O amor vai além da paixão

Todos nós somos capazes de amar, ter sucesso nisso já é outra coisa, (e depende de alguns fatores)

Erika Otero Romero

Amar é um acontecimento incontrolável que chega à vida sem esperar. Da mesma forma, às vezes nasce o amor por uma pessoa inesperada que nos leva a perder a cabeça. Amar é quase que deixarmos de ser donos de nós mesmos, e darmos poder ao outro para que praticamente “roube-nos o coração”.

Quando você se permite amar alguém, apesar de suas experiências mais devastadoras, você corre o risco de sofrer, mas também de viver, crescer e se conhecer. No final, quando você ama, não apenas conhece outra pessoa, você se reconhece no outro.

A paixão é só o começo

Apaixonar-se é um complexo processo cerebral que ativa 12 áreas que agem como se fosse uma só. Esse processo faz com que sejam libertados neurotransmissores como dopamina, oxitocina e adrenalina, que são basicamente os “culpados” por nos apaixonarmos.

Na paixão, há uma sensação de necessidade de estar perto do outro. Deseja-se com todas as forças que o que se sente seja correspondido, e se teme ser rejeitado e sofrer por causa desse afeto não correspondido.

A questão é que essa pessoa captou a sua atenção, e você quase não consegue pensar em mais nada a não ser nele ou nela, porque você quer essa pessoa em sua vida, já que ela se tornou única e especial.

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Sim, apaixonar-se é um pouco irracional, tal como sentir-se zangado e não saber de que, ou como ter medo de uma simples e inofensiva borboleta.

Mas isso é apenas o início da viagem, porque, em última instância, o que você mais deseja é ser amado; e isso requer esforço e abandono total do egoísmo.

Amar é confiar

Você se apaixonou e é correspondido, sente-se o ser humano mais especial e abençoado do mundo; mas agora quer ir a outro nível e está disposto a fazer todo o possível para estar com essa pessoa.

Mas há diferentes tipos de amor. Erich Fromm em seu livro A arte de amar explica:

O amor infantil segue o princípio: “Amo, porque me amam”. O amor maduro obedece ao princípio: “Sou amado, porque amo”. O amor imaturo diz: “Eu te amo porque preciso de você”. O amor maduro diz: “Preciso de você porque te amo”.

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O amor que vale a pena sentir é o que lhe garante que será capaz de superar as situações mais complicadas da vida. Você precisa de um amor maduro, aquele em que você sabe que é necessário e correspondido; isso simplesmente lhe dá forças para lutar todos os dias.

Amar não é para acalmar a solidão

É possível que se descobrir amado e ser correspondido de igual maneira nos leve a desejar estar unido a essa pessoa especial.

É quando o desafio começa. Você quer estar com ele ou com ela porque o ama ou para não estar sozinho? Se for a primeira coisa, ótimo! Mas juntar-se a alguém para aliviar a solidão pode ser um dos piores erros que se pode cometer.

A razão é que ninguém, por mais que o ame, vai preencher essa solidão. A raiz da solidão que não se enche de amor está no vazio afetivo que a pessoa carrega consigo desde a infância.

Como saber se é o seu caso?

Pois bem, você se sente pleno quando está com seu amor; porém, basta um problema e o distanciamento chega. A pessoa que está com outra para preencher um vazio sente a necessidade urgente de atenção, sente-se incompleta, infeliz. Sente que precisa dessa pessoa para não se sentir desconfortável; é algo assim como uma obsessão que só encontra paz quando essa pessoa está ao seu lado.

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Como pode ser solucionado?

Parece simples, em primeira instância, mas para quem sofre é uma bebida amarga. Uma opção é passar tempo um com você mesmo, não tenha medo de se conhecer. Use esse tempo que surge quando finda uma relação amorosa para se curar, para entender a razão pela que as coisas aconteceram da forma como aconteceram entre seu ex e você.

Se você está em um relacionamento amoroso, tente controlar essa urgência de estar com o outro e passe um tempo com você mesmo. Se puder, comece uma terapia psicológica para encontrar o porquê de não suportar a solidão, o que há inconcluso em você para que não seja possível lidar com a solidão.

Quando conseguir curar essas feridas, quando conseguir amar-se ao ponto de não ter medo de se descobrir, estará muito mais preparado para amar o outro de maneira incondicional.

Além do amor inicial

Você ama e se sente feliz e capaz de conquistar o mundo. Então você decide que quer unir sua vida a essa pessoa especial.

Mas com o passar do tempo, você entende que não é suficiente amar e ser amado. Ao fim de algum tempo, você descobre que se habituou tanto à convivência com essa pessoa, que parece ter entrado num estado de sono. Já não sente a mesma vibração quando o vê. Alguns de seus aspectos menos favoráveis lhe provocam desejos de sair correndo; e para completar, você não se importaria de passar alguns dias longe dessa pessoa que, há alguns anos, não tolerava que estivesse longe de você nem por três dias.

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A questão é que se começar a dar mais importância à monotonia e se descuidar de sua relação, estará deixando o caminho livre para cometer graves erros que lhe custarão caro. E acontece que você perceberá suas falhas quando for tarde demais para corrigi-las.

Por isso, para que o amor do casal não morra e seja tão vibrante e ativo como desde o início do casamento, é importante que estejam atentos a si mesmos. Devem despojar-se do egoísmo, devem estar dispostos a lutar, a apaixonar-se cada dia, a terem um carinho um para com o outro e que façam saber que, apesar dos anos, continuam sendo amados como no princípio.

Pode até parecer clichê, mas é verdade: o amor é como uma planta que deve ser cuidada diariamente, protegida do sol e regada segundo suas necessidades. Além disso, é necessário pôr fertilizante e nutrientes para florescer e crescer. Quando você o faz com empenho, tem a garantia de um amor imperecível, capaz de dar-lhe as maiores satisfações de sua vida.

Traduzido e adaptado por Stael Pedrosa do original El amor va más allá del enamoramiento

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Erika Otero Romero

Erika é psicóloga com experiência em trabalhos comunitários, com crianças e adolescentes em situação de risco.