Caridade: Carregando os fardos alheios

Como ajudar os outros, como compartilhar e fazer o bem dando esperança a quem precisa, ajudando-os a carregar os próprios fardos.

Stael Ferreira Pedrosa

Uma antiga canção gravada pela banda The Hollies nos idos anos 1960 diz: He ain’t heavy, he’s my brother. Ele não é um fardo, ele é meu irmão.

Desde criança ouço essa música, mas só vim a compreender sua letra anos mais tarde. Ela fala do amor que torna os fardos mais leves.

Há três anos, meu pai sofreu um infarto e durante uma cirurgia no coração teve uma parada cardíaca, o que fez faltar irrigação e oxigênio no cérebro. Uma isquemia foi o marco naquele dia entre o meu forte e ativo pai de antes e a “criança” que vemos em seu leito agora.

Totalmente dependente, não anda, mal fala, está perdendo a memória e a coordenação. É uma doença degenerativa que faz seu cérebro atrofiar. Precisa ser cuidado e alimentado como um bebê. Minha irmã, cujo sonho sempre foi ter sua própria família, mas nunca se casou, é quem cuida dele. Deixou sua carreira de gerente de empresa para cuidar dos pais idosos. Afinal, minha mãe após quatro infartos e várias cirurgias é também dependente.

Minha irmã não tem mais que 1,56 de altura. No entanto, quando a vejo carregar meu pai, me lembro da canção: Ele não é pesado, ele é meu… pai. Sinto em meu coração que Deus a fortalece para isso. Ele alargou seus ombros, aumentou sua força, deu-lhe uma visão de amor que em nenhuma outra situação ela alcançaria. Ao vê-la cuidando, amparando, dizendo palavras carinhosas a eles, eu vejo no que ela se tornou: A mãe de seus próprios pais.

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Há poucos dias tomei conhecimento da existencia de uma ONG chamada “Mãos que Curam” (Healing Hands). Uma entidade sem fins lucrativos que distribui às mulheres grávidas de países pobres Kits do parto limpo. Um pacote que contém: um pedaço de sabão, 5 pedaços de gaze, um pedaço de plástico de 1m² para forrar o chão de suas miseráveis casas, 3 pedaços de barbante para amarrar o cordão umbilical, 1 lâmina de barbear para cortar o cordão. Luvas de plástico para as parteiras e um papel com instruções passo a passo desenhadas, já que a maior parte dessas mulheres não sabem ler. Esses kits simples e baratos (custam cerca de 4 reais) têm salvo a vida de milhares de mães e bebês em todo o mundo.

Professores na Índia ensinam crianças a ler e escrever gratuitamente embaixo de pontes sob avenidas movimentadas.

Pensando sobre essas pessoas, só posso pensar em nosso mestre maior: Jesus Cristo.

Ele fez o bem (Atos 10:38), Ele curou enfermos e doentes, proveu alimento a multidões famintas e ensinou a verdade de modo mais excelente.

Um líder religioso muito bem o disse nessas palavras: “O Filho do homem (…) não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos” (Mateus 20:28). Assim, sob a influência do Santo Espírito, podemos também fazer o bem, de acordo com o padrão redentor do Mestre. Esse tipo de trabalho de redenção significa ajudar as pessoas a solucionar seus problemas. Significa ajudar os pobres e fracos, aliviar sofrimentos, corrigir males, defender a verdade, fortalecer a nova geração e prover segurança e felicidade no lar. Grande parte do trabalho de redenção na Terra consiste em ajudar as pessoas a crescer e alcançar suas justas esperanças e aspirações. D. Todd Christofferson

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Existem muitas maneiras de ajudarmos os outros. Comecemos dentro das paredes de nosso lar. Vejo pessoas que coletam alimentos, roupas, consertam roupas usadas para darem aos outros, visitam doentes em hospitais e fazem muito bem ao redor de si, mas não veem que seu filho chorou por que enfrenta um problema. Não cumprimenta o marido ou esposa com um sorriso. Parecem carregar o mundo nas costas. Se têm tão bom coração a ponto de cuidar de quem não conhecem, por que não estender essa mesma bondade aos que vivem a seu lado?

Como podemos ajudar os outros a carregarem seus próprios fardos? Eu acredito nos três atos de dar.

Dar nosso tempo

Às vezes o que nossos filhos, cônjuges ou familiares precisam é que passemos algum tempo com eles. Que possamos ouvir e ajudar. Talvez seja com um trabalho da escola. Talvez uma ajuda com o trabalho doméstico. Fazer compras ou pagar contas. Dedique algum tempo para ajudar aqueles que estão ao seu redor.

Dar de si

Gosto muito dessa expressão. Muitas vezes as pessoas dão coisas, dão presentes e até dão auxílio. Mas não dão seus corações. Não dão amor e nem o colocam como ingrediente daquilo que fazem. Lembro de uma adolescente ajudando sua mãe no trabalho doméstico. Ela ajudou. Deu um murro na mesa do computador antes de deixá-lo, foi até a cozinha, lavou os pratos, talheres, copos, panelas e pronto; deixou a cozinha limpa e gritou: “Posso voltar para meu quarto ou ainda vai me escravizar em alguma coisa?”

Dar amor

Ocasionalmente (devido a um problema que me causava baixa imunidade) eu costumava ter um ou outro problema de saúde. Às vezes uma hemorragia, uma infecção de garganta ou pulmões, às vezes uma infecção urinária. Em algumas dessas ocasiões pude contar com mãos bondosas que me ajudaram a carregar meus fardos. Na Igreja que frequento tem um programa chamado “professoras visitantes”. Essas senhoras que são mais professoras de amor que de qualquer outra coisa visitam umas às outras regularmente para verificar as necessidades das mulheres da Igreja e suas famílias. Sempre deixam uma mensagem, uma oração e muito mais: amor e amizade. Numa dessas visitas eu estava realmente mal. As bondosas senhoras não deixaram mensagem, não perguntaram sobre minha família, nada disso. Viram a casa sem arrumar, a lixeira e a pia da cozinha cheias e as crianças com fome. Simplesmente limparam a casa, a cozinha, colocaram a roupa na máquina de lavar, cozinharam e me deixaram bem quieta descansando.Foi uma bênção de amor que nunca esquecerei.

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Não houve mensagem, não houve preces. A prece foi o trabalho amoroso de suas mãos.

Esta é uma longa estrada

Da qual não há retorno

E enquanto estamos a caminho dela

Por que não partilhar?

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E a carga

Não vai me pesar absolutamente

Ele não é um fardo, ele é meu irmão

(Bobby Scott and Bob Russell)

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Stael Ferreira Pedrosa

Stael Ferreira Pedrosa é pedagoga, escritora free-lancer, tradutora, desenhista e artesã, ama literatura clássica brasileira e filmes de ficção científica. É mãe de dois filhos que ela considera serem a sua vida.