Ensinar valores aos filhos é abrir-lhes o caminho para uma vida mais feliz

As melhores coisas da vida não têm preço, têm valor.

Stael Ferreira Pedrosa

De acordo com Telma Pileggi Vinha, professora da Unicamp, pesquisas mostram que há um “desencontro” comum entre o discurso e a ação na cultura brasileira. O brasileiro se crê honesto e íntegro, mas no seu cotidiano exerce algumas atividades que considera erradas. Geralmente, essas atividades são condenadas no outro e justificadas pela pessoa que as exerce.

Ela cita exemplos como: estacionar em local proibido, comprar produtos piratas, levar para casa toalhas de hotel, etc., criando a falsa ideia de que “eu sou confiável, o outro não”. No entanto, tais atos afetam toda a sociedade e criam uma “cultura” de desonestidade que se reflete em dificuldades no cotidiano da mesma sociedade, tanto no âmbito coletivo quanto no privado.

O biólogo, psicólogo e epistemólogo suíço, considerado um dos mais importantes pensadores do século XX, Jean William Fritz Piaget, ou Jean Piaget como é mais conhecido, teoriza que a criança nasce num estado denominado anomia, ou fora do universo das leis, da moral, passando em seguida para o estado de heteronomia, em que é governada por outros, geralmente os pais, para então desenvolver a autonomia, quando governa a si mesma.

Entre a anomia e a autonomia, ou seja, na heteronomia é que os pais ou cuidadores se encarregam de construir o senso de moral da criança, seu senso de valores que perdurará por toda a vida.

O papel dos pais e ou cuidadores na construção da moral

A moral não é uma lição pronta ou conjunto de normas pré-elaboradas que os pais vão passar aos seus filhos, ela é construída na interação familiar e em todos os atos decorrentes, ou não, desta interação. Por exemplo, os pais ensinam honestidade aos filhos começando por lhes dizer a verdade sempre, de acordo com sua capacidade de compreensão e sendo honestos em todos os atos vistos ou sentidos pela criança.

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É muito comum um pai ou mãe dizer à criança que ela não deve mentir e quando chega um cobrador ou um visitante indesejado, pedir à criança para dizer que “ele, ela, não está em casa”, criando na criança a concepção de que é permitido mentir, desde que evite um problema ou constrangimento, voltando ao que a professora Telma Pileggi Vinha chama de autojustificação.

A honestidade, integridade e autorregulação são investimentos afetivos de acordo com Piaget. São valores a serem transmitidos aos filhos e refletem aquilo em que a família realmente acredita, como bons modos, obediência, cortesia, empatia, senso comunitário e que cada um é responsável por seus atos.

Para que esses valores sejam assimilados pela criança, eles devem estar presentes, conforme dito antes, na interação familiar e em todos os atos decorrentes ou não dessa interação, ou seja, os pais devem ser o modelo do comportamento que desejam que seus filhos tenham.

Como ensinar valores às crianças?

De acordo com Cris Poli (a Supernanny), não é preciso grandes métodos. Além de ser exemplo, basta organizar a casa, estabelecer horários e regras e deixar as crianças saberem quem dá as ordens. Mas, isso ensinará valor às crianças? A resposta é sim.

Dar regras é dar limites, tais limites estão definidos dentro de uma ética familiar sobre o que se pode ou não se pode fazer. Os limites, além de direcionar para o comportamento certo, ainda dão segurança à criança sobre até onde ela pode ir, fazendo-a sentir-se tranquila e cuidada, aumentando sua autoestima.

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Quando os pais assumem a responsabilidade pela educação dos filhos, isso forçosamente os faz olhar para os filhos e exercer a presença e atenção em relação a eles, e então, modelar o comportamento que eles devem desenvolver.

Leia: 10 maneiras de estragar um filho

Ao fazer isso, os pais mostram às crianças que elas são importantes, criando um relacionamento de confiança e amor que fazem com que as crianças queiram estar mais próximas e agir como seus pais.

Isso, evidentemente, não eliminará todos os problemas familiares, ainda surgirão brigas entre irmãos, desobediência em alguns casos e a necessidade até mesmo de um castigo correcional (momento para pensar no que fez). No entanto, quando os problemas parecem insuperáveis, seja por regras, conversas e metas, os pais devem buscar ajuda profissional. Bater, jamais! Isso só ensina à criança que, às vezes, ela pode ser violenta.

A autoestima da criança e a fixação de valores

Quanto mais a criança se sente amada e assistida pelos pais, maior sua autoconfiança e autoestima. Quanto mais autoestima, mais “blindada” ela se torna contra as influências externas e maior a valorização do que lhe é ensinado no lar.

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Quando a criança tem corretos valores, ela não tende a ceder a falsos conceitos em detrimento do que lhe é verdadeiro. Em uma de suas fábulas “O cervo e o Leão”, Esopo traz o exemplo do cervo que não se via em sua totalidade e valorizava o que não era tão importante, em detrimento do que tinha real valor no seu mundo. Diz a fábula que:

 Um cervo bebia água em um riacho quando viu seu reflexo na água. Observou suas pernas finas e achou-as muito feias, enquanto considerava que a galhada de seus chifres era muito bonita e formosa.

Quando saía dali, surgiu um Leão que começou a persegui-lo. Com os pés, que havia desprezado, ganhava velocidade e com isso se distanciava de seu predador.

No entanto, surgiu um problema, sua galhada tão bonita se enroscava nos ramos das árvores, o que diminuía sua vantagem. Enquanto corria, pensava “Como fui bobo, desprezando o que me é mais importante e elogiando o que para mim tem menos valor”.

Essa fábula ensina que se deve exaltar os valores que nos ajudam a vencer nossos desafios cotidianos e não o que é apenas bonito, e que a autoestima deve estar baseada em nossas capacidades e talentos e não em nossa aparência.

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A importância dos valores corretos

Todos querem que seus filhos façam boas escolhas, e isso só pode ser feito quando a criança sabe o que é bom e o que é ruim. Não é necessário (nem aconselhável) que elas aprendam isso vivendo. É responsabilidade dos pais ensinar a criança o que é bom e o que não é.

A dica da Supernanny é ponderar previamente sobre os valores que os pais acreditam e desejam que seus filhos desenvolvam, e nunca agir de forma contrária a esses valores criando confusão na mente das crianças.

São comportamentos às vezes sutis que podem desencadear na criança um senso equivocado de valores, como comer algo dentro de um supermercado e não pagar por isso, tirar uma embalagem do freezer e desistindo de levar, deixar em qualquer lugar não refrigerado, não devolver o troco a mais ou avançar um sinal de trânsito, mesmo que a via esteja livre de carros.

Afinal, não existe pequeno delito ou meio delito quando o que está em jogo é a educação de seu filho. Se seus valores são frouxos, o que você passa para a criança é que de vez em quando pode mentir um pouco, roubar uma coisinha ou mesmo quebrar regras. Então, quando a criança, mais tarde, fizer isso, a culpa é de quem lhe passou um valor frouxo e flexível.

Mas, nunca é tarde para corrigir a rota e tentar criar valores sólidos para seus filhos. Comece agora mesmo e crie filhos mais felizes e prontos para a autonomia.

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Instrui o menino no caminho em que deve andar e até quando envelhecer, não se desviará dele.

Provérbios 22:6

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Stael Ferreira Pedrosa

Stael Ferreira Pedrosa é pedagoga, escritora free-lancer, tradutora, desenhista e artesã, ama literatura clássica brasileira e filmes de ficção científica. É mãe de dois filhos que ela considera serem a sua vida.