Livre-se da sedução do comércio exagerado no Natal
Final de ano é sem dúvidas uma festa. Queremos comemorar, nos reunir, comer e comprar para celebrar. Mas será que nossos hábitos de consumo, nessa época, nos causam ressacas no início do ano seguinte?
Maria Lucia Maia Ribas
Natal é uma data que boa parte da população comemora. Uma data de reunião e tradição familiar, de celebração, e para alguns, um momento de reflexão religiosa. Na minha casa, a tradição era montar a árvore bem antes da véspera, curtir cada dia que se aproximava, porque sabíamos que logo vinham as festas e os presentes. Uma farra!
Durante meus anos no mercado de varejo, aprendi que o Natal é uma data de grande expectativa para as empresas. Metas de receita a serem fechadas, aviões lotados de produtos a serem transportados, planejamentos e ações que levam meses para garantir que os “presentes” de natal estejam disponíveis nas vitrines.
Como parte das ações, existe um marketing pesado direcionado para que saibamos o que devemos considerar como nossa “próxima necessidade”. A mídia brinca com nossa ingenuidade. Passivamente, os adultos e crianças absorvem, entre um episódio e outro de filmes, as novas tendências. Quem nunca escutou do seu filho enquanto assiste a um comercial: “Quero isso… quero aquilo”?
Nossos pequenos consumidores também são alvo. Uma pesquisa entre adultos e crianças, divulgada pela revista Exame, indica que o diálogo entre pais e filhos antes de uma compra representa 98%, e que suas opiniões influenciam em 60% a compra final. É uma geração de pais que tem buscado uma maior proximidade com seus filhos, e a mesma se estende na hora do consumo. Vale, porém, orientar e identificar o que realmente é uma necessidade e uma ansiedade.
Hoje em dia, o consumo tem sido diagnosticado como uma patologia. Oniomania é o termo técnico para o desejo compulsivo pela compra, uma doença mental, comparada com alcoolismo, vício em drogas e distúrbios alimentares, com consequências emocionais e financeiras. Será que já tivemos a doença do consumo? Seguem alguns questionamentos:
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Por que estou comprando?
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Por que estou comprando tantos, se preciso só de x?
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Será uma frustração ou compensação, ou competição?
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Será que estou tentando preencher com coisas materiais algum vazio dentro de mim?
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O que realmente me falta?
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Como me sinto depois da compra? Realizada, deprimida?
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Esse hábito excede o natural? O meu conceito de natural diverge do conceito dos outros?
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Por que preciso dividir uma mesma compra em tantas formas de pagamento? Três cartões, cheque, dinheiro…
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Preciso esconder dos outros a minha compra?
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Financeiramente, eu posso comprar?
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Para evitar o consumo exagerado em qualquer época, inclusive no Natal, vale questionar os porquês da compra, e dependendo do resultado, existe ajuda profissional médica.
Algumas tácticas para evitar a sedução do exagero que tenho usado são:
Diminua a exposição
Diminua o tempo da televisão ao longo do ano, com isso a exposição aos produtos diminui. As crianças assistem à TV em média 3,5 horas por dia. Outras atividades como leitura, jardinagem, ajudar em casa, brincar podem ser bons substitutos.
Quando assistir televisão, evite comerciais. Filmes sem interrupções são uma excelente alternativa.
Fuja do hábito de passear em shoppings. Às vezes, parece o passeio mais fácil, com ar condicionado, sombra, brinquedo e comida. Mas gera estímulos e frustrações.
Comunique o orçamento
Comunique a todos na família sobre a situação financeira, as possibilidades e expectativas. Quantos presentes cada um pode ganhar, qual a cota em dinheiro de cada, e tentar casar a necessidade com essa oportunidade.
Se for às compras, vá com a determinação de comprar o que tem que ser comprado. Senão, não vá!
Crie alternativas de presentes que não custam nada. Por exemplo, uma cartinha, uma canção cantada, uma ajuda prestada, um presente feito com suas próprias mãos. As redes sociais estão repletas de ideias. Uma ideia, que recentemente utilizamos na nossa casa, foi uma cesta com 12 envelopes. Um envelope para cada mês do ano. Em cada envelope havia um presente, um vale-momento inesquecível. Com isso, a comemoração durou o ano inteiro e fortaleceu os laços entre as pessoas.
Revise seus propósitos
Tente fazer uma autoanálise e entenda o que realmente gera as compras.
O Natal deve ser uma data de celebração, uma data que enfatize valores, de tradições e união familiar. Os presentes, assim como na época dos Reis Magos, devem ser os melhores, que tragam ao presenteado um valor significativo. Não estamos falando de dinheiro, dívidas, noites sem dormir, frustrações, vazios… estamos falando de preencher os corações, de tranquilidades, de lágrimas de alegria. Esses são os meus votos a vocês e aos meus nesse próximo Natal!