Você não “perde sua liberdade” quando você tem filhos

VIAJE neste relato de um pai ajudando a mãe a cuidar dos filhos gêmeos por uma noite e a doce conclusão que, quando se tem filhos, descobre-se o que significa a verdadeira liberdade.

Matt Walsh

Este artigo foi originalmente publicado no The Matt Walsh Blog e foi reproduzido aqui com permissão do autor, traduzido e adaptado por Stael Pedrosa Metzger.

Esta cena ocorreu há cerca de três meses:

Eram dez da noite, minha esposa tinha acabado de amamentar e parecia exausta. Eu disse a ela para ficar na cama e dormir um pouco. Disse que ficaria na sala de estar com os bebês. Nas primeiras semanas depois que as crianças nasceram, tivemos vários membros da família que vieram ajudar. Mas eles foram todos embora e nós estávamos por nós mesmos finalmente. Minha esposa relutantemente aceitou minha oferta, e agora esta seria a primeira vez que eu ficaria um longo tempo sozinho com as crianças. Bem, eu não estava sozinho em casa, mas eu estava sozinho na sala, o que parecia ser um passo significativo.

Eu tinha tudo planejado. Quão difícil pode ser cuidar de duas crianças por algumas horas? Eu sou maior, mais inteligente, mais rápido, mais forte, tenho a capacidade de andar e falar; percebi que a situação estava a meu favor. Eu tinha um plano: colocar Lucas e Julia dormindo naquelas coisinhas que balançam, em seguida, sentar-me no sofá com minha bebida favorita e assistir ao History Channel. Minha esposa dorme, os bebês dormem, eu relaxo – todos ganham. Plano perfeito. O que há de errado com esse plano? Nada. Nada deve dar errado. É um bom plano.

As coisas começaram a ir ladeira abaixo em seguida. Na verdade, assim que me sentei no sofá, tomei um gole da minha bebida, e soltei um relaxado “ahhh”. Julia decidiu expressar seu descontentamento com o planejamento da noite. Tudo bem – largo a bebida, pego a garota. Ela parou de chorar imediatamente. Eu acho que ela só queria o pai para abraçá-la. Muito doce. Derreteu meu coração. Em seguida, Lucas se manifestou – coloco Julia no bercinho, pego Lucas. Ele para de chorar. Julia chora. Tudo bem – pego os dois. Eu não entendia porque não queriam ficar nos balancinhos. Quero dizer, são oscilações muito legais. Eles vibram, tocam música; eles têm móbiles de peixes ou girafas ou qualquer coisa dessas pendurado. Eu adoraria estar em um balanço assim. Você tem que pagar três mil dólares em Brookstone para o equivalente adulto dessa coisa. De qualquer forma, boa sorte ao explicar isso para os recém-nascidos – O Senhor sabe, eu tentei.

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Então, eu estou segurando os dois. Relaxar é uma causa perdida. Isso já era, Matt, deixe prá lá. Deixe ir. Você teve um longo dia de trabalho e tudo que você quer é um pouco de paz e sossego? Que pena, rapaz. Os bebês não se importam. Eu me resigno a essa realidade, e sorrio enquanto seguro meus filhos bem perto de mim. De repente, o momento de ternura é interrompido pelos sons angelicais de Lucas fazendo cocô. Oh maravilhoso, vaza de sua fralda e suja meu braço. Cara, tá sujando tudo. Ainda bem que ele é meu filho, porque eu normalmente não toleraria ser coberto de excrementos de outra pessoa. Julia deve ter sido inspirada, pois decidiu ir ao banheiro também. Tudo bem é a natureza chamando, certo? Então é só deitá-los no tapete e trocar suas fraldas – onde estão as fraldas? Agora, os bebês estão gritando novamente. Segurem a onda, crianças, papai já vai encontrar as fraldas e os lencinhos umedecidos. Onde ela os guarda? Cadê as fraldas?! O relógio está correndo – oh não, ele está fazendo xixi no tapete. Oh não! Julia ainda está fazendo cocô. Cocô no tapete. Segurem crianças, apenas segurem! Gritar e fazer xixi e cocô ao mesmo tempo; é o caos. ONDE ESTÃO AS FRALDAS? DEUS ME AJUDE, EU VOU CHORAR. Ah, elas estão aqui nesta cesta rotulada de “fraldas.” Tudo bem, trocar os dois. Droga, eu coloquei a de Lucas ao contrário. Legal. Que bom. Tanto faz.

Ufa. Ambas as crianças estão trocadas, sem cocô em mim ou nelas, o esgoto no tapete vai secar eventualmente. O tapete é marrom mesmo, vai dar nada. Os bebês não choram mais, graças a Deus. Estou suando e sem fôlego, mas parece que tudo está finalmente tranquilo no lar da família Walsh. Ah, olha só tá passando Trato Feito na TV e alguém está tentando vender bermudões autografados de John Wayne ou algo assim por um milhão de dólares. Isso vai ser interessante. Adivinha só, Julia começa a gritar de novo. O melhor que posso dizer é que está chateada já que ela fica batendo-se no rosto com a própria mão como um doente mental. Tentei resolver a questão verbalmente, usando minhas habilidades de resolução de conflitos. “Julia, esta é sua mão, e esse é o seu rosto, pare de fazer os dois se chocarem.” Sem sorte, ela não está me escutando. Calma, coloque Lucas no tapete e coloque uma camisa de força nela. Mas agora Lucas também está chorando. Acho que são gases. Então lá estou eu enrolando Julia em um cobertor com a mão esquerda, enquanto faço Lucas arrotar com a minha direita. Oh, Jesus me salve, agora ambos estão gritando como loucos. Eu não posso segurar os dois e fazê-los arrotar ao mesmo tempo. Deixe-me tentar deitá-los nos meus joelhos e dar tapinhas nas… Oh droga, Julia quase caiu do meu colo. MEU DEUS, ELA PODERIA TER SE MACHUCADO GRAVEMENTE. EU SOU UM MAU PAI.

Eles ainda estão gritando. O que posso fazer? O que vocês querem, bebês? DIGAM-ME O QUE VOCÊS QUEREM E EU DAREI A VOCÊS. Eles não estão com fome, eles não estão com gases, eu já os troquei. Por que estão chorando? Os bebês choram sem motivo? Cadê os livros do bebê da Alissa? Deixe-me verificar isso. Mas também não adianta. Por favor, bebês, parem de chorar. Tenham misericórdia de mim.

E até agora, exatamente 13 minutos haviam se passado desde que a minha esposa foi para a cama.

Finalmente, depois de duas horas, eu trouxe as crianças de volta para a mãe para a sua próxima sessão de amamentação. Ela olha para mim e percebe que eu estava esgotado e derrotado. Eles me quebraram. Amassaram-me completamente. Nocaute no primeiro round; não havia como negar. Quando minha esposa começou a amamentá-los, eu voltei para a sala de estar e, simplesmente por princípios, bebi a minha largada bebida quente. Eu percebi que ainda tinha algum cocô no meu braço, mas eu não me importei. Fiquei lá com a minha bebida em temperatura ambiente e meus braços sujos de cocô, e eu ri, porque o que mais se pode fazer?

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Eu não sei se isso é o pior que se pode esperar, mas eu imagino que pais de gêmeos sempre terão uma história semelhante para contar. A curva de aprendizagem é difícil, mas você consegue mais rapidamente do que pensa, especialmente com gêmeos. Eu ainda tenho um longo caminho a percorrer, mas estou feliz de informar que eu tenho cuidado dos bebês individualmente muitas vezes, e eles não me derrotaram daquele jeito novamente. Eu não sou o pai super-herói que minha esposa é, mas eu faço o que posso. Eu gosto de pensar que sou prestativo, no mínimo.

Além das fraldas sujas e do choro

Eu sei que não se deve florear as coisas, mas eu também não quero pintar a minha experiência de pai como apenas um desastre coberto de cocô após o outro. O problema é que qualquer pessoa pode facilmente descrever as coisas estressantes; as coisas boas, por outro lado, são muito mais difíceis de ilustrar. Difícil só porque elas são muito profundas, transcendentes e imensuráveis. Posso falar sobre o amor, a alegria e a beleza, mas mesmo essas palavras não conseguem traduzir o que sinto por meus filhos. Afinal de contas, eu usei o “amor” ao discutir sobre minha churrascaria favorita, e “alegria” ao falar sobre o Ravens vencer o campeonato no ano passado, e eu até disse “que era uma beleza” ontem, quando joguei com sucesso uma bola de papel na lixeira do outro lado da sala. Eu desperdicei todas essas palavras em alimentos e esportes, e agora estou sem nenhuma palavra que possa até mesmo chegar perto de comunicar o que significa para mim, ser pai.

Sei que o que as pessoas dizem sobre “perder a sua liberdade” quando se tem filhos, é besteira. Temos uma noção pateticamente superficial de liberdade, e que se reflete perfeitamente através desta reivindicação comum de que você a perde quando tem filhos.

A liberdade real

Claro, se a “liberdade” é apenas “a habilidade de ir a lugares e fazer coisas com o mínimo possível de confusão”, então, sim, você perdeu isso. Você não vai perder permanentemente, mas por um bom tempo. Esta é uma fraca, frágil e flácida visão de liberdade. Eu acredito que ser livre seja mais do que ter férias e flexibilidade financeira. Vi ambos os lados. Eu vivia completamente sozinho até meus vinte e cinco anos, então eu sei sobre esse tipo de liberdade. Eu sei sobre isso, e eu posso honestamente dizer que eu me sinto mais livre agora do que antes. Se eu não tivesse uma família, eu poderia sair em um cruzeiro, ou mudar-me para Vegas, ou ir a Paris se eu assim o desejasse. Na verdade, eu poderia ir a qualquer lugar do globo. Mas eu só seria “livre” para viajar fisicamente. Agora, eu posso viajar mais profundamente. Eu sou livre para ir mais fundo na existência e ter experiência sobre coisas que mudam a vida, que são mais enriquecedoras, transformadoras e emocionantes que mil férias para milhares de locais exóticos. A maior liberdade que temos como seres humanos é a liberdade de mudar. Eu não estou falando sobre a mudança de cenário, eu estou falando de mudar a nós mesmos. Ter filhos é realmente uma mudança de vida; ter tempo livre não é. O que digo não pretende ser um ataque a pessoas sem filhos e cônjuges; eu estou apenas esclarecendo um ponto. Eles não são mais livres do que os que têm filhos.

A verdadeira liberdade vem apenas do amor

Quando se tem filhos, sente-se um amor que nunca se havia experimentado antes, e nem poderia e que se torna o tipo mais verdadeiro de liberdade.

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E isso é tudo que eu posso dizer. Lamento se decepciono. Posso contar sobre as minhas experiências limitadas, e eu posso oferecer minha visão escassa, se é que vale a pena. Mas eu não posso dar qualquer conselho. Quero dizer, eu posso dar conselhos, mas eu não vou fazê-lo. Não me acho suficientemente credenciado para começar a escrever colunas de conselhos aos pais. Talvez depois que eu melhorar meu currículo como pai, mas agora sou muito cru. Eu sou um novato. Sou pai há apenas quatro meses. Eu não posso ensinar alguém como escalar uma montanha, quando ainda estou a apenas seis metros da base. Além disso, dar conselhos aos pais é uma grande responsabilidade e pressão. E se eu der as sugestões erradas, e algum pai segui-las, e por causa do meu mau conselho os seus filhos crescerem e se tornarem traficantes, ou terroristas, ou ventríloquos ou algo assim? Eu não posso andar por aí com essa culpa sobre os meus ombros.

Não se preocupem, há uma abundância de pessoas por aí mais do que dispostas a dar conselhos aos pais. Muita gente, na verdade – os pais, os que não são pais, os políticos – todos eles têm ideias de como você deve criar seu filho. Basta caminhar em uma sala e dizer: “Eu vou ser pai”, e imediatamente um bando de idiotas vai descer de rapel do teto, subir através dos dutos de ar, quebrar as portas, e formar um enxame ao seu redor para dar um bilhão de diferentes perspectivas conflitantes sobre como você deve lidar com cada aspecto solitário da paternidade.

Cuidado com os conselhos dados mídia afora

Somos uma sociedade pobre em sabedoria, mas rica em conselhos. Temos uma escassez de conhecimento e entendimento, mas um excesso de “é assim que você deve fazer”.

Recentemente fui a uma livraria procurar um livro de um teólogo chamado Dietrich Von Hildebrand. Para minha surpresa, a loja não tinha uma seção de teologia – mas tinha cinco filas de aconselhamento e livros de “autoajuda”. De fato, eles não tinham prateleiras dedicadas à astronomia ou poesia ou filosofia, também. Mas tinham conselhos. Montes e montes de conselhos.

Longe de mim querer juntar a minha voz insignificante as desses especialistas.

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O único conselho que vou dar é: cuidado com os conselhos que são dados. Só porque alguém é pai ou mãe não significa que tenha todo o conhecimento para dar uma aula sobre o assunto. Da mesma forma, só porque você tem um carro não significa que eu deveria perguntar-lhe como consertar meu radiador. Você não tem que ser um mecânico para simplesmente adquirir um automóvel, e você não tem que ser um pai competente para se reproduzir. Pessoalmente, em qualquer área da minha vida – como pai, radiodifusor, ou blogueiro – eu encontrei um grupo muito seleto de pessoas experientes, cujo talento, experiência e autoridade nessas áreas eu respeito, e eu ouvia atentamente (mas não necessariamente seguia) a sua orientação e instrução. Para todos os outros eu dou um aceno educado, e, então, prontamente ignoro tudo o que dizem.

Claro que agora eu apresentei um paradoxo dando o conselho de que você não deve ouvir conselhos. Eu não sei. Talvez eu deva aplicar esse conselho só a mim. Como eu disse, eu estou longe de ser um especialista.

Agora, estou dando conselhos para não seguir o meu conselho sobre não aceitar conselhos. Eu vou parar enquanto eu ainda faço sentido. (Tarde demais, eu sei).

Atenciosamente,

Matt

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Matt Walsh

Matt Walsh is a husband, father and teller of the absolute truth.