Ensinando seu filho a respeitar os mais velhos
“Os filhos, se tratados como príncipes quando crianças tornam-se tiranos quando maiores”.
Beth Proenca Bonilha
Há ocasiões em que pensamos que os filhos não aprenderam nada do que ensinamos, ou que não entenderam, ou realmente não ensinamos! Isso não é privilégio de nenhuma mãe ou família específica. Na verdade, penso que todos nós um dia passaremos por uma situação que nossos filhos irão agir de maneira inadequada e acabaremos pensando: “Onde foi que eu errei?”.
Meu filho tinha quatro anos quando fomos convidados para a festa de aniversário da mãe de um amigo. Ela estava completando oitenta e dois anos, uma senhorinha graciosa. Além da idade avançada, ela era de estatura pequena e franzina. Ao entrarmos em sua casa, ela veio arrastando os pés para nos cumprimentar. Minhas duas filhas, que estavam na frente, receberam o abraço que ela lhes deu. Em seguida, meu esposo, meu filho e eu entramos. Assim que ela se aproximou do meu filho mais novo, ela levantou uma das mãos como se fosse afagar-lhe os cabelos, mas antes que chegasse até sua cabeça ele deu-lhe um tapa na palma de sua mão, que fez com que ela se desequilibrasse. Na verdade, naquele momento, quem se desequilibrou e ficou envergonhada fui eu. No mesmo instante o peguei pelas mãos e chamei-lhe a atenção firmemente. Ele chorou e saiu triste em direção ao quintal.
Mais tarde, quando o clima já estava em harmonia, todos descontraídos e alegres, meu filho veio sentar-se em meu colo e aproveitei para falar-lhe novamente sobre sua atitude desrespeitosa. Então ele me disse choroso: “Mas mãe, eu não bati nela. Ela fez ‘Yes‘ para mim. E eu, fiz ‘Yes‘ para ela. O fato de ela ser pequenina e a idade a tornou vagarosa em seus movimentos, ele interpretou que ao levantar a mão em direção a ele estivesse o cumprimentando como jovens que batem as palmas das mãos e dizem “Yes”.
Me senti muito pior do que quando o fato aconteceu, pois ao entender a intenção de meu filho senti-me cruel e ao mesmo tempo inadequada quanto ao ensinamento que havia dado a ele sobre como devemos nos comportar perante os idosos. Me questionei se o havia instruído sobre como agir diante de um deficiente físico ou mental, de pessoas de outras etnias e religião ou crenças diferentes das nossas.
As crianças geralmente aprendem por nossa orientação, e, principalmente, por nosso exemplo. Ficou esclarecido que o que aconteceu não foi uma forma de desrespeito premeditado por parte de meu filho, mas deixou claro que eu, como mãe, deveria prestar mais atenção sobre a maneira que estava ensinando certas coisas a meus filhos.
Depois do que aconteceu, conversamos bastante sobre o que é ser uma pessoa idosa, como ela se sente, como devemos ser respeitosos e cuidadosos com elas. Vimos fotos e vídeos sobre costumes e tratamento aos idosos em diversas culturas. Visitamos um asilo. Na ocasião, meus avós ainda eram vivos e sempre que íamos visitá-los comentávamos de seus costumes; de como eram vigorosos quando mais jovens e como a idade os havia limitado. Por isso a necessidade de ter paciência e atenção.
Também me preocupei em buscar mais informações sobre como evitar certos constrangimentos que normalmente os filhos nos causam em ocasiões como visitas a outras pessoas e visitas em nossa própria casa.
Gosto muito da forma como ensina o educador e psiquiatra infantil Içami Tiba, com seu Livro “Quem Ama, Educa”.
A importância de cuidar dos idosos
Pudemos visitar meu sogro naquela mesma semana, ele já tinha mais de setenta anos. No caminho até lá, fomos falando sobre a forma como deveríamos agir caso o avô dissesse algo que não gostássemos, como por exemplo, se ele ficasse irritado pelo barulho que as crianças estivessem fazendo enquanto ele assistia a um programa de televisão e que talvez seria melhor que fossem brincar em outro lugar.
Decidimos que quando algo fosse perguntado deveríamos responder de forma clara e atenciosa.
Lembro-me que por muito tempo tratamos desse assunto sempre que aparecia uma oportunidade ou momentos que nos propiciasse alguma experiência. Por exemplo, ceder lugar na fila aos idosos, ceder lugar para se sentarem, oferecer ajuda para levantarem-se caso percebêssemos alguma dificuldade.
Hoje meu filho tem vinte e um anos e percebo o respeito que ele demonstra às pessoas mais velhas. Meu pai tem setenta e cinco anos e comentou comigo, outro dia, sobre como ele é atencioso quando estão conversando. Tenho um cunhado, que mora conosco também, e está muito doente. Meu filho é cuidadoso com ele e mostra interesse sobre o tratamento que ele está fazendo.
Tive mais três filhos depois dele, e procurei atentar-me mais para o tipo de educação que dei a eles quanto ao respeito e atenção com as pessoas mais velhas, sejam da família ou não.
Tenho dois netinhos, de quatro e sete anos, e vejo como minha filha repete os meus ensinamentos na educação deles, pois são crianças amorosas e respeitadoras com os mais velhos.
Encerro com uma frase do professor Içami Tiba que nos faz pensar sobre o que temos feito sobre a educação de nossos filhos:
“A família atual tem que incluir a cidadania na educação dos seus filhos. É a cidadania familiar praticada desde a infância. Os filhos, se tratados como príncipes quando crianças tornam-se tiranos quando maiores”.