Adolescência: do caos familiar à sabedoria dos pais

“Não é preciso sofrer para ser poeta. A adolescência já é sofrimento para todos.” John Ciardi

Erika Otero Romero

Fui uma adolescente rebelde. Não o tipo de garota que foge de casa ou usa substâncias estranhas só para chatear os pais. Minha rebeldia consistia em impor o que eu pensava, em contrariar minha mãe e respondê-la mal porque me sentia sufocada.

Minha mãe nunca foi do tipo apreensiva, além disso, sempre me deu muita liberdade e independência. Talvez seja por isso que eu tenha aprendido a pensar por mim mesma, sem esperar a opinião ou permissão dos outros. Portanto, sempre que algum tipo de imposição vinha de alguém que representava certa autoridade, eu ficava estava na defensiva, pronta para impor meu pensamento. As coisas não mudaram muito, só que agora essa atitude foi suavizada pela maturidade.

Naquela época, havia tantas coisas que eu queria gritar para o mundo. Eu estava ressentida, confusa e apenas queria parar de me sentir assim.

Como todo adolescente, havia coisas que eu queria que minha mãe entendesse; apesar disso, era como se ela nunca tivesse vivido a adolescência. Isso acontece com muitos pais, eles parecem esquecer que já estiveram tão perdidos quanto nós.

Durante essa fase, as pessoas não apenas amadurecem a mente e o corpo, a maneira como se relacionam também muda.

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Essa é a adolescência, um estado de constante insatisfação e busca pessoal, que dura cerca de oito anos. Não é fácil vivê-la, você sabe muito bem, mas é uma fase obrigatória para cada pessoa do mundo.

Como pai ou mãe, é importante que você saiba que seu filho adolescente deseja expressar muitas coisas a você, mas não sabe como fazê-lo. É por meio de sua rebeldia e desconforto que ele tenta dizer algo. Apesar disso, creio que pais e filhos possam se dar melhor se conhecerem essas coisas que os jovens não conseguem expressar.

1. “Preciso do meu próprio espaço”

Não se trata apenas de querer ter seu próprio espaço físico; o adolescente precisa de tempo para se compreender e se sentir à vontade consigo mesmo.

Sim, os adolescentes querem ficar sozinhos ou com os amigos. Sozinhos para encontrar o seu lugar no mundo, e com amigos porque são os únicos que parecem compreendê-los.

Não grite nem os repreenda por passarem muito tempo fora de casa; em vez disso, entre no “jogo” deles. Minha mãe diz que “se atrai mais moscas com mel do que com fel”. Pois bem, com os adolescentes as coisas funcionam da mesma maneira.

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Se seu filho chegar atrasado, espere por ele com um copo de sua bebida favorita e pergunte como foi. Melhor ainda, deixe comida ou bebida na mesa e um bilhete dizendo que você sabe que ele vai se atrasar e espera que ele não vá para a cama com fome.

Isso não é ser complacente, é ganhar sua confiança para que saibam que podem contar com você. É “jogar seu jogo” como uma pessoa compreensiva e não como uma mãe ou pai recriminador.

É melhor que seu filho ame e respeite você, em vez de ter medo de você.

2. “Por favor, não grite comigo, me escute”

Gritar nunca é uma boa técnica para se fazer entender, especialmente quando se trata de filhos adolescentes. Gritar é a demonstração mais básica de que você perdeu o controle; e você não quer perder o controle com seus filhos.

Pelo contrário, falar e ouvir atentamente melhora qualquer relação humana. Além disso, você é mais perceptivo a qualquer mentira que possa surgir na conversa.

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Seu filho não precisa de ordens, precisa ser ouvido e aconselhado, embora às vezes ignore esses conselhos. Nesse caso, resta confortá-lo e indicar a lição a ser aprendida daquela situação. Ele é seu filho e não um soldado raso.

3. “Preciso saber que, apesar de tudo, você me ama”

É comum que os pais de adolescentes fiquem desesperados com o comportamento dos filhos. Muitas vezes eles não escondem sua decepção e os filhos percebem isso.

Lembro-me disso e de que a única coisa que gerou foi mais raiva. Seu filho não precisa se sentir assim, precisa que você o faça saber, da maneira certa, onde ele está falhando e que você ainda o ama.

4. “Não sou mais criança, não me trate como se eu fosse”

Para os pais, seus filhos nunca deixarão de ser crianças; ainda mais quando ainda não saíram de casa. Seu filho precisa de liberdade e responsabilidades, portanto, dar-lhes tudo de bandeja é educá-los mal.

Deixe-o se defender. Ensine a ele que, se estiver com fome, pode fazer a própria comida, lavar suas roupas, arrumar seu quarto e limpar o jardim. Sua mão não vai cair se ele fizer qualquer trabalho desse tipo; pelo contrário, isso lhe dará independência e capacidade para perceber que é capaz até do inimaginável.

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5. “Ajude-me a me conectar com o mundo real”

Nos anos noventa, a internet não era um problema. Já existia, mas muito poucas famílias tinham acesso porque era artigo de luxo. Agora, entretanto, é uma confusão e tanto, porque os adolescentes só querem viver “grudados” no pc ou no celular.

Seu filho precisa que você o lembre (do jeito certo) que há vida real além das telas, que existem amigos de verdade que também merecem seu tempo e oportunidade.

Incentivar seu filho a viver além dos videogames ou das redes sociais é vital para sua vida. Os adolescentes precisam de um empurrão dos pais de vez em quando. Pode ser que eles não agradeçam no momento, mas irão agradecer quando forem adultos.

Por fim, lembre-se de que a adolescência é apenas uma fase durante a qual você pode fazer duas coisas: aproveitá-la com seus filhos ou sofrer ao lado deles.

Traduzido e adaptado por Erika Strassburger do original Adolescencia: del caos familiar a la sabiduría paterna

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Erika Otero Romero

Erika é psicóloga com experiência em trabalhos comunitários, com crianças e adolescentes em situação de risco.