Aprender com a dor – deixar os filhos experimentarem
Não dá para proteger os filhos de todas as frustrações que o mundo tem para oferecer. E isso é para o bem deles.
Caroline Canazart
Diariamente me esforço para deixar meus filhos fazerem suas próprias descobertas. Confesso que às vezes tenho que me segurar para não terminar a casinha que algum deles está montando com blocos ou colocar corretamente a fralda na boneca. Há um tempo me vi sendo uma mãe superprotetora. Estava enlouquecendo as professoras deles com perguntas e usando um tempo descomunal para criar, milimetricamente, os trilhos do trem de brinquedo pela casa para que pudessem brincar. Por que eu precisava fazer tudo por eles? Percebi que estava tirando das crianças a possibilidade de criar, imaginar e de resolver os seus próprios problemas.
Por mais que eu ame meus filhos, fazer literalmente tudo por eles não é a melhor forma de demonstrar isso. Lembrei de alguns materiais que já havia lido sobre resiliência e fui encontrar o equilíbrio entre “ser uma mãe superprotetora” e “uma mãe que larga o filho para que ele aprenda com a vida”.
O primeiro ponto foi entender o que significa resiliência. No dicionário existem significados aplicados para psicologia, física, ecologia e administração. Para todos eles, a definição básica é a capacidade de algo voltar ao normal depois de uma situação crítica. Isto é, ser resiliente, de acordo com a psicologia, é conseguir lidar com os próprios problemas, não ceder à pressão e recuperar-se de adversidades. Parece complexo quando pensamos em aplicar isso com as crianças. Mas não é, não. Como tudo, os filhos aprendem a ser resilientes também quando percebem que os pais vivem os próprios problemas dessa forma. Então aplicar o princípio para a vida, também vale como ensinamento para os filhos.
Alguns especialistas já deram dicas para ajudar as crianças a passarem por problemas e permanecerem resilientes. E isso vale para os adultos também. De acordo com a psicoterapeuta norte-americana, Linda Graham, existem cinco pontos importantes para ensinarmos aos filhos:
1. Calma
Respirar fundo no momento da crise e manter a calma.
2. Clareza
Perceber o que tem provocado o problema e encontrar alternativas flexíveis para resolver a dificuldade.
3. Conexão com outras pessoas
Estar aberto para pedir ajuda e aceitar a contribuição do outro para a solução de uma questão.
4. Competência
Lembrar o que foi feito para solucionar problemas passados e usar essas experiências na questão atual.
5. Coragem
Continuar persistindo até que uma solução seja encontrada.
Muitas vezes vamos ver os nossos filhos pequenos frustrados por não conseguir tudo o que desejam. Mas tudo bem, pois a vida é assim mesmo. Quando os superprotegemos estamos fazendo o caminho inverso e estimulando as crianças a serem inseguras e sem capacidade de enfrentar um desafio. Logo, serão adultos com algum tipo de problema por não ter condições de passar por turbulências e tomar decisões sozinhos. Comprometendo, dessa forma, a vida emocional, acadêmica e profissional de nossos filhos.
No dia a dia podemos estimulá-los a uma vida independente, porém, sob o nosso cuidado. Às vezes descer no escorregador do parquinho pode ser um grande desafio. Estar por perto incentivando e demonstrando segurança é mais importante do que fazer a brincadeira por ele. Elogiar o esforço, sem se importar com o resultado, também é uma forma de mostrar que nem sempre o resultado desejado pode ser alcançado, mas o importante é estar disposto a acertar. E, também, saber reconhecer que o desafio é um dos passos para a vitória.
A disposição para ouvir e dar apoio, sem usar palavras pessimistas e ofensivas, é o caminho para que a criança se conecte com os pais e tenha, sempre, vontade de procurá-los para escutar e aprender no momento que um desafio aparece. O especialista em saúde mental, Lyle J. Burrup, disse: “Ao se tornarem resilientes, os filhos […] veem a vida como desafiadora e em constante transformação, mas acreditam que podem lidar com esses desafios e essas mudanças. Encaram os erros e as fraquezas como oportunidades para aprender e aceitam o fato de que a derrota pode preceder a vitória”.
Hoje vejo meus filhos montarem os trilhos para os trens muito mais divertidos do que os que eu fazia. Eles não se encaixam perfeitamente como antes, mas a brincadeira tem um tom maior de independência e ainda me dá a oportunidade de poder elogiá-los pelo esforço feito para construir tudo sozinhos.
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