Dor crônica: a dor de conviver diariamente com o próprio corpo
Você consegue imaginar como é dormir mal ou ser acordado pela dor todas as manhãs? Esse é o dilema de quem tem dor crônica.
Stael Ferreira Pedrosa
A dor é necessária para a sobrevivência. Sem ela, estaríamos sujeitos a nos cortar até decepar um membro, a nos deixar queimar até carbonizar ou não perceber uma doença que pode ser fatal. É ela que avisa que nossa integridade está em risco.
O problema surge quando a dor se torna crônica, causando sofrimento contínuo para o portador. São várias as causas para a dor crônica que tende a ser incurável em muitos casos, levando a sentimentos de desesperança, isolamento social entre outros problemas. A OMS estima que cerca de 30% da população mundial apresenta dor crônica.
O que é a dor
Segundo o IASP, sigla em inglês para Associação Internacional para Pesquisas da dor, esta é uma experiência sensorial e emocional desagradável associada normalmente a um dano corporal ou tecidual.
As dores se dividem em agudas ou crônicas
Aguda
É aquela dor natural que surge como sintoma por algum ferimento, trauma, doença ou inflamação. É geralmente de duração relativa à lesão e pode ser amenizada por analgésicos e antinflamatórios.
Crônica
A dor crônica deixa de ser um sintoma e passa a ser a doença que pode ser agravada por fatores externos e ou psicológicos. Costuma ser resistente a tratamentos e persiste por mais de três meses; e em alguns casos, não tem cura. Também pode ser considerada dor crônica uma dor que normalmente não cessa no tempo esperado.
A origem está no sistema nervoso central e pode não ter um ponto fixo de dor, sendo considerada dor difusa, tais como Síndrome da Fadiga Crônica, fibromialgia e dor neuropática causada por diabetes.
De acordo com o site tua saúde, existem dois tipos conhecidos de dor crônica, a dor neuropática e a nociceptiva, e uma associação de ambas – a dor mista ou inespecífica, as origens mais comuns são:
1 Neuropática – surge por lesão nos nervos: neuropatia diabética, síndrome do túnel do carpo, neuralgia do trigêmeo, estreitamento do canal medular, dor que surge após um AVC, neuropatias de causas genéticas, infecciosas ou por substâncias tóxicas.
2 Nociceptiva – surge por lesão nos tecidos: corte, queimadura, pancada, fratura, entorse, tendinite, infecção, contraturas musculares. Lesões que se resolvem, mas a dor permanece no local.
3 Dor mista ou inespecífica – além da associação de ambas as dores acima, ainda pode ter causas inespecíficas: dor de cabeça, hérnia de disco, câncer, vasculite, osteoartrose que pode atingir diversos locais como joelhos, coluna ou quadril, por exemplo.
Como é comum associar-se a dor uma doença ou a intensidade da dor com o grau de gravidade de uma doença, essa relação não acontece na dor crônica. É possível ter uma dor intensa não relacionada a qualquer doença específica, além da própria dor.
As doenças que podem causar dor crônicas costumam ser aquelas sem cura, como artrite reumatoide e hérnia de disco. Doenças com mau prognóstico, também como o câncer, podem causá-la, assim como lesões que causam alterações em longo prazo no sistema nervoso, tornando uma dor simples em algo significativo.
No IX Cindor – Congresso interdisciplinar de Dor da USP, discutiu-se que, na maioria dos casos, existem processos físicos ligados ao prolongamento da dor, tais como a dor do câncer, que é o principal fator. No entanto, embora haja uma causa física, os fatores psicológicos podem ser fatores contribuintes.
Além da dor
O paciente de dor crônica, além de sofrer continuamente com as dores, ainda enfrenta problemas que agravam o psicológico, tais como a busca pela credibilidade às suas dores entre os familiares, ambiente de trabalho e médicos. Esse desgaste em provar que está sofrendo, embora não haja muitas vezes uma doença, pode causar ou agravar problemas psicológicos que acabam perpetuando a dor, como a depressão. Dificultando ainda mais o diagnóstico.
Como saber se o meu problema é dor crônica
Sinais e sintomas
Segundo o IX Cindor, na maioria dos casos surgem os chamados sintomas vegetativos, que tendem a se intensificar com o tempo:
- Cansaço
- Distúrbio de sono
- Diminuição do apetite
- Perda do paladar por comida
- Perda de peso
- Diminuição da libido
- Constipação intestinal
A dor crônica é limitante profissional e fisicamente, podendo trazer prejuízos financeiros e psicológicos. Costuma ser a origem de depressão e ansiedade interferindo em todas as atividades, afastando socialmente e fazendo parecer que o portador é hipocondríaco, quando, no fundo, ele só deseja alívio.
Diagnóstico
O diagnóstico é feito excluindo-se as causas físicas, através de exames laboratoriais e de imagem. Quando não surge nestes, relação causal entre doença e intensidade da dor, deve-se buscar as causas psiquiátricas (por exemplo, depressão) e psicológicas para a dor e para o alívio e restauração.
Tratamento
Se houver causa específica para a dor, esta deve ser tratada, se não houver resposta adequada ao tratamento, deve-se buscar a abordagem multidisciplinar.
Medicamentos
Prescritos por médico, que pode incluir anti-inflamatórios ou outros, dependendo do tipo de dor.
Exercícios físicos
Embora a dor traga aversão ao exercício físico, este é altamente útil, pois produz um analgésico natural, a endorfina, que é liberada através do exercício. Além disso, o exercício fortalece os músculos, o que beneficia e protege os ossos.
Fisioterapia
A fisioterapia, embora seja indicada para dores agudas e reabilitação, tem tratamentos que agem como analgésico.
Infiltração
Existem ainda tratamentos para bloqueio da dor que utilizam agulhas, como a radiofrequência, que introduz uma agulha até chegar aos nervos e injeta medicamentos especificamente neles. É feito com anestesia.
Cirurgia
Em alguns casos específicos, a dor pode ser controlada por métodos cirúrgicos.
Alimentação
Existem alimentos que exacerbam a dor, geralmente os de cor escura como café, chocolate, chá preto e alimentos processados (como os embutidos) e carboidratos refinados. Troque-os por chás de ervas, carnes frescas e magras (frango, peixe), frutas, verduras e legumes.
É possível se livrar da dor. Ninguém deve estar condenado a viver todos os seus dias afastado de suas tarefas cotidianas ou de atividades que lhe dão prazer, sofrendo muitas vezes a incompreensão dos que lhe rodeiam. Procure um médico, lute por sua qualidade de vida emocional e física.
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