3 dicas para compreender a influência dos vilões na vida das crianças

Desenhos animados, filmes da Disney, tudo pode influenciar as mentes infantis, principalmente os vilões da história. Veja aqui o que fazer como pais.

Mônica Pessanha

As mães sempre me perguntam o porquê dos seus filhos gostarem tanto dos vilões, algumas demonstram que se sentem desconfortáveis com essa admiração pelo malvado enquanto outras mães levam isso como uma grande brincadeira.

O fato é que existe uma influência dos vilões na vida das crianças, e de alguma forma elas transformam essa influência em algo positivo.

Uma das coisas mais interessante nos contos de fadas é o conflito entre o bem e o mal existente nas histórias. É certo que a história não se dá por terminada enquanto tal conflito não seja resolvido. É justamente por meio deste conflito presente nos contos que a criança tem a possibilidade de refletir sobre suas angústias e seus próprios conflitos e aprimorar sua personalidade. Isso porque, ao perceber o confronto entre o vilão ou vilã e o mocinho ou a mocinha na história, a criança coloca-se no lugar de julgamento e então pode encontrar uma solução própria para o conflito pessoal.

Outra coisa que faz com que o personagem malvado seja importante nos contos, refere-se ao fato de a felicidade ser o ponto chave do conflito, porque o malvado tenta de todas as maneiras impedir a felicidade do outro, logo a criança percebe que ser feliz é importante, mas que para alcançá-la teria que produzir boa vontade e esforço.

Assim como na vida real, é fundamental que nos contos de fada e filmes infantis, haja oposição em todas as coisas, logo temos que pensar que um personagem é bom e o outro é mau, esperto e tolo, lindo e feio, e assim por diante. É quase impossível dicotomizar um modelo de pós e contra nos vilões, afinal eles são fundamentais na história contada!

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Os pais não devem ter medo dos vilões e nem privar os seus filhos de terem contato com eles. Isso porque os vilões, assim como os mocinhos, têm muito a oferecer.

Freud disse que o pensamento é uma exploração de possibilidades que evita todos os perigos inerentes à experimentação concreta. Então podemos ficar tranquilos porque a criança vai explorar em seus pensamentos os motivos e as consequências dos vilões, e provavelmente irão perceber que o mal não compensa, ficando a tentativa de imitação das atitudes do vilão fora da esfera da realidade.

Os pais, na maioria das vezes, sentem que os vilões vão tornar seus filhos pessoas ruins, e oferecem a seus filhos um pensamento racional para ajudá-los a organizar seu sentimento. Isso não funciona e só serve para confundi-los ainda mais. Os pais podem sem receios apropriar-se dos contos de fada e dos desenhos infantis.

Dicas de como agir diante dos vilões na vida real:

1. Não usem os vilões como referência do que é certo ou errado

É interessante que os pais evidenciem as consequências que se sucederam com os vilões nas histórias. Evidenciar os aspectos psicológicos dos vilões não trará ganhos significativos.

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Devemos usar sempre o reforço positivo. No geral os pais sentem medo de que a criança se identifique com a maldade. O que os pais devem fazer é lembrá-la que com esforço e boa vontade pode sobrepujar qualquer dificuldade, e que quando agirem com maldade não poderão livrar-se das consequências negativas.

Devemos lembrar que as crianças utilizarão das peripécias dos vilões para resolverem conflitos internos, assim como vão usar as qualidades dos mocinhos.

2. Não se provocam nas crianças medo em relação aos vilões

O medo de vilões é comum, mas na maioria das vezes o adulto é que faz isso acontecer, dizendo a criança que se não fizerem determinadas coisas vão chamar a bruxa malvada, o gigante do pé de feijão, etc. É uma pena que os adultos utilizem destas ferramentas para impor autoridade.

Mas a questão é que se uma criança sente medo de vilões os pais podem ajudá-la a encontrar soluções que sejam apropriadas para crianças. Eles devem conversar a respeito em família, legitimando os sentimentos da criança, e juntos com ela criar ideias práticas para combater esse vilão. Em seguida, encontrar formas de lidar com os medos do ponto de vista da criança. Por volta do 6 ou 7 anos, a criança ainda tem recursos escassos para lidar com seus medos, tristezas, inseguranças, dificuldades que surgem em suas vidas.

Uma coisa interessante é tentar fazer uma ponte entre o vilão de que tanto a criança tem medo com a realidade e momento que essa criança está enfrentando. Por exemplo, se a criança tem muito medo do capitão gancho, devemos tentar pensar no porquê ela se sente perdida, em como está a vidinha social dela, depois devemos pensar na construção da solução do problema.

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As crianças criam fantasias para exemplificar seu medo, um olhar mais atento e um ouvido mais aguçado vão nos ajudar a entendê-la, mas se ainda assim não conseguirem sozinhos, então é a hora de buscarem para seus filhos apoio profissional.

3. Não há problema em ser fã de vilões

As crianças percebem que os vilões são no geral, fortes, espertos, engraçados, poderosos. Eles são atraentes também.

O maior problema que pode haver é pensar que as crianças se atraem pela maldade, isso não acontece, elas se atraem exatamente pelas características que citei acima.

Os pais podem ficar tranquilos, é apenas uma brincadeira, assim como brincar de mocinho e bandido que nada mais é do que uma variação do esconde-esconde.

A criança necessita do respaldo de uma fantasia rica combinada a uma apreensão clara da realidade.

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Para finalizar a questão, nos contos ou desenhos infantis, há sempre um jeito exagerado de falar dos personagens. Os bons são sempre corretos e benevolentes – mas branca de neve, na versão original, faz a rainha dançar até morrer com sapatos de fogo, muito cruel, não é?!

Os maus são cruéis, capazes das mais terríveis atitudes (no próprio conto da bela adormecida, a Malévola, originalmente era uma fada velha que havia sido esquecida pelos reis, tomada pelo sentimento de rejeição lança um feitiço a Aurora, triste esse sentimento de rejeição, não é?).

O que podemos ver é que todos nós temos os dois lados a nosso dispor, com a criança não é diferente, ela pode se compadecer com a cigarra ter que morrer de fome, como também sente satisfação com a punição do lobo.

Assim, percebe-se com facilidade que os bons conquistam de nós simpatia e identificação. Mas os cruéis conquistam nosso afastamento. Certamente, o exagero tem esta intenção: polarizar personagens e leitores para facilitar uma relação identitária entre eles.

É importante notar que a criança pode perceber que a maldade não traz felicidade e que ela pode transformar uma situação difícil e pesarosa para o crescimento dela. A criança de alguma maneira sabe que apesar de os contos não serem reais, em certa medida, eles também não são totalmente insignificantes, porque elas conseguem trazer essas histórias de vilões ou mocinhos para suas vidas. Esses contos intuitivamente fazem-nas terem esperança de um mundo melhor, onde o mal por mais atraente que seja nunca vence o bem!

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