatamente o que iria fazer no caso de birra, para que nunca mais ele repetisse a “dose” (Quando via alguma criança fazer birra, eu sempre achava que aquela mãe não estava sabendo lidar com algo “tão simples” e na minha cabeça, sempre havia o “pitaco certo”).

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Meu filho iria entrar na natação aos 7 meses, iria ver muito pouco ou quase nada TV/Ipad/Celular, teria apenas os brinquedos essenciais para o desenvolvimento dele, nunca iria comer comida industrializada, etc. etc. etc…. (alguém se identificando com a quantidade de “iria e não iria”)

Ahhhh gente, o que eu mais repetia, quase esqueço!

Meu filho NUNCA na vida iria se acostumar a dormir na minha cama, ou melhor, eu dizia mesmo, que filho meu nunca iria dormir na minha cama! Criança tinha que saber exatamente onde era o seu espaço e o casal precisava manter a intimidade intata.

Por fim, meu filho NUNCA teria uma babá!

Pois ééé…

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Meu filho nasceu, e a maternidade fez com que eu quase ficasse sem língua de tanto que a mordi!

Expectativas muito altas antes e durante a gravidez nos fazem sentir piores mães do que aquilo que achamos que somos quando o bebê nasce, sabiam?

Você constrói na sua cabeça uma mãe que não existe! Você lê num blog um tipo de mãe, lê em livros um outro tipo, em novelas mais um, isso sem deixar de contar que você tem o maior exemplo, que é a sua própria mãe. E aí o que você faz? Mistura todas as mães que conhece, e monta a mãe perfeita.

Por aqui não foi diferente!

Eu queria ser a _mãe perfeita_!

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Eu queria ser aquela mãe que começaria por tentar um parto normal, que chegando em casa, o filho dormiria logo no seu próprio quarto.

Eu queria ser aquela mãe que todo o dia faz a papinha para o filho, e que tem sempre uma refeição caseira fresquinha, pronta para levar quando fizesse uma refeição fora de casa.

Eu queria ser aquela mãe, que sabe o que fazer na hora de um escândalo. Aquela que acorda feliz no meio da noite, amamenta sentada sem nem piscar os olhos, e volta pra cama mais feliz do que quando levantou.

Eu queria ser a mãe cujo filho nunca a iria ver irritada, muito menos sem paciência!

Queria conseguir levar todo o final de semana o meu filho para uma atividade cultural, para estimulá-lo a gostar de coisas intelectuais no futuro, e isso desde que ele fosse bem novinho, tal como sair todo o sábado de manhã para a hora do conto da livraria perto de casa!

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Eu garanto que queria ser a mãe que todo o santo dia conta uma historia na hora de dormir para o filho, que sempre sabe falar num tom baixo, firme e meigo para orientá-lo nas crises de birra…

A mãe que acostumou o filho a tomar banho e a dormir todo o santo dia nos mesmos horários…

A mãe que está sempre arrumada para o marido, e que sempre está disposta a brincar com o filho!

A que se vira nos trinta e consegue fazer mil e quinhentas coisas bem feitas, que nunca teve que colocar o filho para dormir sacolejando o pobre até quase seus braços caírem com o peso do pequeno, tudo porque não conseguiu acostumar o filho a dormir sozinho…

Queria ser a mãe que depois que o filho dorme, deixa de ser mãe e passa a ser mulher!

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Eu queria tanto. Mas não sou!

Eu sou uma mãe como tantas outras que conheci. Eu sou uma mãe comum!

Sabe aquela mãe que perde a paciência com o choro sem motivo do filho? Que fica desesperada quando sabe que ele está com dor, mas não pode fazer nada? Que se desespera na hora que o pau pega de verdade e a única coisa que tem vontade é se sair correndo, gritando desesperada com os braços no ar?

Eu sou o tipo de mãe, que quer gritar palavrão quando tá irritada e morde a língua pra não falar na frente do filho, mas assim que o filho não está por perto, solta até os que a língua portuguesa desconhece!

Eu sou aquela mãe que colocou o filho pra dormir na sua própria cama, para poder amamentá-lo no meio da noite quase sem acordar e que no dia seguinte lembrou que não colocou ele para arrotar… E se colocou, não lembra!

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Eu sou aquela que, na hora que o filho faz birra, se sente a pior mãe do mundo, porque a única coisa que tem vontade é de dar umas palmadas, e como não quer nem pode dar, fica sem saber qual a solução mais rápida e acha que nunca vai conseguir acertar na educação do filho!

Sou a mãe que amamentou o filho olhando no celular ao mesmo tempo, que liga a TV e coloca uma galinha pintadinha só para poder descansar e ficar de bobeira!

Sou a que até o filho andar, soube enrolar ele pra mantê-lo pelo menos entre quatro paredes brincando, mas num ato de desespero e exaustão deu um aumento à secretária para que ela começasse a ajudar com as coisas do pequeno, e hoje se arrepende, mas não consegue mais voltar atrás!

Já falei que sou a mãe que deixou seu filho dormir mais vezes na sua cama do que no berço, até ele ter um ano? Pois é… Sou eu!

Esta sou eu… Eu, Mirela, mãe do Matheus.

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Muitas vezes me sinto péssima!

Me sinto falhando na minha tão esperada missão, embora ainda seja muito cedo… Mas tem hora que não sei se vou conseguir me sair bem!

No entanto, de uns tempos para cá, descobri que ser mãe é isto mesmo!

Meu filho recebe todo o amor que consigo dar, recebe toda a minha atenção e o máximo da minha dedicação.

Ele tem limites, escuta nãos, e muitas vezes escuta um pouco mais do que merecia, mas também estou aprendendo a impor limites, e, meu Deus, como isso é difícil!

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Se pensarmos bem, sou mãe tem pouco tempo. Tudo é novidade… Afinal, sou mãe de primeira viagem e não estou treinando um robô. Estou educando um ser humano, que a cada dia que passa, revela ter gostos e vontades próprias. Ser humano esse, que a cada dia que passa, aprende uma nova forma de testar meus limites, sejam físicos ou emocionais. Ser humano esse, que foi gerado no meu ventre, tem meu sangue, e teu meu coração!

Se humano esse, que por ter meu coração, me faz oscilar entre a razão e a emoção a cada segundo que passa e por isso se torna tão difícil aplicar nele todas as teorias que antes me pareciam tão óbvias e fáceis de aplicar no filho dos outros!

Sabe o que eu concluo?

Concluo que eu sou a melhor mãe que consigo ser, e errar tentando acertar já é muito bom!

Tenho certeza que meu filho quer que eu seja, exatamente, a mãe que o meu coração está me ensinando e a que eu estou conseguindo ser!

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Mirela Acioly

Dona de um dos mais conhecidos perfis do Instagram sobre maternidade, a blogueira de maternidade Mirela Acioly mostra a maternidade tal como ela é através das suas já famosas Mirelices.