4 pequenas coisas que nos ajudaram a sobreviver ao nosso aborto
Lidar com um aborto espontâneo é difícil, mas aqui estão algumas coisas que nos ajudaram a sobreviver nesses dias difíceis.
Em Erickson
Este artigo foi originalmente publicado no blog “Teach me to braid” e republicado aqui com permissão da autora Em Erickson, traduzido e adaptado por Stael Pedrosa Metzger
Muitas vezes, me perguntam o que ajudou na cura depois de nosso aborto. Nada ajudou muito, mas muitas coisas ajudaram um pouco. Aqui está a nossa lista de doadores de esperança, fabricantes de memória, iniciadores de sorrisos e curador de feridas.
1. Demos nomes aos nossos bebês porque eles eram pessoas reais
Chamamos nosso menino de Ethan Andrew. Aqui, é onde eu fico vulnerável… Ethan não teria se chamado Ethan se ele tivesse nascido vivo. Havíamos escolhido um nome diferente que Andrew e eu já gostávamos há um longo tempo e ainda gostamos até hoje. Algum dia, esperamos que Ethan tenha um irmãozinho com esse nome. Às vezes, me sinto culpada como se eu o houvesse desvalorizado de alguma forma, por não permanecer com o nome planejado. Nós dissemos a nós mesmos que ele não se parecia com o nome que havíamos escolhido. Bem… é claro que não. Ele não se parece em nada com o que esperávamos, porque esperávamos um bebê saudável e de tempo. Ele era do tamanho da minha mão. Sua pele ainda não tinha tomado o belo tom de rosa bebê. E ele não estava respirando. Nós não permanecemos com o planejado, porque o plano saiu pela janela quando eles não conseguiram encontrar o seu batimento cardíaco.
A verdade mais profunda é que eu tinha planejado ver o nome escolhido ser anunciado na programação da igreja no dia da apresentação de nosso filho. Eu tinha planejado vê-lo escrito, impresso em uma lâmina pela perfeita professora do primeiro grau e preso a uma mesa para alunos de seis anos de idade em seu primeiro dia de escola. Eu tinha planejado vê-lo em uma lista de time de qualquer esporte, em um anuário do Ensino Médio, em um convite de casamento. Eu tinha planejado chamar esse nome da nossa porta para que ele viesse jantar. Eu tinha planejado dizê-lo com aquela voz que as mães fazem quando os filhos estão barulhentos demais. Eu não podia suportar a ideia de não ser capaz de fazer essas coisas. Nós precisávamos de um novo nome. Eu escolhi-o e Andrew gostou e, em seguida, o bebê foi nomeado Ethan. Andrew não queria dar nome a nenhum de nossos filhos além do sobrenome. Mas tudo mudou, e eu acho que ele gostou da ideia de compartilhar algo tão doce com seu menino. Era, afinal, a única coisa que eles compartilhariam nesta terra.
Nós não demos um nome ao nosso segundo bebê. Nós nos referimos a ele ou ela como pequeno ou como nosso bebê de agosto, porque ele ou ela foi concebido e perdido em agosto. Às vezes, me sinto culpada por isso também. Talvez devêssemos ter escolhido um nome. Mas não o fizemos, e eu acho que está tudo bem. Tenho certeza de que Deus já tinha dado novos nomes aos nossos dois filhinhos no céu, nomes que eu mal posso esperar para ouvir quando eu chegar lá.
Uma querida amiga compartilhou esta citação de Jenny Schroedel comigo depois que ela e seu marido perderam seu filho, Gabriel.
“O ato de nomear a criança é uma maneira poderosa de trazer luz à realidade da existência dessa criança. Nomear é algo sagrado… Foi o primeiro ato que Deus confiou a Adão. Ouvi dizer que há uma lenda esquimó que diz que os bebês choram quando nascem porque ainda não lhes foi dado um nome. Nós todos desejamos ser totalmente conhecidos, e nos tornar aquilo que somos chamados a ser, e um nome pode ser o nosso primeiro marco indicador ao longo do caminho. A nomeação de um bebê abortado não só faz com que a perda seja mais concreta – isso também permite que os pais se relacionem com seus filhos, para reivindicá-los e se preparar para a reunião com eles – da mesma forma que aceitaram que seu filho volte para aquele que é a Vida”.
Outro passo importante em direção à cura foi a nossa decisão de plantar uma árvore em memória de Ethan. Nós escolhemos uma árvore de florescência cujas pétalas duram um tempo muito curto. Nós pensamos que a brevidade das flores era apropriada. Os avós, tias e tios de Ethan se juntaram a nós na casa do lago dos pais de Andrew para plantarmos a árvore juntos. Tivemos um tempo de reflexão antes, lendo em voz alta algumas escrituras e citações sobre o céu. Tocamos a música “Glória Baby” de Watermark, enquanto plantávamos a árvore. Minha mãe trouxe uma linda casa de passarinho para pendurar em um de seus ramos. Eu adoro ver essa árvore e faço questão de passar algum tempo nas proximidades dela sempre que visito a casa do lago.
2. Eu uso dois colares com os nomes dos bebês
Eu não uso todos os dias, mas quando o faço, as pessoas às vezes comentam ou fazem perguntas. Eu gosto disso. Quando nossa filha nasceu, um amigo nosso tirou uma foto dela segurando um dos colares em sua mãozinha. Eu amo essa foto – a nossa doce menina honrando seus irmãos mais velhos. Fizemos também ornamentos de árvore de Natal gravados com “Ethan” e “Pequeno”.
Eu sou uma leitora, por isso foi muito importante para mim a leitura de muitos livros sobre perda infantil e aborto durante essa época de luto. O que me ajudou a me sentir menos sozinha e isolada. Alguns dos meus favoritos são:
“Seguro nos braços de Deus: a verdade celeste sobre a morte de uma criança”, de John MacArthur.
“Perder o bebê que se espera: encontrando esperança após o aborto ou a perda de um bebê”, por Bernadette Keaggy.
“Eu o seguirei”, um belo livro de memórias por Angie Smith.
“Ouvindo Jesus falar em meio a sua mágoa” por Nancy Guthrie.
Aqui estão alguns livros infantis que eu gosto, mesmo que eu não acredite na alegação de que os bebês que morrem se tornam anjos:
“Nós teríamos um bebê, mas tivemos um anjo” por Pat Schwiebert.
“Alguém veio antes de você”, de Pat Schwiebert.
“Meu irmão é um anjo” por Savannah L. Leyde.
3. Compartilhamos a nossa história
Isso tem sido extremamente útil para o nosso processo de cura. Quer através da escrita ou conversa, com membros da família ou completos estranhos, cada vez que eu reconto nossa jornada pela infertilidade e aborto, eu me sinto um pouco mais inteira, não tão vazia. É um sentimento tão bom poder ajudar outra pessoa, também. Nossa história passa a ter um novo significado e profundidade quando compartilhada com alguém que está sofrendo uma perda similar. É um privilégio ser capaz de caminhar ao lado de outros em sua dor, ter permissão para adentrar sua vulnerabilidade.
Meu cunhado, que é carpinteiro, construiu uma bela caixa de lembranças de cedro para armazenarmos material sobre Ethan. Raramente a abro. Eu a acho triste, mas sou tão feliz que a temos. O cobertor de bebê e o minúsculo chapeuzinho que levamos ao hospital estão na caixa. Suas imagens de ultrassom também. Todas as cartas que recebemos após a sua morte estão nessa caixa. Alguns macacões e um cobertor também. Ficamos em dúvida sobre usar ou não essas coisas quando Harriet nasceu. Nós pensamos em deixá-los na caixa. Eles eram de Ethan afinal. Mas me entristeceu pensar naquelas roupas de bebê, pequenas preciosidades confinadas àquela caixa para sempre, para nunca mais serem usadas. Portanto, antes de minha filha nascer, nós as colocamos no armário do quarto dela. Eu acho que ela ficaria orgulhosa de saber que usou roupas aproveitadas de seu irmão.
Todos os anos, no aniversário de Ethan, 23 de março, fazemos algo divertido. No primeiro ano, fomos para um Museu de Ciência. E em seu segundo aniversário, tivemos um delicioso almoço em um restaurante que andava querendo experimentar. Este ainda é um dia triste, mas ter esperança no que virá acrescenta um pouco de doce ao amargo.
4. Deixamos os outros participarem
Ajudou tanto… deixar que os outros nos ajudassem, nos visitassem, orassem conosco, se afligissem conosco, que fizessem perguntas, nos contassem sobre os filhos que têm no céu. Esses pequenos momentos, essas conversas rápidas e gestos amáveis significaram muito para nós. Não é divertido ser amigo de alguém que é infértil ou de alguém que está de luto, mas muitos têm permanecido conosco através das dificuldades, através do mal-estar, da profunda tristeza, dos tempos de espera. Nem sempre foi fácil deixar os outros participarem, mas estamos felizes de tê-lo feito.
Então, é isso que nos ajudou e nos curou. Nada foi “reparado”. Nada trouxe nossos filhos de volta. Mas essa é a diferença entre o reparo e a cura. Nossa tristeza nunca irá embora, mas eu acredito na cura completa e perfeita. Eu creio que Deus pode nos alcançar em nossa tristeza e com mãos graciosas, amorosas, livrar-nos dela. É assim que algo que já foi tão desesperador pode se tornar um farol para outros enquanto caminham através de suas noites mais sombrias. Assim que algo que já foi tão feio pode se tornar uma bela imagem da obra transformadora de Deus na vida das pessoas. E que algo que já foi tão doloroso pode se tornar parte da nossa história… Parte de sua história.