As 9 ameaças mais negligenciadas no casamento
A comunicação leva sempre a culpa por problemas conjugais, mas nem sempre é a causa.
Kelly Flanagan
Nota do Editor: Este artigo foi originalmente publicado no site de Kelly Flanagan, Un tangled. Republicado aqui com permissão, traduzido e adaptado por Stael Pedrosa Metzger.
Eu me compadeço da comunicação conjugal, porque ela é sempre culpada por tudo. Por gerações, em pesquisas após pesquisas, os casais avaliaram a comunicação conjugal como o problema número um no casamento. Mas não é…
Comunicação conjugal está se tornando a culpada dos problemas. É como o menino que briga no playground. Os supervisores do recreio ouvem um barulho e viram a cabeça a tempo de ver a sua retaliação. Ele não criou o problema; ele estava reagindo ao problema. Mas ele é o único a ser retirado do playground e mandado para a sala do diretor.
Ou, no caso da comunicação conjugal, consultório do terapeuta.
Eu me compadeço da comunicação conjugal, porque todos se unem contra ela, quando a verdade é que, no playground do casamento, ela está apenas reagindo a um dos outros desordeiros que começaram a briga e são eles:
1. Nós nos casamos com uma pessoa, porque gostamos de quem ela é
As pessoas mudam. Pense nisso. Não se case com alguém por quem a pessoa é, ou em quem você quer que ela se torne. Case-se com alguém por quem ele está determinado a tornar-se. E, então, passe a vida inteira se juntando a ele em seu porvir, como ele se juntará a você no seu.
2. O casamento não tira a nossa solidão
Estar vivo é ser solitário. É a condição humana. O casamento não muda a condição humana. Ele não pode fazer-nos completamente não solitários. E quando isso não acontece, culpamos nosso parceiro por ter feito alguma coisa errada, ou vamos à procura de companheirismo em outro lugar. O casamento se destina a ser um lugar onde dois seres humanos compartilham a experiência da solidão e, na partilha, criam momentos em que a solidão se dissipa. Por algum tempo.
3. A bagagem da vergonha. Sim, todos nós carregamos
Passamos a maior parte da nossa adolescência e início da idade adulta tentando fingir que a nossa vergonha não existe, mas quando a pessoa que amamos a aciona em nós, nós a culpamos por sua criação. E então exigimos que o outro corrija o que fez. Mas a verdade é que ele não a criou e não pode corrigir. Às vezes, a melhor terapia de casal é a terapia individual, em que trabalhamos para curar a nossa própria vergonha. Assim, podemos parar de transferi-la para aqueles que amamos.
4. O ego vence
Todos têm um. Viemos dele legitimamente. Provavelmente por volta dos quatro anos, quando as outras crianças começaram a ser mesquinhas conosco. Talvez mais cedo, se os membros da nossa família eram mesquinhos. O ego era uma coisa boa. Ele nos mantinha a salvo dos golpes e flechadas emocionais. Mas agora que estamos crescidos e casados, o ego é uma parede que separa. É hora de ele vir abaixo. Ao praticar a abertura em vez da defensiva, o perdão em vez da vingança, o pedido de desculpas em vez de culpa, a vulnerabilidade em vez de força, e graça em vez de poder.
5. A vida é confusa e casamento é vida
Assim, o casamento é confuso também. Mas quando as coisas param de funcionar perfeitamente, começamos a culpar o nosso parceiro pelas dificuldades. Nós adicionamos confusão desnecessária à bagunça já inevitável da vida e do amor. Temos de parar de apontar os dedos e começar a entrelaçá-los. E então podemos caminhar para e através da bagunça da vida juntos. Sem culpa e sem vergonha.
6. A empatia é difícil
Por sua própria natureza, a empatia não pode acontecer simultaneamente entre duas pessoas. Um parceiro deve sempre estar em primeiro lugar, e não há nenhuma garantia de reciprocidade. É um risco. É um sacrifício. Assim, a maioria de nós espera que nosso parceiro dê o primeiro passo. Um impasse de empatia ao longo da vida. E quando um parceiro realmente mergulha na empatia, é quase sempre um fracasso. A verdade é que as pessoas que amamos são seres humanos falíveis e que nunca será o espelho perfeito que desejamos. Podemos amá-los de qualquer maneira, mergulhando na empatia nós mesmos?
7. Preocupamos-nos mais com nossos filhos do que com aquele que nos ajudou a tê-los
Nossos filhos nunca devem ser mais importantes do que o nosso casamento, e eles nunca devem ser menos importantes. Se eles são mais importantes, os pequenos patifes vão perceber e usar isso para nos manipular. Se eles são menos importantes, aprontarão até que tenham prioridade. Família é um constante trabalho a caminho de encontrar o equilíbrio.
8. A luta pelo poder oculto
A maioria dos conflitos no casamento é, pelo menos em parte, uma negociação em torno do nível de interligação entre os amantes. Os homens geralmente querem menos. As mulheres querem mais. Às vezes, esses papéis são invertidos. Independentemente disso, quando você lê as entrelinhas da maioria das brigas, essa é a pergunta que você irá encontrar: quem decide a distância que mantemos entre nós? Se não fazemos essa pergunta explicitamente, vamos brigar por isso implicitamente. Para sempre.
9. Não sabemos como manter o interesse em uma coisa ou uma pessoa mais
Vivemos em um mundo que chama a nossa atenção em um milhão de direções diferentes. A prática da meditação – que consiste em fixar a mente em uma coisa, e se nos distrairmos, tentar voltar a nossa atenção para isso outra vez e mais uma vez – é uma arte essencial. Quando estamos constantemente incentivados a nos fixar na superfície brilhante das coisas e em seguida mudar o foco quando nos sentimos entediados, manter nossa mente focada na pessoa que amamos é um ato revolucionário. E é absolutamente essencial para qualquer casamento sobreviver e prosperar.
Como terapeuta, eu posso ensinar um casal como se comunicar em uma hora. Não é complicado. Mas e lidar com os desordeiros que começaram a briga? Bem, já isso leva uma vida inteira.
E, no entanto. É a vida que nos molda a sermos pessoas que estão se tornando versões cada vez mais amorosas de si mesmos, que podem suportar o peso da solidão, que se livram do peso da vergonha, que abrem pontes em vez de erguer paredes, que abraçam a bagunça de estar vivo, que se arriscam na empatia e perdoam decepções, que amam a todos com igual fervor, que fazem e aceitam compromissos, e que se dedicam a uma vida de presença, consciência e atenção.
E essa é uma vida pela qual vale a pena lutar.