Apego emocional: entre o amor, a necessidade e o desejo
Não deixe que o apego emocional controle sua vida, seus desejos e sua forma de ser. Conheça as chaves para seguir em frente.
Viviana Dominguez
Quando se fala de relações tóxicas, com pessoas narcisistas, abusivas ou dependentes emocionais, esquecemo-nos de falar da outra parte, ou seja, das pessoas que atraem um parceiro com um comportamento irregular. É por isso que, hoje, eu quero compartilhar informações sobre as pessoas que sofrem de “apego emocional” a pessoas completamente tóxicas.
Primeiro, deixe-me esclarecer dois entendimentos opostos, mas aceitáveis, quando se fala de apego.
Em nossa cultura, o apego não significa nada de mal, pelo contrário, é bom ter apego a sua família, costumes e tradições; no entanto, neste caso, vou me referir ao apego que é sinônimo de “vício“, como bem esclarece o Psicólogo Walter Riso em sua nova obra literária.
Apego emocional
De acordo com o Psicólogo e autor do livro “Desapegar-se sem anestesia” e outros mais que tratam do tema, “o apego (e não só ao parceiro) é um dos piores sofrimentos da sociedade atual”. Para o autor, o apego é um vínculo obsessivo com uma pessoa, objeto ou ideia.
Geralmente, as pessoas não se apegam a outras pessoas saudáveis; pelo contrário, apegamo-nos às pessoas mais egoístas, narcisistas ou abusivas porque só com elas pode-se sofrer as consequências.
Para esclarecer esse ponto, deixe-me dar um exemplo: em um casal onde um dos integrantes é dependente emocional, este estará dando cerca de 70% de amor, dedicação e esforço para ter que suportar o maltrato do cônjuge e receber o mínimo de prazer.
Parece cruel e até ridículo, mas é assim; as pessoas que sofrem de apego emocional a um parceiro, percorrem um longo caminho de desvalorização e medo que o levam a perder a dignidade e o respeito próprio.
As 4 crenças falsas que sustentam esse tipo de apego
Estas crenças levam a um contínuo estado de estresse, controle e medo, por não se estar preparado para uma perda:
– Acreditar que tudo deve ficar como está: a ideia de permanência é tão forte que é difícil ao apegado entender que tudo muda, por isso uma pequena mudança em suas vidas parece uma perda terrível.
– Acreditar que é a única coisa que pode trazer felicidade: geralmente o apego está ligado àquele curto momento de prazer que o cônjuge lhe deu. Como sabe que não se repete com frequência, a pessoa fica “enganchada” nesse momento único, idealizando e minimizando o abuso.
– Você se sente segura/o: a ideia de se sentir seguro com uma pessoa por quem se tem apego é muito singular: a pessoa acredita que deve pagar um preço muito alto para conservar o outro, então vive pensando em como lhe agradar, e vive com um medo extremo de perder o seu objeto de apego; não obstante, essa pessoa ou ideia faz você se sentir segura.
– Dá um sentido à vida: este ponto tem a ver com o anterior; claro que essa pessoa tem um sentido de vida, já que vive unicamente focado na coisa, pessoa ou ideia a maior parte do tempo.
O apego às ideias ou coisas
Escolhi escrever sobre este tema porque, ao ler o livro de Walter Riso “Desapegar-se sem anestesia”, encontrei algumas semelhanças em minha própria conduta, especialmente no apego às ideias. De acordo com o autor, as mesmas crenças que acabo de mencionar também se aplicam quando temos apego às ideias ou objetos.
Quer dizer, apegar-se a uma ideia acontece quando, embora aceite ideias diferentes, você segue pensando que a sua é a correta, porque sempre funcionou para você e realmente não deseja mudar sua forma de pensar. Não estou falando de opiniões sobre temas ou gostos; essas ideias se referem à forma como você percebe a realidade.
Todos temos uma forma própria de perceber a realidade, somos todos diferentes, e trazemos nossas histórias de vida. É disso que se trata, aceitar que há formas diferentes de encarar a vida e, às vezes, muito melhores. Uma característica das pessoas apegadas às ideias, é que costumam ser muito autocríticas, e criticar os outros.
A imaturidade emocional, a necessidade, e o desejo
O autor usa esses termos para descrever aspectos das pessoas que sofrem de apego. Em primeiro lugar, refere que a imaturidade emocional está ligada a um baixo nível de tolerância à frustração, ou seja, frustra-se com pequenas coisas. Isto acontece porque as coisas não acontecem como querem ou pensam.
As pessoas apegadas a uma pessoa, ideia ou coisa, têm uma grande “necessidade” de agarrar-se a isso; não escolhem livremente, mas por impulso para satisfazer sua necessidade de prazer. Vale a pena aqui diferenciar as necessidades primárias, que são as básicas de cada pessoa, e as necessidades secundárias que têm um vínculo estreito com a “necessidade”.
Desejar de maneira excessiva afeta normalmente a vida emocional e física das pessoas. Não é errado desejar ou propor-se alcançar objetivos na vida, o perigoso é desejar tanto e não estar disposto a perder.
Teoria do apego nos adultos
Chris Fraley, Professor do Departamento de Psicologia da Universidade de Illinois, esclarece um conceito muito importante a respeito da origem do apego nas pessoas adultas. O professor explica, que de acordo com a “teoria do apego em adultos” desenvolvida pelo Dr. John Bowlby, “a mesma relação emocional que uma pessoa tem com seus pais, é a forma como se relacionará com seu parceiro”.
Isso significa que, se durante a infância, recebermos o cuidado, a segurança e o amor por parte dos nossos pais, procuraremos pessoas autônomas emocionalmente na nossa idade adulta.
Mas se, pelo contrário, durante a nossa infância recebermos desamor, negligência ou qualquer outro abuso, muito seguramente tenderemos a criar um vínculo parecido com o nosso parceiro, incluindo um grande “apego”.
Algumas dicas para abandonar o apego
Como eu mencionei no início deste artigo, depois de ler o livro eu poderia reconhecer alguns padrões de apego em minha pessoa, por isso comecei imediatamente a trabalhar em alguns pontos importantes para o desapego, que eu quero compartilhar.
– Entender que tudo muda e nada é permanente
– Quando desejar algo, separe o desejo da pessoa ou coisa
– Cuide mais de suas próprias necessidades primárias e emocionais
– Fale com amigos sobre isso
– Quando quiser ou precisar de algo, primeiro pense que prazer é esse que essa coisa trouxe, que me impede de deixar de querer (a coisa ou a pessoa). Lembre-se de que ficamos presos no momento agradável da situação, não à pessoa ou coisa.
– Pratique a meditação
Conclusão
Nada é mais lindo que estar apaixonado/a, de sentir-se livre de poder falar juntos sobre as coisas, que possam crescer de forma individual, separado, ser independentes, mas juntos, ter pensamentos e emoções próprias e unir-se no amor; disso se trata estar livre de um parceiro tóxico. Não deixe que o apego emocional controle sua vida.
Traduzido e adaptado por Stael Pedrosa do original Apego emocional: entre el amor, la necesidad y el deseo