5 mitos sobre vícios que podem matar

Há muita desinformação e mitos em torno do tema "vício" que acabam por estigmatizar o viciado e dificultar sua recuperação e socialização.

Stael Ferreira Pedrosa

Há muita desinformação e mitos em torno do tema “vício”. Talvez devido ao medo relacionado ao assunto ou para assustar as crianças e fazer com que fiquem longe das drogas, muitos mitos são criados e acabam por estigmatizar o viciado e dificultar sua recuperação e socialização.

O Dr. Adi Jaffe, ex-viciado em metanfetamina (aquela do Breaking Bad) aborda como os mitos podem ser prejudiciais ao indivíduo que sofre com a dificuldade de deixar o vício e com o estigma que a sociedade impõe sobre o viciado.

O Dr. Adi Jaffe atualmente conduz um estudo na Universidade da Califórnia em Los Angeles, e segundo o estudo uma das maiores dificuldades na superação do vício é o medo que o viciado tem das consequências sociais, mais até do que o temor de enfrentar as terríveis crises de privação do tratamento.

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Devido aos mitos o ex-viciado será sempre malvisto. E certamente terá problemas em conseguir alugar um imóvel, ter a guarda dos filhos, licença para abrir empresa, entre outros. Não porque a pessoa não seja capaz, mas devido ao rótulo que a sociedade lhe impõe.

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Livre das drogas há mais de 10 anos e com doutorado o Dr. Adi Jaffe ainda não conseguiu um documento chamado “licença psicológica” (uma espécie de atestado de sanidade mental) do Estado da Califórnia, onde vive.

Segundo o estudo feito na UCLA, os mitos perigosos são:

1. Vícios são genéticos

Esse mito tem um lado altamente perverso: a ideia de que se é genético, não é qualquer um que vai se viciar e pior – se é genético não adianta tratar. Porém, segundo o Dr. Jaffe não há um único gene ou conjunto de genes capaz de determinar se uma pessoa se tornará ou não um viciado. Não é porque os pais usam que os filhos usarão substâncias perigosas. Pesquisas apontam que 50% das tendências aos vícios têm causa genética, o que deixa de fora os outros 50% que remetem a comportamento, vivências e o ambiente do viciado. Portanto, não há como concluir.

2. A maconha é a porta de entrada

O vício em álcool supera largamente o vício da maconha em números. Também não há pesquisas suficientes que relacionem o uso de maconha como o gatilho para drogas mais pesadas. Enquanto o uso da maconha é prejudicial e não deve jamais ser estimulado, a verdadeira porta de entrada para as drogas mais pesadas são geralmente as mais fáceis de conseguir como álcool, analgésicos, ansiolíticos (como o diazepan, rivotril, entre outros) e inalantes (thinner, lança-perfume, cola de sapateiro, etc.).

Segundo pesquisas nos Estados Unidos, 17% dos estudantes do ensino médio bebem, fumam ou usam drogas durante o dia na escola.

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3. O vício é para toda a vida

Uma vez viciado, sempre viciado. Essa é uma carga que pesa sobre os ombros dos viciados recuperados. As pessoas são diferentes e têm reações diferentes. É verdade que muitos lutam uma vida inteira contra o vício. Mas de acordo com o Instituto Nacional de Alcoolismo e Abuso de Álcool (EUA), 75% dos alcoólatras se recuperam sem tratamento.

4. As drogas fritam seu cérebro

O Dr. Adi Jaffe, se refere a um comercial antigo (de 1987) veiculado nos Estados Unidos e bastante conhecido em todo o mundo, onde aparecia uma frigideira e um ovo. Uma voz mostrava o ovo e dizia: “Isso é o seu cérebro”. Em seguida o ovo era quebrado e colocado na frigideira enquanto a mesma voz dizia: “Isso é o que as drogas fazem com o seu cérebro.”

Segundo o doutor, o excesso de drogas tem sim efeitos danosos sobre o cérebro, causando efeitos colaterais indesejados, mas simplificar que o uso de drogas provoca danos permanentes passa a ideia de que os recuperados são “danificados”, o que aumenta ainda mais a discriminação. Ele mesmo é prova disso, pois usou metanfetamina que é altamente tóxica para o cérebro (assim como a cocaína e outros inalantes) ao deixar as drogas, voltou a estudar e concluiu um doutorado.

5. Você tem que chegar ao fundo do poço

O perigo desse mito é que pode ser tarde demais para ajudar alguém se esperar que a pessoa chegue ao fundo do poço. Não existem muitas evidências de que aqueles que chegam ao fundo do poço tenham mais sucesso na recuperação. O melhor é tratar o quanto antes.

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Embora devamos estar alertas quanto às drogas e evitar que seus males cheguem ao nosso lar, pensemos por um instante naqueles que sofrem com os vícios e antes de repetir um mito que você tem ouvido, pense se é algo prejudicial antes de repeti-lo a alguém.

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Stael Ferreira Pedrosa

Stael Ferreira Pedrosa é pedagoga, escritora free-lancer, tradutora, desenhista e artesã, ama literatura clássica brasileira e filmes de ficção científica. É mãe de dois filhos que ela considera serem a sua vida.