Cheguei: Está todo mundo feliz?

O som de uma porta de garagem dispara meu coração e traz um sorriso calmo aos meus lábios cada vez que o ouço.

Lori Cluff Schade

Este artigo foi originalmente publicado no blog “Uniting Couples to Strengthen Families” e republicado aqui com permissão da autora, traduzido e adaptado por Stael Pedrosa Metzger.

Neste mês completa três anos da morte de meu pai. Eu sinto falta dele e de minha mãe. Muito. Meus pais nos deram muita segurança em rituais previsíveis. Esta é uma história que eu escrevi há um ano e que foi publicada em uma edição de seeingtheeveryday.com.É uma publicação que eu adoro, e que gira em torno do prosaico processo familiar. Eu acho que esta história mostra o impacto que os pais podem ter através de maneiras simples:

Nossa porta da garagem fornecia um som predominante de minha infância, anunciando a chegada noturna de meu animado pai vindo do trabalho de forma previsível. Era uma porta bastante comum: ripas de madeira pintadas de branco, com visíveis desgastes e lascas na pintura pelos anos de uso.

Gemidos torturados ecoavam das molas em protesto toda vez que alguém entrava. Embora muitas vezes fortes e desagradáveis, os sons que emanam de qualquer porta de garagem rapidamente se tornam um pano de fundo, despercebido pelos membros do agregado familiar distraídos pelas demandas incessantes da vida diária.

No entanto, o som de uma porta da garagem sendo levantada por um mecanismo elevador dispara um calor crescente dentro de mim. Começa no estômago e se espalha para cima, manifestando-se em um sorriso calmo em meus lábios, provavelmente indetectável para os outros, cada vez que ouço.

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Eu sorrio e penso no meu pai, que faleceu há dois anos, deixando-me de luto, mas também com um substancial senso de me sentir amada e com suficiente confiança para acreditar que eu poderia realizar qualquer coisa que eu me propusesse a conseguir. Eu ainda sinto um conforto único profundamente dentro de mim quando alguém na minha casa aperta o botão da porta da garagem, o tempo imediatamente me transporta para minha cozinha de 1970, décadas atrás, quando eu tinha seis anos de idade.

Quem tinha ouvidos podia ouvir o som alto de nossa porta em praticamente qualquer cômodo da casa. Como um relógio, todas as noites, enquanto minha mãe preparava o jantar – sinalizando a chegada iminente do meu pai – eu tinha meus ouvidos cuidadosamente alertas em antecipação ao tempo, esperando a porta da garagem alardear seu regresso a casa.

Como se a um comando, no instante em que o som chegava aos meus ouvidos, eu corria gritando pela casa, posicionando-me como uma mola para usar minhas pernas fortes e arremessar-me nos braços do meu pai. Sem fôlego de tanto gritar, “papai em casa, papai em casa”, eu me escondia atrás da porta da lavanderia, para ouvir seus passos se aproximando, a fim de me lançar em seus braços no momento certo.

No momento que ele entrava pela porta, eu pulava simultânea ao seu movimento de puxar-me para cima como se coreografados, entrelaçando meus braços em volta de seu pescoço. Isso tudo era o prelúdio de sua pergunta noturna, feita em seu típico estilo enérgico, como tinha sido na noite anterior e na noite anterior, e todas as noites antes dessa. Tá todo mundo feliz??!!!!, prolongando a primeira sílaba, como se para persuadir os espectadores mais relutantes com seu estado de espírito exuberante. Caminhando em direção a minha mãe no fogão para beijar sua bochecha, seu tom de voz contagiante fazia brilhar um sorriso entusiasmado no rosto dela. Era pura magia. “SIM, SIM, SIM, eu estou feliz!!!!!” Eu gritava, e ria enquanto ele esfregava o rosto queimado no meu rosto e comentava na minha arranhada sombra das cinco horas, provocando mais risos.

Quando meu pai morreu, meu irmão falou em seu funeral. Uma das primeiras coisas que ele mencionou foi que o meu pai acordava-nos diariamente cantando vigorosamente “Oh, que bela manhã,” de maneira um pouco intrusiva para tão cedo, e voltava à noite após um longo dia de trabalho em sua própria empresa para anunciar a sua chegada com um picante, “Está todo mundo feliz?” na verdade, todos os seus seis filhos tinham a cativante lembrança da entrada noturna do nosso pai e sua pergunta entusiasmada. Se você não estava feliz antes, então você certamente ficaria após a entrada dele na sala com sua euforia sugestiva. O ritual previsível de sua chegada gerava sentimentos semelhantes à segurança, carinho e amor incondicional em todos nós.

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Agora que eu sou uma mãe de sete filhos e conheço plenamente o cansaço que acompanha os dias longos, eu sou ainda mais grata pelo que, deve ter sido um sacrifício de sua parte. Eu percebo que, cansado ou não, era importante para ele contribuir com influências encorajadoras quando chegava em casa. Funcionou. Essas palavras tornaram-se um discurso poderoso que nos alcança muito além de sua ausência mortal. Ele criou com sucesso uma sólida energia positiva entrelaçada em nossas vidas, demonstrando a capacidade de um pai impactar seus filhos apesar de trabalhar fora de casa em uma carreira exigente.

Agora, quando o meu marido quer me animar, ele entra pela porta, e tenta imitar as entonações de fole do meu pai perguntado “Tá todo mundo feliz?!!!”

E a cada vez… Eu sinto que, na vida e no amor, eu estou em casa.

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Lori Cluff Schade

Lori Cluff Shade, Ph.D,. é Terapeuta licenciada de Casais e Família, comprometida a providenciar informações para melhorar a qualidade das relações maritais e familiares, esposa e mãe de 7 filhos.