Como lidar com uma criança adotada que é problemática

A criança adotada, principalmente as mais velhas, será, sim, uma criança problemática. Mas a intensidade dos problemas dependerá do tempo e do amor dedicado ao relacionamento.

Beth Proenca Bonilha

Crianças que estão para adoção, geralmente, já passaram por muita tristeza, dor e perda causadas pela negligencia, rejeição, maus tratos, abandono, agressões, abusos, desnutrição, entre outras situações que culminaram com a retirada delas de suas famílias biológicas. É o poder judiciário, na atribuição de proteger os direitos dessas crianças, que toma a decisão e as encaminham para um abrigo, na esperança de que as famílias biológicas se regenerem ou que outras famílias adotem-na e assim elas tenham a oportunidade de serem felizes a partir daquele momento.

Em caso de adoção, o início do novo relacionamento não é fácil. É muito comum encontrar relatos de famílias que não conseguiram fazer a integração da criança à família e justificam isso ao comportamento problemático dela. O que não deixa de ser parte da verdade, pois como falamos no início deste artigo, essa criança passou por muitas coisas negativas em sua vida e tem dificuldade em confiar nos adultos, dificuldade de se relacionar com outras crianças, devido a sua baixa autoestima, por não saber dar e receber carinho. Normalmente, ela não se comunica, não verbaliza o que deseja e então reage agressivamente a suas limitações e desejos que nem ao menos consegue entender exatamente quais são.

A sugestão é que tanto a criança como a família que a irá adotar tenha a oportunidade de criar o relacionamento de forma tranquila, sem cobranças, sem preconceitos ou pressa.

Infelizmente, isso não é muito bem direcionado pelos profissionais do cartório da vara da infância e pelos psicólogos, assistentes sociais e até mesmo pelos juízes, pois é normal que eles estejam atolados de processos e casos para resgatar, dar início e término.

Buscar ajuda especializada

Com isso, as famílias precisam buscar ajuda de instituições não governamentais, particulares e na comunidade, para que possam aprender a lidar com a situação. Vocês verão que muitas outras pessoas estão passando pelos mesmos problemas e isso os ajudará a encontrar soluções, entender a situação e aprender a lidar com ela.

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Amar como um filho de verdade

Outra maneira de lidar com uma criança adotada que seja problemática é amá-la incondicionalmente como amaria um filho de sangue que também se tornasse problemático pela separação dos pais ou por algum trauma que causasse algum tipo de distúrbio emocional. Esse filho seria amado incondicionalmente e a luta pela reabilitação do relacionamento iria até as últimas e mais inimagináveis tentativas.

Usar bom senso e autocontrole

Evite crítica ou rótulos do tipo: “Você é assim porque tem sangue ruim!” “Nem sua mãe quis você!” Esse tipo de colocação só fará com que a criança intensifique ainda mais a revolta que traz dentro de si, acreditando ser mesmo uma pessoa problemática e difícil de lidar e assim agindo cada vez com mais intensidade nesse paradigma.

Todo comportamento observado na criança, que seja indício de que algum tipo de problema vai se iniciar, deve ser tratado imediatamente com atenção e controle, por exemplo: a criança começa a fazer birra por não querer tomar banho ou ir à escola. O responsável por ela deve se posicionar com autoridade e amor mostrando a criança que ela tem regras a seguir e que seu amor por ela é tão grande que vai ajudá-la a entender e respeitar essas regras. É importante dar tempo para que a mudança aconteça e acredite na mudança, sim. Mas que será em um passe de mágica, nunca! Isso é ilusão e só trará mais frustração.

Há inúmeros casos de devolução de crianças, porque a família não soube como lidar com seu comportamento, às vezes agressivo, às vezes apático, às vezes, simplesmente, por não estarem dispostos a enfrentar a experiência de viver com uma criança que é problemática por não saber ser diferente. Essa família não dá o tempo necessário nem busca os recursos e ajuda para solucionar os problemas.

A criança adotada, principalmente as mais velhas, será, sim, uma criança problemática, mas a intensidade desses problemas e o tempo que durará vai depender da forma como foi recebida e tratada pela nova família. O ser humano é imensamente adaptável ao novo e também resistente a princípio, mas incrivelmente capaz de se adaptar ao bem ou ao mal.

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Beth Proenca Bonilha

Graduada em Administração de Empresas com MBA em Empreendedorismo. Casada mãe de 6 filhos, avó de 2 netos. Atua profissionalmente como Analista Instrutora da Educação Empreendedora no SEBRAE - SP. Como hobby gosta de artesanato, música e leitu