Por que julgamos tanto os outros?

Apesar de nossos melhores esforços, todos nós julgamos os outros. Pode ser por pequenas coisas, como um colega de trabalho que levou muito tempo de uma pausa para o almoço. Ou pode ser por questões maiores...

Mônica Pessanha

Apesar de nossos melhores esforços, todos nós julgamos os outros. Pode ser por pequenas coisas, como um colega de trabalho que ultrapassou o tempo na pausa para o almoço. Ou pode ser por questões maiores, como uma pessoa que se comporta de modo egoísta ou fere nossos sentimentos.

Mas ao fazer julgamentos como esses, nós também estamos propensos a cometer erros ao assumimos que as pessoas têm certas características ou tendências, ou quando deixamos de levar em conta a situação particular em que se encontram.

Aqueles que julgam os outros de uma forma rígida tendem a ter pouco senso de humor, a ser menos atenciosos e simpáticos com outros, a ser mais sensíveis às críticas, a fazer um grande estardalhaço sobre coisas pequenas. Além disso, são menos extrovertidas e interessantes como uma pessoa. Aqueles que julgam constantemente em relação aos outros, também tendem a ser mais ansiosos, menos confiantes e menos capazes de lidar com o estresse do que outros. Quando as pessoas não se encaixam nas nossas noções preconcebidas, tendemos a ignorar as contradições, até se tornarem dramáticas demais para ignorarmos. Nesses casos, concentramo-nos nas contradições.

Leia: Aceitar os outros

Como podemos explicar esse comportamento?

Poderíamos explicar o comportamento através do que chamamos de categorizarão. A categorização é um importante dispositivo que usamos e que nos ajudam a viver em sociedade. A categorizarão é uma atividade cognitiva fundamental que ajuda o ser humano a organizar e representar o conhecimento sobre as coisas, as pessoas.

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Essa atividade é capaz de nos ajudar a olhar uma faxineira e supor que ela mora distante, na periferia, ou seja nos “julgamos” pelo fato do pré-conhecimento que temos sobre as questões sociais e psicológicas, que pode acontecer sempre com dois ou mais objetos, organismos ou acontecimentos diferentes, que são agrupados devido a uma certa semelhança ou proximidade conceitual.

A categorizarão é de certa forma o primeiro passo para o preconceito. Em um nível muito básico, por exemplo, julgar as pessoas pela aparência significa colocá-las rapidamente em categorias impessoais, assim como decidir se um animal é um cachorro ou um gato. No geral as pessoas não aceitam bem as diferenças, sejam elas grandes ou pequenas. É muito difícil tentar compreendermos porque as diferenças que achamos nos outros mexe conosco a ponto de estabelecer um julgamento, que muitas vezes é inadequado.

Quando nos sentimos certos e julgamos, por exemplo, as escolhas partidárias das outras pessoas, estamos no caminho errado, iniciando um perigoso caminho para o preconceito. Quando a gente tem muita certeza e julga demais, estamos no caminho errado.

Qual é o lado negativo de julgar demais?

Para falarmos do lado negativo de julgar, é preciso pensar em preconceito. Preconceito literalmente significa prejuízo no pré-julgar ou na formação de uma opinião sobre alguma coisa antes de todos os fatos serem reunidos e analisados.

Nossa tendência é analisarmos a vida e as escolhas dos outros baseados na nossa história de vida e nas nossas escolhas. Se julgamos as pessoas sob essa perspectiva, fica muito mais difícil fazer um julgamento justo e mais fácil a nos entregarmos a formas negativas de julgamento. O problema com o mal julgamento, injusto ou errôneo é que este sempre nos leva ao estigma.

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Como se sabe a palavra estigma tem origem grega e significa marcar, pontuar. Os gregos marcavam o corpo de pessoas quando buscavam evidenciar alguma coisa de extraordinário ou mau sobre seu status moral e assim possibilitavam que ela fosse facilmente identificada e evitada. Um estigma é na realidade um tipo especial de relação entre um atributo da pessoa e um estereótipo negativo e acaba sendo visto como algo que a define mais do que um rótulo a ela aplicado.

Sendo assim, o estigma está relacionado a conhecimentos insuficientes ou inadequados (estereótipos), que leva a preconceitos (pressupostos negativos), à discriminação (comportamentos de rejeição) e ao distanciamento social da pessoa estigmatizada. Sentimentos como bondade, empatia, compaixão estão totalmente fora da órbita do julgamento daqueles que tem um senso de justiça aguçado e quase nenhum de compaixão e empatia, o que torna seu julgamento quase que imediatamente em condenação. Pelo menos, a grosso modo, esse seria o lado negativo por julgar demais.

Leia: Como deixar de julgar os outros

Em algum momento, julgar pode ser importante ou positivo?

Podemos pensar que a categorização facilita o ato de pensar, de julgar, deixando o cérebro liberado para funções superiores. Facilita o pensamento na medida que é mais fácil recorrer a uma categoria que a um indivíduo diante de uma nova observação.

Certamente, em nosso cotidiano estamos sempre julgando: quando escolhemos a que filme assistiremos; quem iremos contratar para trabalhar conosco; as pessoas com as quais nos relacionaremos.

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Assim, julgar não é algo negativo, como muitos pensam. O problema é que muitas vezes as pessoas não julgam, condenam. A questão é sermos justos nos nossos julgamentos. É claro que nesse processo, a categorização que nós fazemos pode auxiliar no nosso julgamento, como foi anteriormente mencionado, mas é preciso ter cuidado para não transformá-la em algo fixo, o que pode gerar preconceito e isso faz com que o ato de julgar perca seu viés positivo.

Devemos nos libertar do julgamento exagerado

A todo o momento acontecem situações que tendem a nos colocar em posição de juízes, de jurados ou de promotores (os advogados de acusação), mas, se nos percebemos na situação de réus, rapidamente nos sentimos “injustiçados” ou ao menos nada preparados para estar naquela condição e situação. Certamente, livrar-se dos julgamentos exagerados não é tarefa fácil.

Afinal, temos as nossas impressões e à medida que vamos ganhando mais experiência de vida, podemos ter a falsa sensação de que já sabemos o suficiente sobre ela. É por isso que às vezes é muito difícil para os mais velhos mudarem de opinião a respeito de um assunto.

Existe um ditado em inglês que não se ensina truques novos para cachorro velho, e muitos se tornam adeptos dele.

São várias as atitudes que podem ajudar na ampliação de uma ideia predeterminada e nos liberar do julgamento exagerado. Primeiramente, é preciso reconhecer que não se sabe tudo a respeito da vida.

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Além disso, é preciso tentar se colocar no lugar do outro ou imaginar que aquilo poderia estar acontecendo na própria família. A empatia pode ser a chave para nos libertar dos julgamentos exagerados.

Adicionalmente, podemos buscar conviver com maior proximidade da situação, procurar informações de fontes diferentes e confiáveis e, acima de tudo, ter vontade de descobrir novos pontos de vistas e formas de ver a vida, independentemente da idade.

Em um mundo com tanta informação é natural que encontremos a todo o momento algo novo que pode nos desafiar, mas também nos enriquecer. É importante lembrar que não mais vivemos em uma época em que as tradições são impermeáveis. Uma vida mais flexível nos torna mais leve e tolerante diante de novas e velhas ideias.

Com as redes sociais e as pessoas se expressando com mais intensidade, o risco de julgarmos erroneamente alguém aumenta, CUIDADO!

O que acontece nas redes sociais é muito interessante, pois ali tornou-se um espaço em que as pessoas tendem a construir uma imagem muito mais positiva do que negativa delas mesmas. Por exemplo, ninguém vai para as redes sociais falar de seus defeitos, situação financeira, a não ser que esta seja muito boa.

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Assim, o modo de julgamento se reverte, pois entra em cena o autojulgamento. Começamos, assim, a nos comparar com a imagem que outros tentam construir deles mesmos, que como falei, é sempre positiva.

Dessa forma, começamos a achar que, no jargão popular, o gramado do vizinho é sempre mais verde. E até pode ser que sim, mas geralmente, nas redes sociais, em especial no Facebook, as pessoas tendem a hipervalorizar suas experiências.

Talvez o espaço das redes sociais seja o lugar primordial no qual experimentamos uma reversão do julgamento que não experimentamos em outras áreas: nele, julgamos os outros mais positivamente do que a nós mesmos. É claro que aquilo que as pessoas postam, escrevem, falam a respeito das suas preferências políticas, concepções de ideias sobre aspectos da vida como casamento, criação de filhos, entre outros assuntos, pode contribuir para que outros apressadamente as julguem de forma errada.

Por isso, é preciso cuidarmos com aquilo que deixamos registrados nesses locais da net. Hoje empresas costumam observar as redes sociais de seus candidatos. Certamente, estamos aqui diante de uma forma de julgamento.

Leia: 6 dicas para evitar o hábito de julgar pela aparência

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