Leishmaniose Visceral: Infecção que pode matar
Um mosquito é o responsável pela transmissão do agente desta doença. Veja porque o cão é tido como "vilão" e o que você pode fazer para se prevenir.
Fernanda Ferrari Trida
Você sabe o que é esta doença? Sabe que ela pode afetar os cães, os gatos e o homem? Sabe que na maior parte dos estados brasileiros os cães infectados são eutanasiados? Sabe que mesmo assim o número de pessoas infectadas vem crescendo?
Para se ter uma ideia da abrangência desta doença, levantamentos informam que no mundo há 400 mil novos casos anuais da Leishmaniose, sendo que 12 milhões de indivíduos já foram infectados pelo menos uma vez e outros 350 milhões estão expostos aos mosquitos transmissores. Somente no Brasil, entre cinco e dez mil pessoas são infectadas anualmente, sendo que cerca de 10% não sobrevivem.
Leia aqui mais sobre esta grave e alarmante doença e aprenda como evitar que sua família e seus animais de estimação se contaminem.
1. O que é a Leishmaniose
Existem três tipos de Leishmaniose, sendo que apenas dois deles ocorrem no Brasil. A forma mais grave é a chamada Leishmaniose Visceral Americana, também conhecida como Calazar. Nos seres humanos, essa doença causa graves lesões no fígado e no baço se disseminando por todo o corpo, podendo levar à morte se o paciente não tiver com o sistema imune em pleno funcionamento – como ocorre nos portadores de HIV, crianças menores que cinco anos de idade e idosos.
2. Como ocorre a transmissão
Apesar do que se ouve por aí, o “vilão” dessa história não é o cão doméstico e sim o mosquito-palha (flebotomíneo Lutzomyia). Essa espécie de inseto sai em busca de alimento durante a noite (principalmente uma hora após o pôr do sol). As fêmeas do mosquito picam o indivíduo contaminado com a Leishmania (os mais susceptíveis são o cão, o gato e o homem) e ao picarem outro indivíduo inoculam o parasita em sua pele. Este se reproduz em células chamadas macrófagos e se dissemina pelo corpo.
O cão é considerado o principal propagador da doença entre humanos porque o maior número de casos registrados ocorreu justamente em locais onde há prevalência desta espécie animal. Contudo, os gatos também podem adoecer e transmitir a Leishmaniose Visceral, mas para isso precisam ter alguma outra doença que afete seu sistema imune. Já os cães, mesmo sadios, podem pegar a infecção.
3. O que fazer com os cães infectados: como proteger a família
Até o início deste ano, a legislação brasileira proibia o tratamento dos cães infectados com produtos destinados para uso humano ou não registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Portaria 1426/2008). No Brasil não há medicamentos de uso veterinário para o tratamento da Leishmaniose canina. Assim, o destino dos cães infectados era a morte por eutanásia, pois como reservatórios do parasita eles não poderiam ser liberados pelo veterinário responsável para voltarem para casa.
A alegação do Ministério da Saúde para esta decisão é a de que a terapia canina não surtiria o efeito desejado (de impedir que o animal se curasse totalmente e de evitar que ele se infectasse novamente com o parasita). Além disso, para o órgão, o tratamento dos cães infectados poderia selecionar Leishmanias mais resistentes aos remédios de uso humano.
Contudo, no final de 2012, o Tribunal Regional Federal da Terceira Região de São Paulo inteligentemente declarou esta portaria ilegal. Com isso, a Justiça Federal entende que somente a erradicação do mosquito vetor da Leishmaniose é a solução para acabar com essa infecção. Portanto, se não houver medidas de prevenção e controle do mosquito, não adianta matar os animais infectados (seria o mesmo que eutanasiar os humanos doentes). Tratar os cães infectados não os cura da doença, mas eles deixam de ser transmissores da Leishmaniose.
4. Como se prevenir
Os mosquitos transmissores da Leishmaniose se desenvolvem em áreas úmidas, sombreadas e ricas em matéria orgânica (depósitos de lixo próximos a residências, matas, abrigos de animais domésticos, etc.). Assim, os principais meios de prevenção visam evitar que estes fatores ocorram:
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Não deixe lixo orgânico acumulado.
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Mantenha as áreas próximas a residências e abrigos de animais sempre limpas.
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Aplique inseticidas atóxicos (citronela e fumo, por exemplo) nas áreas de circulação de animais e humanos.
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Podar periodicamente as árvores para impedir sombreamento do terreno.
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Use repelentes.
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5. Como evitar que seu cão seja infectado
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Vacina (Leishmune® e Leish-tec®): cães a partir dos quatro meses de idade podem ser vacinados contra a Leishmaniose. Se picados por mosquito contaminado, não adquirem a doença. Porém, antes de iniciar o protocolo de vacinação, o cão deve ser testado para a doença. Se for negativo, estará apto a tomar as três doses da vacina (o cão só ficará imunizado 21 dias após a aplicação da terceira dose).
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Spot On(Advantage Max 3®): produto contendo permetrina que pode ser aplicado na pele do animal (região da nuca) que tenha mais que sete semanas de idade. Ele deve ser aplicado a cada três semanas para repelir e matar o inseto antes que o cão seja picado.
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Coleira (Scalibor®): coleiras impregnadas com um produto chamado deltametrina são eficazes como repelentes e inseticidas e podem ser usadas em cães a partir dos três meses de idade, protegendo-o por até seis meses.
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Spray(Defendog®): possui permetrina que protege contra as picadas do inseto por até sete dias, quando deve ser reaplicado. Pode ser usado em animais maiores que três meses de idade.
Fontes: 1. Leishmaniose Visceral Americana – II Informe Técnico, Camargo-Neves V.L.F. (coord.), 2003, SUCEN. 2. Manual de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral Americana no Estado de São Paulo, Camargo-Neves V.L.F. (coord.), 2006, Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde. 3. Priority Communicable Diseases: Revision 2005, in Community Health & Disease Surveillance Newsletter, Suleiman A.J.M. (ed.), 2005.