As dificuldades da maternidade nos definem
Em alguns dias, a tarefa de ser mãe é quase tão divertida quanto viajar a 120 km por hora em um dia quente numa motocicleta sem para-brisa em meio a uma tempestade de insetos...
Linda e Richard Eyre
Algumas vezes ser mãe é tão divertido quanto viajar a 120 km por hora em um dia quente numa motocicleta sem para-brisa em meio a uma nuvem de insetos.
Eu (Linda) tenho me preocupado por muitos anos com as jovens mães em meio a tantas “tempestades” que chegam a dizer que odeiam o Dia das Mães. A data as remete às suas próprias deficiências e amplia sua culpa. Todas as mães provavelmente já se sentiram assim, em algum momento de suas vidas. Portanto, este ano, à medida que se aproxima o Dia das Mães com suas flores, guloseimas e montanhas de palavras elogiosas, também precisamos reconhecer que a maternidade é por vezes difícil.
Vamos recuar um momento, sair do aqui-e-agora e olhar para o quadro como um todo. Maternidade não é apenas uma questão de saber onde estamos em nossa carreira de mãe no momento, é mais um conhecimento de onde viemos e para onde estamos indo. A fim de saber quem realmente somos, precisamos olhar para todo o espectro da maternidade em nossas vidas.
No ano passado, eu tive uma epifania enquanto pensava sobre as mães da minha vida. Não só a minha própria mãe, que tem sido uma enorme influência para o bem, mas também minhas avós e bisavós. Eu sou parte delas e elas de mim.
Essa revelação me chegou quando estava caminhando por um limpo campo de jacintos em um dia de primavera, na Inglaterra, em um acre de madeira de cerca de 100 anos de idade perto de uma pequena vila chamada Little Baddow. Era meu aniversário e eu estava lá com duas de minhas filhas, ambas já mães, e dois netos. Little Baddow é onde minha tataravó Elizabeth Gower nasceu e foi criada.
Elizabeth certamente deve ter andado muito por esses campos de jacintos em sua infância. Foi uma experiência etérea contemplar os caminhos de sua vida, um dos quais foi a mudança de nossa família para os Estados Unidos tantos anos atrás, e agora da minha própria vida com minhas filhas e de nós três ali, como mães, de volta ao bosque florido dessa mãe fiel do nosso passado.
Elizabeth e seu marido, Daniel Clark, foram os primeiros a se juntar à nossa igreja com seus 10 filhos e foram tão duramente perseguidos por se tornarem mórmons que decidiram emigrar para a América. No caminho, através das planícies em vagões cobertos, Daniel bebeu um pouco de água contaminada de um rio, contraiu cólera, morreu e está enterrado em algum lugar ao longo do rio Platte, em Nebraska. A corajosa Elizabeth seguiu para Salt Lake City com seus 10 filhos. Eu só posso imaginar os detalhes de sua vida difícil – detalhes de dificuldades que, no final, definiram-na e agora me ajudam a definir a mim mesma. Embora eu nunca a tenha conhecido, seu sangue valente corre em minhas veias.
Há outras histórias do meu grupo de avós fiéis que se confundem em minha mente. Uma delas, após dar à luz 10 filhos e viver uma vida fiel, morreu aos 38 anos durante a horrível epidemia de gripe de 1920 em Star Valley, Wyoming, deixando oito filhos – incluindo a minha mãe – e levando consigo para o céu dois bebês doentes com idade entre 3 e 18 meses na mesma semana. Outra avó pioneira ajudou a fundar a cidade de Bear Lake Valley, além de construir o salão de recreação da comunidade e abrir um caminho até o lago Bloomington. As histórias sobre as dificuldades de sua vida são nada menos do que inspiradoras.
Agora que nossos filhos voaram do ninho, o Dia das Mães não é tão centralizado em mim, mas em comemorar aquelas mães que vieram antes de mim e aquelas que já seguem meus passos – nossas quatro filhas e as quatro mulheres que se casaram com nossos filhos.
Elas têm suas próprias dificuldades. Uma delas tem uma filha portadora de uma síndrome que pode causar a perda de sua visão antes que ela chegue à adolescência. Uma nora morava com nosso filho e nossos três netos pequenos em um apartamento de aproximadamente 42 metros quadrados em Nova York – o bebê dormia em uma gaveta. Outra tem um adolescente em idade de rebeldia. Duas de minhas filhas se sentam nos bancos da Igreja, sozinhas a cada domingo, lutando com as crianças pequenas, enquanto seus maridos bispos dirigem as reuniões. Outra ainda é uma pioneira em seu próprio direito de viver “ecologicamente correto” em sua casa no Havaí, como ela e sua família decidiram. Eles cultivam caixas cheias de legumes orgânicos, um quintal cheio de galinhas e vivem com 200 dólares (cerca de 400 reais) por mês para se alimentarem enquanto dirigem um antigo e completamente enferrujado caminhão que funciona com óleo vegetal.
Nada disso é fácil – não foi no passado e não é no presente. No entanto, assim como apreciamos a linda imagem retratada no Dia das Mães de amor, paz, tranquilidade e gratidão, temos de admitir que a adversidade em nossas vidas é o que nos permite crescer, mudar e aprender. Quando olhamos para o quadro geral, vemos que esses tempos difíceis da maternidade criam uma história familiar que dá força às futuras gerações e coragem para seguirem em frente mesmo em face de suas próprias dificuldades.
Um dos mantras da nossa família foi provavelmente inspirado por nossas avós bradando lá do céu: “O difícil é que é bom!”.
Traduzido e adaptado por Stael Metzger do original The hard times of mothering define us, de Linda e Richard Eyre.