Por que seu filho não merece uma palmada

Eu gostaria de entender a lógica mental de quem ensina que agredir é a resposta ou que a violência é o caminho para o aprendizado.

Stael Ferreira Pedrosa

O Dr. Murray Straus, Ph.D., professor de sociologia e codiretor do Laboratório de Pesquisas da Família da Universidade de New Hampshire, em mais de quatro décadas de pesquisas científicas sobre castigos corporais, nos traz conclusões importantes, entre elas, a descoberta de que castigos corporais (incluindo palmadas) diminuem o desenvolvimento cognitivo e aumentam a chance de desenvolvimento de comportamento antissocial e criminoso.

Por que os pais batem em seus filhos?

Segundo pesquisas algumas das razões alegadas pelos pais, são:

  1. Eu apanhei na infância e sou uma pessoa de bem

  2. Bater educa e dá limites

  3. Palmada não é violência

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  4. A Bíblia manda bater

  5. O bom pai deve bater

É bastante possível desconstruir esses mitos

1. Eu apanhei na infância e sou uma pessoa de bem

Uma pessoa “de bem” certamente não defende a violência como prática educativa. Temos que nos lembrar que nossos filhos quando agem de maneira que consideramos errada pode ser que eles estejam buscando um limite que não foi dado claramente, agiram por desconhecimento de consequências ou ainda, não sabiam que estavam agindo errado.

Murray Straus, ainda faz um paralelo interessante sobre esse tipo de argumento:

Apenas porque um adulto bem ajustado apanhou quando criança, não significa que bater seja um ato inofensivo. Eu poderia dizer ‘Fumei minha vida toda e estou bem’. Isso não significa que fumar não fará mal a você.”

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2. Bater educa e dá limites

Pelo simples fato da criança parar de agir errado quando apanha por algo que fez, não significa que ela está “educada”. Ela está na verdade, assustada. E, se ela não repetir o comportamento significa apenas que está com medo.

Os cientistas canadenses Ron Ensom e Joan Durrant, da Universidade de Manitoba e do Hospital Infantil de Eastern em Ontario, analisaram 36 mil pessoas durante 20 anos. Suas conclusões são realmente interessantes:

“Praticamente sem exceção, esses estudos mostraram que a punição física foi associada a maiores níveis de agressão contra os pais, irmãos, colegas e cônjuges”

“Nenhuma punição física tem efeito positivo – a maior parte tem, na verdade, efeitos negativos”.

“Nos EUA, quase todas as crianças da pré-escola levaram palmada – provavelmente porque são ativas e inquisitivas, e têm compreensão limitada de perigo ou das necessidades dos outros”.

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Leia: 7 maneiras de disciplinar crianças sem bater

3. Palmada não é violência

Os defensores da palmada dizem que isso não é violência. Mas, estão enganados. A própria definição no dicionário da palavra violência confirma:

Ação ou efeito de empregar força física ou intimidação moral; ato violento.

Os pais empregam a força física e a intimidação – já que são figuras de autoridade, são maiores e mais fortes que a criança. Então, sim, a palmada é um ato de violência contra a criança.

Esse estudo aponta que “no Brasil, anualmente, 12% dos 55,6 milhões de crianças menores de 14 anos são vítimas de alguma forma de violência doméstica. Isso significa que 18 mil crianças são agredidas por dia, 750 por hora e 12 por minuto. É pior que uma epidemia.

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4. A Bíblia manda bater

Os defensores da palmada dizem que a Bíblia manda bater nos filhos para corrigi-los e para tal usam a escritura:

“O que não faz uso da vara odeia seu filho, mas o que o ama, desde cedo o castiga.” (Provérbios 13:24)

Não é sábio interpretar a bel prazer o que as escrituras dizem. A vara é usada pelo pastor para conduzir as ovelhas, e não para bater nas ovelhas. É um símbolo de conduta, de ensino e direção como podemos ver quando Moisés designou líderes sobre o povo. Certamente não era para os líderes surrarem os liderados.

“Falou, pois, Moisés aos filhos de Israel; e todos os seus príncipes deram-lhe cada um uma vara, para cada príncipe uma vara, segundo as casas de seus pais, doze varas; e a vara de Arão estava entre as deles.” (Números 17:6)

E em Salmos lemos: “Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte eu não temeria mal algum, pois tu estás comigo, a tua VARA e o teu cajado me consolam.” (Salmos 23:4)

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Leia: 5 coisas que a Bíblia nos ensina sobre amar nossos filhos

5. O bom pai deve bater

Posso dizer, sem medo de errar, que ao bater em seu filho você não o está educando, está transformando-o em um mentiroso – ele irá mentir ou acusar outros para se livrar da dor do castigo. Ele nutrirá sentimentos ruins por seus pais, se tornará agressivo, tenderá a deprimir-se, e mais tarde desafiar seus conceitos e ensinamentos. Vemos isso o tempo todo com adolescentes que foram criados a vida inteira dentro de uma igreja e tão logo crescem se rebelam contra aquilo que os pais lhes ensinaram e contra suas crenças.

Leia: Punição x Reforço: Obtendo o comportamento que você quer de seus filhos

Quebre o ciclo da violência

Não é porque você, pai, mãe, apanhou de seus pais e se tornou um cidadão de bem que bater nos filhos passa a ser automaticamente o caminho correto. Pense em seus sentimentos e de quantas vezes se sentiu injustiçado, teve vontade de revidar ou simplesmente engoliu a mágoa. É esse tipo de sentimento que você deseja que seu filho desenvolva em relação a você e mais tarde aos outros?

Dê limites, dê exemplo, converse, lembre-se que a vara do pastor conduz a ovelha sem violência, ensina o caminho do redil e a ajuda a permanecer em lugares seguros.

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“É sábio direcionar sua raiva aos problemas – não às pessoas, para concentrar suas energias em respostas – não em desculpas.” William Arthur Ward

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Stael Ferreira Pedrosa

Stael Ferreira Pedrosa é pedagoga, escritora free-lancer, tradutora, desenhista e artesã, ama literatura clássica brasileira e filmes de ficção científica. É mãe de dois filhos que ela considera serem a sua vida.