A importância dos avós: Como passar conhecimento para os netos

Eu fico pensando no quanto aquela velhinha já me ensinou naquelas conversas sérias: “Senta aqui, que eu preciso conversar com você!”...

Daise Lima

A minha avó Dona Maria já está bem velhinha. Mas ela sempre sorri contente quando o portão se abre e entram os netos, os filhos e todos vão correndo abraçá-la. E ela sempre pergunta por aqueles que não vieram. Ela sempre espera por eles! E ela sempre pergunta sobre os namorados, os estudos. E quando eu vou cortar os meus cabelos. Ela odeia o meu cabelo!

Ela sempre tem uma receita de chá horroroso para qualquer doença… É difícil beber os chás, mas eles curam na hora!

E ela fala muito! Um dia, falou por 12 horas sem parar, contando histórias da vida dela, de como conheceu o meu avô (o seu amor eterno!), de como a vida era difícil antigamente, de como gostava de tocar violão para o marido cantar… Como ela mesma diz, fala mais que o homem da cobra, que eu nem sei quem é o tal, mas está valendo mesmo assim. Tem um monte de coisas que ela fala que a gente não entende, mas é engraçado de ouvir. Assim como a tal da Espicula de Rodinha.

Espicula de rodinha era a resposta que ela dava aos netos quando ficava brava com a bagunça que fazíamos em sua casa. Quando a minha avó já estava pensando em fazer um cozido de netos, tudo virava espicula de rodinha.

Era assim:

Advertisement

Vó, o que é isso?

-É espicula de rodinha!

-O que é espicula de rodinha, vó?!

-Espicula de rodinha é espicula de rodinha, menina! E para de me encher a paciência!

Nem o Google sabe me dizer o que é! Mas também, o Google não diz que a Dona Maria é uma mulher de verdade, forte, ficou viúva com 34 anos, criou 6 filhos sozinha com muita luta, cuidou da mãe até a morte, e diz sempre que eu sou sua neta preferida! Tudo bem que ela diz isso pra todos os netos, individualmente, mas eu nem ligo.

Advertisement

Todas as vezes que eu vou à casa dela e ela sempre vem falar mal do meu cabelo, eu fico pensando no quanto aquela velhinha já me ensinou naquelas conversas sérias: “Senta aqui, que eu preciso conversar com você!” ou numa brincadeira, com o seu exemplo de mulher forte e guerreira, dando um abraço bem apertado quando eu precisava disso, me emprestando o ombro e o corpo inteiro quando eu precisei chorar e me consolando com um cafuné que é coisa de vó: só elas sabem fazer!

E ao escrever esse texto, que foi o mais difícil que já escrevi, já que não sou avó e não tinha a mínima ideia de qual “escola os avós frequentam para ensinarem os netos”, pensei que a melhor maneira de passar o conhecimento aos netos foi o que a minha avó usou e usa até hoje para ensinar: através do exemplo!

Não há melhor maneira para isso! Não há melhor professor!

Toma un momento para compartir ...

Daise Lima

Daíse Lima mora e escreve de Campinas. Não só de Campinas, mas em qualquer lugar em que estiver: no caderno que carrega na bolsa, na folha de papel amassado que estava no chão, no ônibus lotado, no papel higiênico... Visite seu blog na URL abaixo.