Os mitos sobre a discalculia, disortografia e disgrafia

O que era antes visto em muitas crianças como "preguiça ou desleixo", hoje é conhecido como dislexia, ou seja, uma dificuldade de aprendizado.

Roberta Preto

Em 2014, minha irmã foi chamada para uma reunião na escola onde meu sobrinho frequentava. Ele estava com muitas dificuldades de aprendizado. Por mais que os professores se esforçassem, ainda sim, ele era o aluno com as notas mais baixas de sua sala.

Minha irmã ficou brava com ele, dizia que se ele entendia tanto de cavalos e bicicletas como um profissional, também poderia ter boas notas. Sim, isso a deixava muito irritada, pois pensava ser desleixo dele. Até que a diretora que sempre fora uma mulher muito sábia “abriu os olhos” dela e pediu que o levasse a um profissional qualificado para ajudá-lo. Ela também ressaltou que minha irmã estava por fora do real problema. Eu estava lá, presenciei cada palavra e aconselhei minha irmã a seguir suas orientações.

O neurologista e os psicólogos detectaram uma deficiência nele. Sua dificuldade em aprender estava relacionada à dislexia. O problema não foi curado, mas a maneira como está sendo visto tem colaborado para ele tornar-se um aluno melhor, pois agora existe uma ajuda para ele. Tanto os professores quanto os pais estão mais atentos a cada dificuldade e estão o ajudando neste processo.

O mais importante é que ele não precisa mais passar por isso sozinho. Ele tem uma família e profissionais qualificados para orientá-lo. E nem outras crianças também precisam passar sozinhas por esses mesmos problemas, como muitos já passaram. É essencial que os pais participem ativamente da vida dos filhos, seja em casa ou seja na escola, a obrigação é sempre a mesma.

Atualmente, esse é um dos assuntos mais abordados nas reuniões de educadores com os pais: as dificuldades de aprendizado dos filhos dentro das salas de aula. Muitos pais não se atentam a esse problema que antigamente era considerado por muitos como “preguiça ou relaxo” da criança, mas, diante do avanço e da preocupação, muitos profissionais estão cada vez mais especializados no assunto. Felizmente, o atraso no aprendizado é visto de uma forma mais profunda, conhecido como uma dislexia, ou seja, um transtorno na área de leitura e escrita que afeta o processo de aprendizado da criança.

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Sheila Leal é uma psicopedagoga e fonoaudióloga e especialista em dislexia e desenvolvimento infantil. Ela explica de uma forma clara as associações de distúrbios à dislexia e seus mitos. “Precisamos compreender bem estes distúrbios, principalmente para combater o preconceito e ajudar na melhoria da qualidade de pessoas que associam estes transtornos à “preguiça” ou outros rótulos que dificultam ainda mais o processo de superação da criança.”

Os mitos descritos abaixo, estão sendo esclarecidos por ela.

Conceitos matemáticos

A discalculia acompanha alguns casos de dislexia, e significa falta de habilidade com conceitos matemáticos. “A discalculia não deve ser confundida com o simples fato de uma criança não gostar de matemática na escola”, explica. A especialista ensina que a discalculia pode ser vista até mesmo antes de uma criança aprender cálculos matemáticos mais complexos. “Ela pode ser vista a partir dos 4 anos, por exemplo, em crianças que não conseguem aprender a diferença entre horários da tarde e da manhã, ou não consegue se familiarizar com o calendário”.

Segundo Sheila Leal, cada criança difere seu grau de discalculia, alguns leve, outros moderados e há os que sofrem do severo. “O grau do distúrbio também depende muito dos estímulos dados pelos pais, mas infelizmente é muito difícil de diagnosticar, já que existe apenas um teste que ainda não é reconhecido”, explica. Uma das formas de trabalhar matemática com crianças que têm este distúrbio é focando em questões multissensoriais. “O professor terá que colocar os sinais matemáticos em cores diferentes, assim como usar a criatividade para fazer associações de cálculos e números com objetos e outras brincadeiras, por exemplo”. Ela também pede atenção sobre o valor dos educadores diante do problema: ele só desenvolve se pais e professores não permanecerem em alerta com a discalculia.

Forma ortográfica

Só é possível detectar a disortografia quando a criança não consegue e nem compreende a forma correta de usar as regras gramaticais. Um exemplo disso: “uma mesma palavra pode ser escrita de várias formas: causa; calça; causa… A dificuldade é mais evidente, pois não consegue assimilar as regras gramaticais.” E por mais que pais e professores ordenem que a criança copie a mesma palavra dez vezes, ainda assim, a dificuldade será a mesma, não se trata de incapacidade. “Como ela está associada à dislexia, e este distúrbio ocorre em pessoas com QI médio ou superior, precisamos derrubar esse mito”.

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Sheila alerta que os pais são de grande valor no aprendizado dos filhos que sofrem destes problemas, o papel deles é ainda maior e somente através do apoio e de muitas atividades salutares nos lares eles irão conseguir estimular mais os filhos no aprendizado. “Brincar de forca ou atividades de soletrar, por exemplo, são ótimas brincadeiras”, também acrescenta que: “Você pode brincar com as crianças de começar guardando na geladeira apenas o que tem a letra S, por exemplo”.

As letras e a coordenação motora

A disgrafia está ligado à coordenação motora, e relacionado principalmente com o modo que as crianças escrevem as letras. Sheila Leal diz: “As crianças com disgrafia possuem dificuldade de pegar no lápis da forma correta, aplicam a pressão errada no papel e muitas vezes não entendem o espaço da linha”. Segundo ela, existem muitos casos de disgrafia que os pacientes não compreendem que a escrita deve ser realizada da esquerda para a direita.

“Desde a primeira infância é possível observar se a criança compreende a diferença entre esquerda e direita, e pode ter dificuldade para definir força e direção na hora de chutar uma bola, por exemplo”, conta. Segundo Sheila, a partir dos 4 anos já é possível identificar características da disgrafia, por isso ela sugere algumas atividades que podem tanto ajudar na identificação quanto amenizar os efeitos negativos da disgrafia. “Pedir ajuda dos filhos para colocar a mesa, ou brincar durante o banho pedindo para que lave primeiro o braço direito e depois o esquerdo, por exemplo, são formas de aprimorar a lateralidade do cérebro”.

Sheila Leal também ressalta o valor significativo dos pais com as escolas: precisa haver uma relação. Também é fundamental que os pais estimulem brincadeiras educativas ou que trabalhem a coordenação motora, como escrever com o dedo no vidro do banheiro, por exemplo. A psicopedagoga acredita que o uso de cadernos de caligrafia para crianças com disgrafia não será o suficiente para resolver suas dificuldades, pois linhas muito finas podem representar outros problemas. “No entanto, o uso de tablets e computadores podem ser uma ótima ideia, porque eles têm aplicativos excelentes para treinar a letra e estimular as crianças, e ainda oferecem uma opção para que os alunos digitem em vez de se limitarem à escrita cursiva”, explica Sheila Leal.

Uma de suas muitas observações é que os tablets devem ser utilizados como materiais que complementam a escrita e não substitutos absolutos.

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Roberta Preto

Roberta Preto, 33. Formada como tradutora e intérprete, escritora, mãe. Apaixonada pela vida, em uma eterna busca por conhecimento. Espero que minhas palavras possam ser uma luz na vida das pessoas. Sonho em ajudar a humanidade a tornar-se livre da escravidão da ignorância.