Homem que estava em estado vegetativo há 15 anos ‘desperta’ após implante
O paciente arregalou os olhos, prestou atenção em histórias e moveu a cabeça.
Stael Ferreira Pedrosa
Estado vegetativo é o nome que se dá à condição do paciente que sai do coma, parece estar acordado, mas sem sinais de recuperação da consciência. São situações nebulosas em que as pessoas ao redor do doente se perguntam se ele as ouve, ou sabe que estão ali. Existem casos em que a pessoa desperta do estado vegetativo e sem sequelas, mas são raros, como o caso de Rafael Martins, que despertou após três meses.
Com o advento de novas tecnologias de avaliação das funções cerebrais, como a ressonância magnética funcional, que permite ver alterações nos centros cerebrais ao serem estimulados ou ao exercer determinada tarefa, cientistas de Cambridge estudaram as funções cerebrais de uma paciente de 23 anos em coma devido a um traumatismo craniano em 2005 e que permanecia em estado vegetativo mesmo após cinco meses. Ela era incapaz de responder a estímulos, embora dormisse e acordasse todos os dias.
Com a ressonância magnética foram avaliadas as áreas cerebrais da linguagem para detectar se havia alguma reação a frases como “tem leite e açúcar no seu café”. Segundo os pesquisadores, embora ela estivesse em estado vegetativo, a paciente mantinha habilidade de entender o que lhe era falado e seguir orientações como as de imaginar uma situação.
Um novo resultado
Nem sempre os resultados são tão animadores, além disso, a questão do tempo em estado vegetativo também conta. Geralmente são considerados irreversíveis aqueles que se estendem por mais de 12 meses.
No entanto, um artigo científico publicado no Current Biology, relata o caso de um homem de 35 anos que saiu de um estado vegetativo de 15 anos devido a um novo tratamento.
O tratamento consiste no implante de um aparelho elétrico no pescoço do paciente, através de uma pequena cirurgia. O paciente, que sofreu um acidente em 2002, teve seu nervo vago estimulado através de choques elétricos e o resultado foi que, após um mês, o homem demonstrou traços de consciência: “permanece alerta enquanto uma história é lida em voz alta, e arregala os olhos quando alguém se aproxima de seu rosto. Ele também é capaz de mover a cabeça a pedido dos médicos – embora demore cerca de um minuto para completar a tarefa”.
O que esse resultado significa para os pacientes e familiares?
Segundo o artigo publicado, saber que os pontos do cérebro onde residem a linguagem, a emoção, memórias e outras funções complexas podem ser monitorados e mais ainda, reativados após tanto tempo, devolvendo níveis ainda que superficiais de consciência a pacientes em estado vegetativo, pode além de trazer novas esperanças aos familiares, ser também um novo motivo para suscitar velhas discussões éticas sobre a eutanásia.
Este novo resultado pode ser a diferença entre a eutanásia não voluntária ativa – quando o médico a pedido da família põe fim à vida de um paciente, e a eutanásia voluntária, quando o paciente decide se deseja ou não encerrar a própria vida – já que será possível consultar o próprio, o que claro, não fará muita diferença no Brasil, já que aqui a eutanásia é crime. No entanto, o CFM (Conselho Federal de Medicina) criou em 2006 uma resolução que permite aos médicos praticar a ortotanásia – que legalmente “permite ao médico interromper as medidas terapêuticas quando já se esgotaram todas as chances e que o paciente ou seu representante legal concorde com isso. Depois deve registrar essa decisão no prontuário do paciente”.
Para os críticos do implante pode ser cruel “despertar pacientes e torná-los conscientes de sua situação penosa se não for possível trazê-los de volta a um estado de consciência plena”, o que certamente dará ainda mais margem a novas discussões.