Por que eu disse ao meu marido que ele poderia ir embora

Não é fácil deixar a vida que você viveu, mas no final, pode valer a pena.

Ashley Hackshaw

Nota do Editor: Este artigo foi publicado originalmente no blog de Ashley Hackshaw, lil blue boo. Ele foi modificado e republicado aqui com permissão.

“É triste ver homens desperdiçarem suas vidas inteiras tentando convencer outras pessoas que são alguém que não são. É por isso que a alma dos homens não cresce poderosa em espírito e coragem. Gastam sua existência encobrindo-se e vivendo com medo de um dia serem descobertos como uma fraude. Há uma voz dentro de cada um que continua dizendo-lhes que, apesar de todos os ornamentos que obtêm na vida, ainda não é o suficiente. O resultado é a tensão ao longo dos dias devido à culpa, vergonha e ansiedade.”- Jerry Leachman no prefácio do livro The True Measure of a Man.

Li isso há exatamente um ano atrás, de um livro que peguei à cabeceira de meu pai, enquanto voava para casa de uma viagem à Carolina do Norte. Durante a leitura encontrei uma nota que a minha mãe tinha escrito em uma das páginas:

A nota dizia que meu pai marcou aquela página em 15 de maio. Morreu inesperadamente, alguns dias depois. Por causa disso acabei prestando mais atenção ao que eu estava lendo:

“Seis milhões de homens americanos serão diagnosticados com depressão este ano.”

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“Os anunciantes não apelam simplesmente para o nosso bom senso prático, mas para os nossos medos que não se pode medir.”

“Nós damos às celebridades e à mídia cada vez mais poder sobre nossas vidas, simplesmente por causa das imagens que eles projetam, em vez de os verdadeiros valores que representam.”

Na viagem de avião para casa, eu tive uma epifania: Nós nos configuramos para a frustração, confusão e fracasso. Tínhamos uma enorme casa e uma hipoteca ainda maior. Tínhamos cinco TVs de tela plana em nossa casa com apenas três pessoas. Morávamos em uma cidade cara com impostos caros. Construímos uma despensa enorme para que pudéssemos armazenar itens por atacado só porque podíamos comprar. Construímos uma cozinha enorme para entretenimento, porque pensávamos que cozinhar era um passatempo e nenhum de nós gosta de cozinhar. Compramos ou arrendamos um carro novo a cada três anos. Enviamos nossa filha para uma escola particular e compramos roupa o suficiente para que ela raramente tivesse que repetir uma peça. Comíamos em restaurantes caros, porque todos os nossos amigos o faziam. Nós não estávamos necessariamente vivendo acima das nossas possibilidades, mas trabalhando para manter nosso padrão. Minha epifania foi que eu queria mudar o padrão.

Avançando a fita para um ano depois, aqui estamos nas montanhas da Carolina do Norte. Não foi fácil, mas era a liberdade. Vendemos nossa casa, e por sinal, perdemos dinheiro. Saímos da Califórnia com tudo o que possuíamos em um trailer de 5 metros. Na longa e lenta travessia do país, não abrimos o trailer uma única vez. Em vez disso, usávamos a mesma roupa dia após dia e as lavávamos na pia do hotel que estivéssemos. (Conclusão: Nem sequer precisávamos realmente do que tínhamos trazido no trailer). Viajamos pelo maior número de estradas vicinais que podíamos e deslumbramos o verdadeiro coração da América. As estradas normalmente menos percorridas por viajantes nos deixaram maravilhados.

Não foi uma decisão imediata essa mudança radical em nossas vidas. Eu plantei a semente e depois conversamos sobre isso durante meses. Mas o que realmente motivou este post (longa história) é que quando começamos a falar às pessoas sobre a nossa grande mudança, fomos surpreendidos com a forma como muitas pessoas perguntaram:

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“Mas o que o Brett vai fazer?!” “Em que ele vai trabalhar?!” “Como ele pôde deixar a empresa para trás?!”

Eu podia sentir as expectativas irradiando a partir das perguntas. E, por vezes, as nossas respostas eram: “Ele não sabe ainda”, ou, “Ele vai ser um pai e marido e ajudar com a pousada que vamos abrir”, o que trouxe ainda mais dúvidas e falta de compreensão. Isso tranquilizou-nos sobre a nossa razão para fazer o que estávamos fazendo – especialmente para mim. Eu queria que Brett soubesse que eu só queria que ele fosse feliz. Eu queria que ele soubesse que eu iria viver dentro do que quer que fosse nosso destino. Eu sou muito boa em lavar roupas em pequenas pias.

Eu queria que ele soubesse que poderia se afastar de seu meio de vida e eu nunca o faria arrepender-se.

Ele era mais do que o seu trabalho.

Brett é um homem muito simples, mas ele é trabalhador. Ele era um banqueiro de investimentos e proprietário de uma empresa de construção, mas ele também encontra muita alegria nas coisas simples. Ele adora o ar livre, gosta de exercício e de estar em forma e gosta de construir coisas. Ele me fez um banquinho outro dia e me convidou para sentar. O melhor presente que eu já recebi.

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Eu vi um peso sendo lentamente tirado dele nos últimos meses e me tranquiliza que ele tenha compreendido esse propósito. Admito que eu estava preocupada com o seu sentimento de identidade ao se afastar do que ele havia construído. Mas agora, eu o ouço falar com outros homens na pousada e eles lhe pedem conselhos sobre como podem sair de seu próprio e feroz mundo competitivo e meu coração incha de orgulho. Homens perguntando como ele teve coragem de se afastar de tudo. Ele lhes conta como é ler com nossa filha todas as noites e ajudar com a lição de casa. Ele lhes diz o quanto está apaixonado por passatempos que não custam nada e como passar tempo com sua família lhe dá mais alegria do que jamais sentiu em um cargo de poder com um grande salário. MEU CORAÇÃO incha ainda mais. Sua madrasta Gale e seu pai nos visitaram recentemente na pousada por três dias. Ao se despedir, Gale disse que nunca em sua vida o viu mais contente e mais pleno.

Uma das citações mais libertadoras que eu já li e escrevi na primeira página do meu diário em 2005 é:

“… Se você está tentando se mostrar para as pessoas que estão no topo, esqueça. Elas vão olhar de cima para você de qualquer maneira. E se você está tentando se mostrar para as pessoas que estão abaixo, esqueça. Elas só vão invejá-lo. Status não leva a lugar nenhum”. – Mitch Albom, As Terças com Morrie.

Eu li isso várias vezes e alguns meses depois de ler deixei o meu emprego no banco. Nós deixamos para trás uma nova sociedade no country clube que já havíamos pagado. Vendemos nossa casa para alguém que sabíamos que a tinha comprado para derrubar e construir outra cinco vezes maior.

E agora, anos depois, eu nunca teria nos imaginado neste lugar. Nós ansiávamos pela inconveniência de coisas que realmente não são inconvenientes de modo algum, por exemplo: temos que ir ao centro da cidade para usar o correio, a cafeteria chique mais próxima fica a mais de uma hora de distância, e não há coleta de lixo, temos que levá-lo até o depósito. Não há nenhum atalho para as montanhas ou através dos rios; você tem que apenas desfrutar das longas viagens cheias de curvas em torno deles e ao longo deles.

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E nós não estamos completamente fora da eletricidade (ainda). Nós temos uma TV… É uma tela enorme de 22 polegadas. Eu tive que adicionar o closed caption, porque o som era muito baixo. Na verdade, aos poucos fui parando de assistir porque quando eu tirava as lentes de contato não conseguia ver a tela.

Minha filha voltou a frequentar uma nova escola na segunda-feira e ela foi com uma roupa que já havia usado durante todo o verão. Nós não compramos qualquer nova peça de roupa para a volta à escola. Ela levava a mochila do ano passado, que nós compramos em um bazar. Ela fez um amigo. Seu primeiro dia foi perfeito.

Vivemos em menos de 85 metros quadrados e fazemos dar certo. Nós falamos um com o outro, vemos um ao outro e desfrutamos a companhia um do outro. Somos uma equipe.

Brett ajuda na pousada às vezes com coisas úteis que ele gosta de fazer. De vez em quando ele vai se aventurar na cidade e se divertir na Bryson City Bicicletas e ver o dono Andy reparar e construir bicicletas para aprender uma nova profissão. Nós levamos um bom tempo para conhecer os empresários locais e tentar apoiá-los, tanto quanto pudéssemos.

Eu levei muito tempo para conhecer a equipe da pousada. Brett levou três horas dirigindo de ida e volta hoje para encontrar um novo motor para o ventilador da cozinha, porque enquanto eu estava sentada com os cozinheiros reparei como estava superaquecida. Ontem ouvi Donna dizer ao marido Wally: “Você salgou aquela… Coloque uma batatinha nela”, e eu amei ouvi-la dizer “batatinha”, e ao mesmo tempo me ensinou a “dessalgar alguma coisa.” E Wally disse que há todos os tipos de plantas medicinais na floresta que ele pega e seca, incluindo ginseng. Ajudei Harper “o estagiário” e George um dos outros cozinheiros a estocar alimentos no freezer hoje. Eu nunca vi tantos ovos de perto na minha vida.

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Mais importante: Deus é o centro de nossas vidas. Encontramos uma pequena igreja local que todos nós amamos. O slogan da igreja é: Somos a igreja perfeita para pessoas que não são perfeitas. Eu amo isso. Porque eu nunca conheci alguém perfeito. Todos nós temos nossos problemas. Oramos a respeito de tudo, especialmente a respeito das coisas que estão fora de nosso controle.

Eu acho que há uma razão pela qual Deus nos levou a um vasto e belo local. Há algo terapêutico sobre estar cercados por tanta beleza.

Emerson disse que na floresta voltamos à razão e à fé. Eu sinto que quanto mais próximos à natureza, mais vivemos sem passado e sem futuro. Por aqui, a natureza é livre.

Seis milhões de homens serão diagnosticados com depressão a cada ano.

Seis milhões de homens, menos um.

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_Traduzido e adaptado por Stael Pedrosa Metzger do original Why I told my husband he could walk away.

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Ashley Hackshaw

Ashley is the fearless creative behind the DIY/Lifestyle website Lil Blue Boo. Her writing about the unexpected loss of her father, her battle with a rare cancer and infertility has resonated with readers across the world. Most recently, Ashley and her family sold everything they own and moved across the country to a small, rustic 1950’s motor inn in the mountains of North Carolina. You can read about their adventures in small town life at www.lilblueboo.com.