Além da diversão: animais de estimação e sua influência na saúde física e psicológica das crianças
Mais que serem fofinhos e divertidos, os animais de estimação afetam a saúde das crianças em formas que você nem imaginava.
Stael Ferreira Pedrosa
Cães e gatos são os melhores companheiros do ser humano há muito tempo. No antigo Egito, os gatos eram cultuados e considerados protetores contra as forças malignas que surgiam após Rá (o sol) deixar o céu. Já a relação com os cães, embora envolva proteção, seria muito mais material (por interesses mútuos) que espiritual e começou há cerca de 20 mil anos, quando estes canídeos nem eram ainda considerados cães, mas uma espécie de lobo primitivo que nem sequer latia.
Essa relação homem-cão que hoje nos parece tão harmônica, na maioria das vezes, começou como um benefício mútuo – os canídeos se alimentavam dos restos da caça humana e, em troca, protegiam as habitações humanas, já que espantavam outros animais (não queriam concorrentes). Com o passar do tempo, os filhotes desses lobos desaprenderam a caçar e a depender dos homens para se alimentarem. Aí, nascia essa longa relação de amizade, sendo o homem o provedor e líder instintivo do cão.
Assim como o homem, os cães também passaram por etapas evolutivas que os tornaram mais dóceis, vindo a atuar, inclusive, como pastores e guias. Hoje, o papel principal de cães e gatos (ou hamster, coelhos, e até porcos que vêm ganhando este posto, pássaros, etc.) é, principalmente, ser alvo da estima humana. E o que nos dão em troca é fascinante, especialmente para as crianças.
Alvos de estudos
Pesquisadores da Universidade da Califórnia, em um estudo com crianças entre 6 meses e dois anos e meio, colocaram no mesmo ambiente um cão, um gato e brinquedos. As crianças manifestavam mais ruídos, seguravam mais e seguiam mais os animais verdadeiros que os brinquedos.
Em outro estudo com bebês de 9 meses, deixaram estes na mesma sala, primeiro com uma mulher desconhecida, depois um coelho e posteriormente com uma tartaruga de madeira, e finalmente com suas próprias mães. O que perceberam foi que a maioria dos bebês, em cada uma das situações, preferiu o coelho.
É um tipo de atração natural que tem efeitos positivos no desenvolvimento mental infantil, diz Robert Poresky, pesquisador da Universidade do Kansas, que descobriu que as crianças de famílias que possuíam animais de estimação tinham um nível superior de desenvolvimento cognitivo, social e motor.
Dieter Krowatschek, psicólogo infantil e autor do livro “As crianças precisam de animais de estimação”, garante que estes podem ser os melhores aliados dos pais e dos educadores em várias facetas do desenvolvimento infantil. Segundo o autor, as crianças se beneficiam de várias formas. Veja abaixo algumas delas:
No relacionamento com as outras pessoas
Ao desenvolver um relacionamento afetivo duradouro com seu pet, a criança aprende a estabelecer esse mesmo vínculo nas relações com as pessoas, especialmente seus pares.
Nas condutas agressivas
Segundo a revista Crescer, brincar com um animal de estimação por meia hora ao dia libera ocitocina, calmante natural produzido pelo corpo, que atua no bem-estar e ajuda a controlar a agressividade. Ou seja, esse contato ajuda a criança a controlar seus impulsos, deixando-a mais calma.
No desenvolvimento emocional
Ainda segundo Krowatschek, os animais de estimação têm capacidade de entender as crianças e captar as emoções delas e, com isso, acabam se tornando melhores amigos. Companheirismo fundamental para o bem-estar emocional das crianças.
Alivia a sensação de solidão quando da ausência dos pais
Pais que trabalham fora podem contar com a ajuda dos pets como uma presença que ajuda crianças e adolescentes a se sentirem menos solitários.
Previne comportamentos de isolamento social
Os animais demandam atenção e querem brincar, o que acaba por se tornar um obstáculo para a influência de passatempos solitários, como os videogames ou o computador, que oferecem o perigo do isolamento para as crianças.
Ajudam a desenvolver a responsabilidade e autonomia
A responsabilidade de cuidar de um animalzinho (dar comida, água, cuidar da sua higiene etc.) são obrigações que devem ser delegadas às crianças. Estas devem ser advertidas do que pode ocorrer caso não cumpram essa obrigação. Isso incute nelas o senso de responsabilidade para além de si mesmas.
Mais atividades física e melhor saúde respiratória
Os cães são excelentes companheiros para atividades físicas. Desde as brincadeiras que deixam as crianças mais ativas até o passeio com eles. Isso incentiva a criança a ser mais ativa e diminui os riscos de obesidade. De acordo com a Universidade de St. George, as crianças que não têm animais se movimentavam 11 minutos a menos por dia. Durante sete dias, a diferença soma mais de uma hora. Segundo estudos, o contato com pets pode diminuir o risco de asma e pode afetar positivamente o sistema imunológico, reduzindo o desenvolvimento de alergias.
Combate a ansiedade e melhora o déficit de atenção
Os ansiosos costumam se preocupar muito com tudo, antecipando situações mentalmente, e quando têm déficit de atenção, têm ainda mais dificuldade em manter-se no momento presente. A rotina de cuidados do bichinho acaba distraindo-as das preocupações com o futuro e ajuda a focar no aqui e agora.
Cuidados na aquisição de um animal
São muitos os benefícios de ter um bichinho em casa. Mas, há algumas considerações antes de adquirir um.
- Animais não são descartáveis – eles criam vínculo afetivo com a família e sofrem o abandono.
- Nem todos são mansos e dóceis – conheça a raça e temperamento do animal, o que, segundo especialistas, é possível prever quando eles ainda são filhotes.
- Nem todos se adaptam a apartamentos ou a pequenos espaços.
- Nenhum animal deve ser acorrentado ou sofrer castigos físicos. Para ensiná-los, agrados e recompensas são mais eficazes.
- Prefira adotar a comprar – a crueldade animal costuma estar por trás deste comércio.
- Os animais, assim como os humanos, também sentem frio, fome, medo, solidão, saudade e alegria.
- E, ao final, maltratar animais (o que inclui não alimentar, abandonar e castigar) é crime.