Família tóxica? Fugir ou refrear a relação nociva
Erika Otero Romero
Para que alguém tenha o poder de nos ferir emocionalmente, deve haver um vínculo afetivo. Infelizmente, muitos dos danos que recebemos vêm das pessoas que menos esperávamos que nos magoassem: nossa família.
Não existem famílias perfeitas, o que existem são seres que se amam e aprenderam a viver em comunidade. Ainda assim, também há pessoas que foram muito feridas na infância, elas têm dificuldade em ser pais funcionais. Apesar disso, muitos tentam não repetir esses padrões parentais. Eles se esforçam da melhor forma que podem para serem pais amorosos e cuidadosos.
Uma criança ou adolescente pode sofrer maus-tratos, até mesmo de seus tios e avós. É fato que ninguém espera que a própria família, sangue do seu sangue, cause-lhe algum dano, mas acontece, e mais vezes do que se gostaria.
Diante desse tipo de situação, devo dizer que a melhor coisa a fazer, para sua saúde mental e emocional, é cortar qualquer relação com eles.
O que é um relacionamento familiar tóxico?
Já ouviu alguém reclamar que o pai era violento quando enchia a cara? Algum amigo reclamou que sua mãe batia nele sem motivo aparente?
Há até casos de avós e tios que, sem um pingo de prudência, deixaram o neto saber que eles duvidavam que ele fosse seu neto porque acreditavam que era filho de outro homem.
Também há casos em que as próprias tias falam mal dos sobrinhos. Existem até pais que tornam notável sua preferência por um filho e desprezam outro abertamente.
Além do mais, a toxicidade pode até ser disfarçada de gentileza. Existem pais e mães que são emocionalmente dependentes dos filhos, tanto que não os deixam (sob chantagem) sair de casa. Outros ainda transferem a responsabilidade das crianças mais novas para as mais velhas. Não, quem decide trazer filhos ao mundo é quem deve criá-los e cuidar deles.
O pior de tudo, como diz a psicóloga Laura Rojas, é que “a família é algo que você não pode escolher”. Você nasce em uma e tem duas opções: aceitar ou resignar-se. No entanto, atrevo-me a acrescentar dois: você aprende a lidar com ela e põe um freio, ou você foge o mais rápido possível. Ninguém, por mais familiar que seja, tem a obrigação de tolerar um relacionamento familiar prejudicial.
Limite as relações familiares tóxicas
Existe uma falsa crença de que você tem que lidar com sua família porque são sangue do seu sangue. Não, e é um não bem redondo. Ninguém tem a obrigação de aturar fofocas, surras, humilhações e desprezos porque “eles são da família”.
É que uma família não deve se comportar dessa maneira. Sim, pode e haverá problemas, mas você deve encontrar uma maneira de resolvê-los e seguir em frente.
No entanto, quando a própria família lhe causa danos com suas atitudes ruins, é apropriado ir embora. A distância deve ser emocional e mental caso não consiga se afastar fisicamente.
Você deve se tornar forte e não entrar em confrontos; entretanto, se necessário, enfrente-os sem medo. Muitas vezes, eles se aproveitam do fato de a pessoa afetada se calar para evitar problemas. Uma pessoa com problemas verá esse silêncio como uma oportunidade de tirar vantagem e machucar.
Outra ação que você deve levar em consideração é se tornar psicologicamente forte. O que eu quero dizer? Você não deve se deixar manipular. A manipulação afetiva é algo em que os membros tóxicos da família caem muito. Eles podem até usar uma doença para mantê-lo por perto. Também podem fazer uso de ameaça ou medo para calar o abuso. A pior coisa que pode fazer é demonstrar medo, pois, com isso, você lhes dará poder. Na verdade, por trás de um manipulador há um covarde.
Você pode passar de um relacionamento familiar tóxico para um saudável?
Isso depende muito das pessoas. Uns estão mais abertos à mudança do que outros.
Para alguns, é muito difícil reconhecer que são pais ruins. Eles vão inclusive acusá-lo de ser um filho ruim porque você decidiu ficar longe; ainda assim, você deve ignorar isso.
Agora, se o que eles querem é consertar o relacionamento, você deve avisá-los que o que tem a dizer pode ser doloroso e até inadmissível. A verdade é que eles provavelmente tentarão extrair de você o motivo de manter distância; é quando, usando o maior tato possível, diga-lhes como se sente em relação ao que eles fazem para você. Eles também vão dar razões para ter se comportado daquela maneira; então, você descobrirá como seus parentes o viam.
Perdoar
Depois disso, o que você deve fazer é perdoar e pedir perdão, se for o caso. O perdão cura e liberta. Nada de bom resulta de guardarmos rancor. Todo esse processo pode ser, se necessário, com a ajuda de um terapeuta.
As pessoas envolvidas devem assumir o compromisso de tratar umas às outras com respeito e empatia. Isso implica que devem colocar toda a sua força de vontade para se tratarem da maneira certa. Além disso, devem saber falar sobre coisas que não funcionam e resolver conflitos.
Resta-me dizer que, se como família, conseguirem superar todos esses obstáculos, as relações entre as partes envolvidas vão melhorar muito. O importante é não permitir que ninguém, por mais que os laços de sangue nos unam, prejudique-nos por achar que tem o direito de fazê-lo.
Traduzido e adaptado por Erika Strassburger, do original ¿Familia tóxica? Huir o frenar la relación dañina