Como sobreviver ao câncer juntos
Uma experiência de vida que ensinou-me como ajudar o cônjuge com câncer.
Denise Anderson
Senti-me desamparada ao observar meu marido deitado na cama do hospital conectado a todos aqueles aparelhos. O que eu poderia fazer para ajudá-lo a superar o problema? E como eu o superaria? Tudo o que compunha o quarto do hospital e aquele cheiro me deixavam com náuseas. Eu já tinha passado por tantos hospitais em minha vida, e aquilo era demais.
Normalmente, era eu que ficava internada. Ele sempre me acompanhou quando dei à luz aos nossos filhos e também em minhas várias crises de saúde. Era ele quem sempre sabia o que fazer, mas dessa vez, lá estava ele, lutando pela vida! Vamos superar este problema, e vamos superá-lo juntos!
Naquela época as pessoas nem pronunciavam a palavra “câncer” quando falavam sobre a doença. Ser diagnosticado com câncer era o equivalente a uma sentença de morte. Quando nossa filha mais velha recebeu o diagnóstico de leucemia (câncer no sangue) quando tinha apenas três anos de idade, os médicos disseram que ela tinha uma chance de 80% de sobreviver; e isso só porque ela era bem novinha. Vinte anos mais tarde, quando meu marido recebeu o diagnóstico de câncer de cólon, não falamos sobre as taxas de sobrevivência, mas sobre a remoção do tumor, quimioterapia, se fosse necessária, e sobre levar a vida adiante.
Cartões, cartas e presentes chegavam aos montes, enviados pela família e pelos amigos. Eu me sentava ao lado de meu marido e lia com ele sobre o amor, as preocupações e orações que os cartões e as cartas traziam. Choramos juntos ao sentir o amor daquelas pessoas caridosas. Eu guardava os cartões e a as cartas em uma pasta. Mais tarde, quando o desânimo batia à nossa porta nas sessões de quimioterapia, reler aquelas mensagens trazia consolo.
Eram muitas as perguntas. E se ele não sobrevivesse? O que iria acontecer com nossa família? E se ele ficasse inválido? Como iríamos cuidar dele? E o preço do tratamento; será que conseguiríamos que fosse feito mais perto de casa? Quanto tempo ele iria ficar no hospital? O que iria acontecer quando ele voltasse para casa? As respostas vieram muito lentamente.
Ainda tínhamos três filhos adolescentes na escola. Para que eu estivesse disponível para dar apoio emocional a meu marido, era preciso que outra pessoa cuidasse das necessidades de nossos filhos. Amigos e parentes entraram em cena, permitindo que eu ficasse ao lado de meu marido. As horas se tornaram dias enquanto o corpo dele voltava a seu funcionamento normal.
Após a primeira hospitalização, meu marido se sentia renovado. O tumor tinha desaparecido e meu marido teve sua energia de volta. Testes patológicos indicavam que ainda havia risco e os médicos prescreveram sessões de quimioterapia. Fomos às sessões juntos sempre que possível. O simples fato de nos darmos as mãos enquanto ele aguardava na sala de espera nos consolava e trazia paz. Sabíamos que independentemente do que acontecesse, estávamos juntos. Sempre que os testes eram realizados, ouvíamos os resultados juntos.
Era difícil suportar os efeitos colaterais da quimioterapia: náusea, fadiga e exaustão mental. Era difícil para mim e para nossos filhos ver a pessoa que amávamos, antes forte e saudável, incapacitado em uma cama. Combinar nossos esforços para servi-lo ajudou-nos a encontrar forças um no outro e na fé que tínhamos de que ele seria curado.
Dizem que quando alguém tem câncer, existe a possibilidade de que a doença retorne. Não queremos pensar nisso agora. Só queremos sentir a gratidão por ele estar vivo e bem. Nosso amor está mais forte que nunca, pois vencemos essa tempestade juntos.
Traduzido e adaptado por Wagner Vitor do original How to survive cancer together, de Denise Anderson.