Por que o casamento na década de 50 não era de todo ruim

O que os anos 50 onde as esposas apenas se calavam e obedeciam a seus maridos têm a nos ensinar sobre o casamento?

Stael Ferreira Pedrosa

Os anos 50 foram um marco divisor na história mundial. Nessa década o mundo viu o surgimento da bomba H, do coração artificial, do primeiro “cérebro eletrônico”, o lançamento do Sputnik, a criação da NASA, a descoberta do DNA, a revolução cubana, a mudança nos costumes causada pelo rock n’ roll, a calça jeans, a juventude transviada e no Brasil a chegada da primeira emissora de TV.

Com o avanço tecnológico as instituições também mudaram. Os lares tinham geladeiras, rádios e televisores que propagavam o que parecia ser o American Way of Life e as esposas perfeitas eram retratadas nas propagandas comuns da época.

Assim como a sociedade, o casamento sofreu grande influência e muito se fazia no sentido de preservá-lo como algo sagrado.

Segundo a terapeuta de famílias e escritora americana Monica McGoldrick, os papéis de marido e mulher no casamento eram rigidamente definidos: O marido era o provedor e líder da família, enquanto a mulher tinha a função de nutrir e tomar conta da prole, cuidar do lar e ser obediente ao marido. Sua identidade primordial de mãe e esposa lhe era ensinada desde a casa paterna.

As revistas femininas ditavam comportamento às mulheres (provavelmente pensados e escritos por homens, já que raramente as mulheres trabalhavam fora nessa época). Alguns conselhos dados pelas revistas:

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  • O lugar de mulher é no lar. O trabalho fora de casa masculiniza. (Revista Querida, 1955)

  • A mulher deve fazer o marido descansar nas horas vagas, nada de incomodá-lo com serviços domésticos. (Jornal das Moças, 1959)

  • Não se deve irritar o homem com ciúmes e dúvidas. (Jornal das Moças, 1957)

Embora alguns conceitos possam irritar a mulher moderna existem alguns fatos dos quais não podemos fugir:

1. A jornada dupla

É muito bom que a mulher tenha alcançado um patamar próximo ao do homem no que diz respeito à valorização de sua capacidade como mão de obra, seja física ou intelectual. As mulheres têm tanta ou até mais capacidade que os homens de adquirir conhecimento e utilizá-lo, embora ainda ganhe menos e tenha menos chances de concorrer com um homem a uma vaga, devido aos benefícios tais como licença-maternidade.

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O ruim dessa emancipação feminina é que o homem não acompanhou a divisão do trabalho fora da casa com o trabalho dentro de casa, deixando à mulher a responsabilidade de além de ajudar na manutenção financeira do lar, o cuidado com este e os filhos, sobrecarregando-a.

2. O distanciamento familiar

Com tantas atribuições é quase impossível que os horários se combinem ou que haja tempo disponível para as refeições ou atividades em família, atenção individual e o cuidado dos filhos, sendo estes deixados com babás ou creches. Além de não se saber que tipo de tratamento as crianças recebem, também não serão os valores dos pais que estas crianças herdarão, mas dos cuidadores.

3. Prejuízo das relações

Embora nos anos 50 se considerasse que a responsabilidade do sucesso no casamento, a felicidade conjugal dependia única e exclusivamente da mulher – o que representava um fardo já que a responsabilidade é de ambos – as relações sofriam menos com o distanciamento físico. Por não ter que arcar com a jornada dupla, a mulher podia estar mais próxima do marido quando este chegava em casa. Faziam as refeições em família, e iam para a cama no mesmo horário. Embora nem sempre esse tempo fosse de qualidade tinha efeito na manutenção do casamento e na maneira que os filhos viam a família e o papel dos pais na relação. Hoje, com pais sempre cansados e estressados, os filhos veem o casamento como fonte de problemas e tendem a se afastar emocionalmente deste conceito. Não se preparam adequadamente já que não há modelos e tendem a criar relações comprometidas com o fracasso.

O ideal seria unir as conquistas femininas com as vantagens do casamento nos anos 50. Algumas ideias podem ser úteis:

  • Maridos, se a esposa trabalha fora para ajudá-lo, ajude-a nas tarefas domésticas.

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  • Esposas, se seu marido pode manter a casa, não busque o supérfluo em detrimento do seu casamento, seu relacionamento familiar e saúde física. Fique em casa.

  • Mães, ensinem suas filhas a serem donas de casas, ensinem seus filhos a serem autossuficientes no trabalho doméstico e deem a ambos as mesmas oportunidades educacionais. Sua filha pode não se casar ou precisar trabalhar para ajudar o marido e formação acadêmica e profissional ajudará muito. Seu filho poderá cuidar de si e ajudar sua futura esposa.

  • Pais, abram mão do autoritarismo no lar e veja sua esposa como sua parceira igual na tomada de decisões, cuidados com os filhos e gerenciamento do lar. Ajudem-se mutuamente.

Como casal, busquem oportunidades de estar juntos, divertirem-se, conversarem e ser um em todas as coisas. Nenhum é maior que o outro, mas juntos vocês podem construir algo realmente grande.

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Stael Ferreira Pedrosa

Stael Ferreira Pedrosa é pedagoga, escritora free-lancer, tradutora, desenhista e artesã, ama literatura clássica brasileira e filmes de ficção científica. É mãe de dois filhos que ela considera serem a sua vida.