O problema está em seu filho ou em você? Pais na terapia
Muitas vezes os pais reclamam que seus filhos estão se comportando mal, será que o problema está mesmo nas crianças? Veja se é o seu caso.
Stael Ferreira Pedrosa
Eu ainda me lembro com certa mágoa da psicóloga do meu filho apontando todos os meus erros cometidos na criação dele. Fui me sentindo um verme, um ser deplorável e inapto para ser mãe.
No entanto, eu sabia que apesar dos meus erros eu amo meus filhos e quero o melhor para eles. Se errei foi por inexperiência. E sim, eu errei muito. Todos erramos. Porém ao perceber nossos erros seja por nós mesmos ou através do dedo acusador de um terapeuta infantil, não devemos resvalar para a autopiedade ou ficar na defensiva. Devemos aprender com os erros e corrigi-los.
Os pais erram
Sim, nós erramos, nossos pais erraram, os pais deles também. E foi assim que eu sugeri à psicóloga do meu filho que a culpa era de Eva ou da macaca, de acordo com a crença dela. Ela não gostou muito, mas eu gostara menos ainda dela me culpando por todos os problemas existenciais da criança de 6 anos na sala de espera.
Aguardamos nossos filhos ansiosamente, sonhamos com sua chegada, fazemos roupinhas, enfeitamos quartos, enfim… Tudo que acreditamos ser o melhor para eles. Mas, devido a até mesmo nosso excesso de amor, iremos falhar com eles.
Onde erramos?
Não ter autocontrole
Não podemos controlar alguém se primeiro não aprendermos a controlar a nós mesmos. E, sim! Os pais devem controlar os filhos. Isso não significa ser ditatorial ou invasivo. Crianças e adolescentes precisam de limites para se sentirem seguros. Para saber até onde podem ir. O que é permitido na família, o que não é. Dar satisfação de onde vão e quando voltam, respeitar horários e combinados. Apresentar os amigos à família e outras regras que a família estabelecer. Mas, para isso, os pais devem respeitar também essas regras e dar exemplo. Os pais não podem tudo.
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Achar que sabemos tudo
Isso nos leva a minimizar as experiências dos nossos filhos. Por mais que saibamos como eles se sentem, devemos deixá-los ter suas próprias experiências dentro de um círculo relativamente seguro de acordo com a idade. Dizer: “Eu sei como é, já passei por isso” não irá impedi-los de querer ter suas próprias descobertas e pode até afastá-los dos pais. Afinal, já tivemos nossas experiências, agora é com eles. Deixe-os explorar o mundo e mostre confiança neles.
Terceirizar os filhos
No lado contrário aos pais superprotetores, existem os pais que abandonam afetivamente o filho. O pediatra Dr. José Martins Filho, professor da Unicamp e autor diz que esse “abandono” traz consequências e faz surgir a figura da “criança terceirizada”, que é aquela entregue a babás ou creches. Sabemos que muitas mães precisam trabalhar, mas isso não significa abandonar emocionalmente os seus filhos. Os pais devem dedicar seu tempo livre aos filhos e um ao outro. Educá-los, formá-los nos princípios e valores da família. Divertirem-se juntos, espiritualizarem-se juntos ao invés de delegar essa tarefa a outros.
Ainda segundo o Dr. José Martins Filho, as consequências dessa terceirização são graves e permanentes como: quebra de vínculo familiar, falta de limites, baixa autoestima, inversão de valores, entre outros efeitos desagradáveis.
Não saber dizer “não”!
Aprender a dizer não é libertador, porém implica em uma grande mudança interior. E mudar não é fácil. Como pais amorosos queremos agradar nossos filhos, atender todos os seus desejos e adivinhar seus sonhos. Queremos também ser seus heróis e as pessoas mais generosas aos seus olhos, mas pode ser muito maior prova de amor dizer não, dependendo da situação. Ouvir um não irá doer menos que um acidente de carro, um dedo cortado ou uma gravidez na adolescência.
Saber dizer NÃO no momento certo a nossos filhos, lhes ensinará que o NÃO é normal, aceitável e deve ser usado. Certamente eles terão mais facilidade em dizer não também aos “amigos”, às drogas, ao álcool, etc.
Seja tudo aquilo que você gostaria que seus filhos se tornassem, dosando amor, limites e controle.
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