Como ajudar seu filho a parar com as mentiras
? Dicas para entender porque as crianças mentem e como ajudá-los a parar de mentir.
Erika Strassburger
Os psicólogos dizem que é normal que algumas crianças pequenas misturem a fantasia com a realidade e, por isso, acabam inventando histórias. Segundo eles, somente após os sete anos elas conseguirão diferenciar com mais clareza o certo do errado e terão o senso ético mais bem definido. A partir dessa idade, qualquer mentira será, na maioria das vezes, consciente.
Estas crianças podem mentir por vários motivos:
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Porque veem seus pais mentindo. O exemplo dos pais vale mais do que qualquer coisa que digam. Mais do que ensinar verbalmente, eles precisam dar o exemplo. Cada mentira que os pais contam e, muitas vezes, induzem seus filhos a contar, fica incutida em suas mentes como algo admissível.
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Para obterem certas vantagens, como mentir que estão com dor de barriga para poderem faltar na escola.
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Para fugirem de punições por seus erros e esquivarem-se das suas responsabilidades.
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Para autoafirmarem-se. Com o intuito de serem o centro das atenções, mentem que, por exemplo, têm centenas de amigos nas redes sociais, fizeram uma viagem incrível, são amigos de pessoas famosas, etc.
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Porque não conseguem lidar com suas limitações, medos e culpa
Algumas crianças mentem para fugir da realidade que é muito dura para elas. Elas podem viver em meio a conflitos familiares, podem não estar atendendo as expectativas dos pais, professores ou amigos e precisam da mentira para sentirem-se aceitas.
Infelizmente, a sociedade, de maneira geral, vê a mentira como algo aceitável e até mesmo necessário em várias circunstâncias. Ao observarem como os próprios adultos mentem nas mais diversas situações, as crianças sentem-se encorajadas a mentir para atender suas próprias necessidades.
Esse é um mal que deve ser combatido. Veja o que fazer para ajudar seu filho a manter-se longe desse embuste:
1. Dê um bom exemplo e JAMAIS peça a ele que minta
Faça você mesmo o que espera da criança. Alguns pais chegam ao ponto de pedirem aos filhos para atenderem a porta ou o telefone e mentirem que não estão em casa. Ou pedem que eles mintam sobre um fato que presenciaram. O que esperar dessas crianças ao serem compelidas a agirem dessa forma?
2. Corrija os enganos desde o início
Você não precisa esperar que seu filho tenha idade suficiente para discernir uma mentira de fantasia. Vá fazendo as correções necessárias de forma delicada, ressaltando o valor da honestidade e da confiança que as pessoas depositam em nós. Se ele contar uma história mesclando verdade e mentira, você poderá ajudá-lo a recontar a história extraindo a parte inventada.
3. Aplique uma punição adequada
A fim de estimular seu filho a dizer a verdade, seja brando quando ele confessar um erro que cometeu. Sempre que possível, ajude-o a consertar o erro (por exemplo, devolver algo que pegou de alguém, contar a verdade sobre algo de valor que foi perdido, etc.). Se ele mentir sobre algo errado que fez, puna-o com mais rigor. No entanto, atente para o fato de que uma punição sem uma demonstração de amor e cuidado é uma ferramenta inútil, e geralmente conduz o pai ou a mãe a excessos e abusos.
4. Aceite-o como ele é
O mundo já é cruel o suficiente ao fazer mil exigências para que uma pessoa tenha o “privilégio” de pertencer a grupos específicos. Muitas crianças e jovens carecem dessa aceitação e inventam qualidades ou escondem suas incapacidades para se enquadrarem nas exigências impostas. Da mesma forma, para satisfazerem pais exigentes e por temerem decepcioná-los, alguns filhos acabam fingindo ser o que não são. Se você é um pai ou uma mãe exigente, que só demonstra seu contentamento e apreço pelo filho quando ele ganha uma medalha ou tira notas boas, você precisa rever suas atitudes. Saiba que está contribuindo para que ele minta e/ou sinta-se inferiorizado. Tais atitudes podem levá-lo a mentir patologicamente, além de contribuir para o desencadeamento de outros problemas psicológicos.
5. Encoraje seu filho a arrepender-se
Ajude-o a entender que falar a verdade é sempre mais fácil e libertador do que mentir. Então, em vez de criminalizá-lo ou colocá-lo contra a parede em situações em que estiver mentindo, ofereça-se para ajudá-lo a achar soluções para o problema. Valorize as ocasiões em que ele está sendo honesto. Elogiá-lo por atitudes corretas é mais produtivo do que criticar por atitudes erradas.
6. Procure ajuda de um profissional em casos mais graves
Segundo o psicólogo Roque Theophilo, “algumas crianças, sabendo da diferença entre a verdade e a mentira, elaboram histórias que parecem verdadeiras. Estas crianças e adolescentes relatam histórias com grande entusiasmo, já que são ouvidos com muita atenção embora falando mentira. Outras crianças e adolescentes, que geralmente agem de forma responsável, podem cair no vício de começar a mentir repetidamente. Eles acreditam que dizer mentiras é a melhor maneira de satisfazer as perguntas de seus pais, professores e amigos. Tais pessoas usualmente não estão procurando ser maldosos, porém, por mentirem repetidamente se converte em vício”. Ele aconselha: “quando a criança ou o adolescente desenvolve um comportamento usual de mentir, então necessita de ajuda profissional. Uma avaliação psicológica pode ajudar a criança e seus pais a entender o comportamento da criança com referência à mentira e pode também lhes dar orientações para o futuro.”.
Para finalizar, vou mencionar o caso mais grave: a mentira compulsiva. Sobre ela, o PhD em psicologia Timothy Quek diz que são casos associados a outros“distúrbios do comportamento social, principalmente Déficit de Atenção, Hiperatividade e Transtorno de Conduta. (…) em tais casos, a mentira compulsiva geralmente acompanha problemas de comportamento, tais como roubo, fraude, agressão, birras violentas, fuga da escola, perda constante de objetos e mau comportamento em grupos, definições sociais ou com figuras de autoridade. Problemas como impulsividade, uma aparente incapacidade de ligar consequências ao comportamento, desatenção e desconforto com situações sociais podem estar no centro do problema”. Em tais casos faz-se necessária uma “intervenção imediata”, adverte o psicólogo.