Como identificar e combater a tirania infantil
? Se sua criança está nervosa, autoritária e fazendo birra a todo instante, ela pode estar desenvolvendo o que os psicólogos chamam de 'tirania infantil'. Veja aqui o que fazer.
Erika Strassburger
As crianças tiranas deixam qualquer um de cabelos em pé. Elas afetam o relacionamento dos pais e têm dificuldade de conviver socialmente. O pediatra e professor da UNESP, Dr. Belmiro d’Arce, ressalta que desde que nasce a criança comporta-se assim. “Essa reação ocorre, primeiro, porque a criança não tem, ainda, mecanismo interno para lidar com frustrações e irrita-se, chora, grita, sempre que as coisas não saem como e na hora que quer; segundo, por não ter noções de valores, propriedades, espaços e direitos alheios: acha que o mundo todo lhe pertence, está à sua disposição e quer tudo que está a sua volta. Esse comportamento egoísta e tirano que ocorre desde o nascimento, deve ser gradativamente perdido através do processo de educação desenvolvido pelos pais.”
Em muitos casos, os pais têm dificuldade para ajudar seu filho nesse processo de compreensão e amadurecimento emocional. Ele vai crescendo e continua se comportando como se tudo girasse em torno dele. É muito mais fácil para os pais identificar a tirania nos filhos dos outros do que no seu próprio filho. É complicado aceitar que se está sob a mira de uma criança assim. Afinal, “é sangue do meu sangue, aquele que vai dar continuidade à família. Ele precisa saber se defender!”, consolam-se.
Numa entrevista ao Jornal Bebedouro, o psicólogo Francisco Bárbaro Neto defende que “a tirania não é um fator genético, mas construído nas interações sociais da criança”. Ele acredita que a família não é a única culpada por esse comportamento, mas que tudo pode contribuir para isso: o ambiente escolar, seus amigos, inclusive os programas de TV.
A psicóloga Munira Akrouche também foi entrevistada pelo jornal supracitado. Ela afirma que “amaioria dos pais fica muito tempo fora de casa e quando estão com seus filhos querem recuperar o tempo perdido, mimando de todas as maneiras”. Segundo ela, apesar de a personalidade influenciar no comportamento da criança, é o ambiente familiar que mais vai influenciá-la na sua formação e na construção da sua identidade, que ocorre durante a infância a adolescência.
Veremos agora alguns fatores relacionados ao comportamento tirano em crianças, aonde tais comportamentos podem levar e o que pode ser feito para combatê-lo:
1. Como se comporta uma criança tirana?
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Ela faz de tudo para ser o centro das atenções.
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É impulsiva e passional.
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Tenta mandar nos pais.
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Quer ter sempre a última palavra.
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Pode agredi-los fisicamente quando é contrariada.
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Grita com eles.
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Faz birra até conseguir o que quer.
2. Que atitudes dos pais contribuem para que seu filho se torne um tirano?
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Não dão limites ou são rígidos ao extremo.
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Fazem tudo por ele, desde pegar algo que caiu da sua mão, juntar seus brinquedos, ou qualquer outra coisa que poderia fazer sozinho.
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Brigam entre si na frente do filho.
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Desautorizam o cônjuge diante do filho.
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Não dão regras claras e consistentes. Ora permitem que algo seja feito, ora proíbem, deixando a criança confusa.
3. O que leva os pais a serem tão permissivos?
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Não querem ver seu filho triste ou frustrado.
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Sentem culpa por não poderem dar mais tempo a ele.
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Não desejam ter de presenciar uma birra.
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Não querem ter de lidar com a agressividade do filho.
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Tem medo de perder o seu amor.
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Não querem que seu filho viva sob o mesmo regime autoritário que viveram quando eram crianças.
4. Qual será o futuro de uma criança tirana?
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Continuará com a mesma dificuldade para lidar com a frustração.
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Poderá tornar-se um Bully (aquele que pratica bullying)
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Poderá ter dificuldade em se relacionar sadiamente com outras pessoas.
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Tende a se tornar um profissional insubordinado e/ou autoritário.
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Poderá tornar-se intolerante, teimoso, narcisista e agressivo.
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Poderá chegar ao extremo de cometer delitos ou fraudes para conseguir o que quer.
5. O que os pais devem fazer para impedir que seu filho se torne um tirano, ou para que ele deixe de sê-lo?
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Não tenham medo tampouco pena de dizer “não”.
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Estabeleçam regras claras e necessárias. Sem exageros.
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Não cedam às suas birras ou chantagem emocional (aprendam um pouco sobre isso lendo o artigo “Como lidar com o escândalo infantil em público”).
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Tenham pulso firme ao dar-lhe uma ordem. Ele precisa reconhecer a sua autoridade.
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Ensinem-lhe sobre a relação dinheiro/trabalho. Deem-lhe pequenos trabalhos (que não sejam tarefas rotineiras, pois ele precisa aprender a ajudar sem esperar recompensa) e paguem-lhe por isso. Ele precisa compreender o quanto vocês se sacrificam para ganhar dinheiro.
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Deem-lhe tarefas e responsabilidades: juntar os próprios brinquedos, colocar suas roupas sujas no lugar certo, juntar aquilo que derrubou, cuidar dos seus pertences, arrumar o próprio quarto, etc.
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Criem oportunidades para ele servir outras pessoas.
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Ensinem-lhe a respeitar as outras pessoas.
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Deem uma punição adequada, sempre que necessário.
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Depois de puni-lo por um erro, demonstrem seu amor. Ele não pode vê-los como “inimigos”, mas pessoas que o amam e querem o seu bem.
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Jamais desautorizem um ao outro diante dele. Vocês precisam conversar entre si e decidirem juntos as regras da casa. Precisam mostrar para o filho que estão de acordo nas decisões tomadas.
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Jamais sejam agressivos uns com os outros, seja por palavras ou ações. O pais devem dar exemplo de equilíbrio, moderação e amor.
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Dediquem tempo suficiente a seu filho. Deem-lhe atenção e um espaço na sua vida.
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Escutem o que ele tem a dizer. Através de uma conversa franca, vocês poderão identificar o porquê da sua rebeldia. O diálogo é a chave para evitar conflitos.
Alguns especialistas afirmam que quando a criança cresce e a tirania permanece, é sinal de que os pais precisam de ajuda terapêutica e não os filhos. Em outros casos, algumas patologias como o TDAH têm a tirania como um de seus sintomas. Por isso, é necessário buscar ajuda de profissionais, para que um diagnóstico adequado seja feito e a medida terapêutica correta seja aplicada.