7 razões porque um smartphone pode ser a kriptonita do relacionamento
Nos últimos meses, 80% dos meus novos casos de casais em terapia têm-se centrado em assuntos emocionais perpetuados através de comunicações eletrônicas.
Lori Cluff Schade
Este artigo foi originalmente publicado no blog “dr.lorischade.wordpress” e republicado aqui com permissão da autora, traduzido e adaptado por Stael Pedrosa Metzger.
Apertem os cintos para um assunto sério:
“Estávamos enviando mensagens de texto para lá e para cá sobre um projeto em que estávamos trabalhando, porque estávamos no mesmo comitê da igreja. Aos poucos, os textos se tornaram um pouco mais familiar. Então, eu me peguei aguardando ansioso pelos textos, e com o tempo começamos a compartilhar mais, e… Eu acho que você poderia dizer que eu estou envolvido em um caso emocional. Eu quero permanecer casado, mas eu sinto que amo essa outra pessoa”.
Eu ouvi uma ou outra versão dessa explicação várias vezes só no ano passado.
Apenas nos últimos meses, 80% dos meus novos casos de casais em terapia têm-se centrado em assuntos emocionais perpetuados através de comunicações eletrônicas. Em todos os casos, um smartphone facilitou uma conexão mais frequente e contínua do que um computador tradicional ou laptop.
Eu percebo que só um terapeuta não é, necessariamente, uma amostra representativa, mas em minhas conversas com outros terapeutas, eles relatam o mesmo fenômeno. Eu vejo isso como um problema crescente. Isso me assusta. E deve assustá-lo o suficiente para ser bastante cauteloso.
Comecei a trabalhar com terapia de casais em meados de 1989, muito antes do uso ubíquo de telefones celulares. Na época, eu não podia sequer me imaginar andando com um computador inteiro na palma da minha mão. Eu tenho que admitir que eu amo meu smartphone… O suficiente para que eu pudesse machucar alguém que tentasse tomá-lo de mim. No entanto, como terapeuta de casais, tenho observado como ele contribuiu para o potencial de infidelidade no relacionamento.
Geralmente, os casos emocionais são para mim mais difíceis de lidar na terapia do que os casos físicos. Eis o porquê: a comunicação facilitada pela tecnologia cria laços emocionais reais. De fato, as relações em que as pessoas nunca se encontram face a face são alguns dos relacionamentos mais duradouros e estáveis, principalmente porque elas estão, em essência, em fragmentos de relacionamento e não em relacionamentos inteiros. Por não passarem pelo teste da realidade, a resolução é aparentemente mais difícil.
Casos acontecem a partir de proximidade. Em suma, as pessoas têm casos com as pessoas com quem compartilham espaço e experiência. Os smartphones aumentaram a gama de proximidade e sua duração. De certa forma, você poderia argumentar que eles nos proporcionaram alguns “superpoderes”. No entanto, eu também muitas vezes vejo o seu lado de kriptonita. Aqui estão sete razões por que eu acredito no poder dos smartphones e tecnologia digital de agravar o risco potencial para a infidelidade emocional:
1. Resposta em tempo real
Como você carrega consigo o telefone durante todo o dia, você pode estar continuamente em uma conversa com outra pessoa e receber respostas imediatas por meio dele, o que mantém você potencialmente conectado o tempo todo, e obter uma resposta de alguém gera uma reação fisiológica muito real.
2. Relação fragmentada com baixo investimento
Qualquer caso amoroso de smartphone é um fragmento de relacionamento. É fácil ter um relacionamento com pouco investimento, onde tudo o que é exigido de você é conversar. É diferente quando você precisa de ajuda com os pratos, contas ou outros eventos mundanos da vida diária.
3. A falta de teste de realidade
Smartphones não têm mau hálito de manhã. Eles não deixam suas meias sujas pela casa ou o assento do vaso levantado. Eles não discutem. Então, agora você tem um parceiro que responde, mas não tem odor corporal. Falou tudo.
4. Controle de apresentação
Quando as pessoas estão envolvidas em relacionamentos digitais, elas têm a capacidade de ocultar suas qualidades indesejáveis e promover as desejáveis e acomodar parceiros facilmente.
5. Capacidade de esconder
Mesmo que as relações digitais sejam descobertas, elas podem ficar ocultas por valores indefinidos de tempo, e quando são descobertos, os parceiros têm mais facilidades para escondê-las.
6. Revelação emocional mais rápida
Pessoas revelam vulnerabilidades emocionais mais rapidamente nos relacionamentos digitais, por isso, paradoxalmente, elas frequentemente desenvolvem relacionamentos mais profundos mais rapidamente do que na interação face a face. Esta partilha emocional gera emoções reais.
7. Infinidade de maneiras de se conectar
As possibilidades são infinitas. Tive clientes que começaram seus casos com vários aplicativos em smartphones, incluindo Facebook, jogos com capacidade de mensagens, e-mail, Instagram, Snapchat, etc. Qualquer coisa que conecta você a alguém é potencialmente perigosa.
Trata-se de mais do que fronteiras. A qualquer momento os casos emocionais on-line emergem e a maioria das pessoas parte para a discussão óbvia de limites. Embora seja óbvio que a falta de contato iniba um caso, eu não acho que este é o maior problema. Eu sou certamente um defensor de limites na comunicação, mas o maior problema com os assuntos emocionais encontra-se dentro da dinâmica conjugal. Quando um parceiro começa a contar algo a alguém que ele/ela não pode contar a seu cônjuge, é quando a relação se torna vulnerável a possíveis infidelidades.
Quando um parceiro percebe o outro como inseguro ou inacessível, e não pode compartilhar seus medos ou feridas, este pode, por vezes, tornar-se literalmente o inimigo, e um muro é erguido para evitar a proximidade. Se esse muro se ergue entre os parceiros, qualquer intrusão do exterior é mais provável de ocorrer.
O que fazer sobre isso
Se você sente que não pode se aproximar de seu parceiro, a maneira mais rápida para começar a mudar a relação é falar sobre o muro e como você gostaria de ter o tipo de relacionamento em que você pode se abrir. Façam terapia de relacionamento, se o muro não parece provável de ser desfeito.
Por favor, por favor, por favor, estou implorando, como um terapeuta de casais que nadam em um mar de dor da infidelidade a cada semana: Lidem com o ressentimento em seu relacionamento. Não finja que não existe. O silêncio não vai lhes salvar. O que você acha ser longanimidade é apenas algo que coloca o relacionamento em risco.
O smartphone não é o inimigo. A relação sofrida é que é. No entanto, o smartphone não se importa se você salva o relacionamento ou não. Ele pode ser realmente a kriptonita.