A morte de um ente querido não se supera, só se aprende a viver com a ausência
A dor mais profunda não é a morte, é a ausência daqueles que se adiantaram a nós no caminho.

Erika Otero Romero
Devo confessar que o Natal não é uma época que eu goste especialmente. Para mim, perdeu toda a beleza no dia em que percebi que nunca mais teria a minha família inteira de volta. Tento fazer com que seja uma data especial para o meu sobrinho, que ainda acredita no Papai Noel.
A verdade é que cada data especial é uma dor dilacerante no fundo do meu ser. A única coisa que me conforta é pensar que, um dia, poderei voltar a vê-los.
Todos sabemos o que é perder um ser amado; conhecemos a dor da ausência. Independentemente das condições da sua perda, dói que já não esteja lá. Quando penso nisso, percebo que cada dia pode ser o último que passo com meus entes queridos.
Sim, a vida passa muitas vezes sem nos darmos conta de que estamos vivos; pior ainda, passa sem que valorizemos quem está ao nosso lado.
Uma canção com muita verdade
Há alguns dias, ouvi uma canção que até esse momento não tinha ouvido. Chegou na hora certa para me fazer apreciar o que tenho de mais valioso: a minha família.
O nome da canção é Confesso, de Kany Garcia. Ouvi-la levou-me a recordar é todos os familiares que perdi. Naquele momento, percebi que aprendemos a viver com a ausência daqueles que nos precederam na viagem.
A morte não é facilmente superada, isso já sabemos, porque quando alguém morre, se “sente o vazio” que deixou.
Para que saiba do que falo, deixarei um pedaço da canção; de verdade, jamais acreditei que alguém pudesse expressar em letras a dor da morte, o vazio da ausência.
“Ali olhei sua foto na geladeira
Daquela viagem que fizemos em novembro
Sorrio ao descobrir suas mil maneiras
de me amar
Hoje
Como todas as noites
Te imaginava
Confesso que me faz tanta falta
Para me dizer: “Vai dar tudo certo.”
Para me ouvir com um violão
Sentado com sua xícara de café
Chorei porque sua voz não está na casa
Ri porque você me amou com todo o seu ser
É uma mistura que me agarra a alma
E quebra em cada canto do meu ser
E por que não?
Se você era meu tudo
E por que não?
A véspera do Natal fica mais fria
E em abril todas as flores caem
E sinto que você fala comigo todos os dias
Em mil canções
Olho para o céu e não me basta
E suas fotos me enganam
E me fazem acreditar que, hoje, me ligará à tarde
Para me dizer olá.”
Medo da própria morte ou da de quem você ama?
Sabem, sempre que ouço esta canção, meus olhos se enchem de lágrimas. Pois retrata a realidade da ausência que deixa a morte de alguém que amamos.
Não sei se acontece a todos, mas não tenho medo de morrer; tenho medo da dor que a ausência daqueles que se vão embora deixa.
Fico angustiada de tal maneira que, pelo menos uma vez ao dia, penso nisso. Sei o que se sente ao ver alguém que se ama morrer. No entanto, é muito diferente quando sabemos que alguém vai morrer; estamos preparados para a sua perda iminente. Dói, mas não da mesma maneira, porque enquanto essa pessoa esteve viva, pudemos fazer o melhor por ela. É diferente quando a morte de quem você ama o pega de surpresa.
E é justamente por essa última razão que devemos aproveitar cada dia que temos com os nossos; porque não sabemos quando nos deixarão ou os deixaremos.
Carpe Diem
“Aproveite o dia”, isso é o que Carpe diem quer dizer. Embora para algumas pessoas essa frase em latim faça referência a viver sua vida ao máximo; eu adiciono a ela outro significado.
Não há nada de errado em viver a vida ao máximo; no entanto, se nela incluirmos a nossa família, as coisas tendem a ser melhores. E o convite é justo: aproveite o tempo com a sua família; quando morrer não haverá flores ou lágrimas que valham.
Se você tem que se desculpar por algo que fez, não deixe o tempo ir embora sem fazê-lo. Você não pode confiar que amanhã estará vivo, porque nenhum de nós tem “a vida comprada”.
Não deixe de ir ver seus pais ou avós. Ligue seus amigos, aqueles que um dia você deixou porque teve que emigrar em busca de uma vida melhor.
Abrace e diga à sua família que a ama. Tente fazer tudo isso antes que seja tarde demais. Essa será a única satisfação que lhe restará no dia em que já não puder mais passar tempo com ela.
Só me resta dizer que espero de coração que você possa viver sem arrependimentos. Que diga o que sente às pessoas que ama para que essas palavras não fiquem presas no seu coração.
Traduzido e adaptado por Stael Pedrosa do original La muerte de un ser querido no se supera, solo se aprende a vivir con la ausencia