O que o carinho, atenção e amor podem fazer na vida de uma criança?
Alguns pais dizem que carinho demais estraga as crianças. Mas será que isso é verdade?
Caroline Canazart
Qual mãe ou pai nunca escutou que estava mimando demais o filho recém-nascido? “Vocês vão deixá-lo ‘colento'”, diz aquele grupo de tias experientes. Uma delas ainda completa aconselhando que é bom acostumá-lo no carrinho bem em frente à televisão – já que o colorido vai distrair a pobre criança e a mãe vai poder descansar ou realizar outra atividade em casa. Me diga você, o que uma criaturinha que acabou de sair de dentro do lugar mais confortável do mundo – a barriga da mãe – vai saber sobre manhas e maneiras sórdidas de manipular um adulto? Senão o simples fato de querer novamente sentir-se protegido no balanço tão familiar do colinho da mamãe ou da sequência decorada dos batimentos cardíacos dela? Afinal, foram, pelo menos, nove meses nesse ritmo.
Se é difícil acreditar que o carinho e a atenção são importantes nos primeiros anos de vida de uma pessoa, pesquisadores da área de psicologia da Universidade de Notre Dame, nos Estados Unidos, comprovaram que sim, as pessoas que tiveram sempre à disposição um bom colo e muito carinho na infância são, hoje, adultos menos ansiosos e com a saúde mental melhor.
O estudo aconteceu com 600 adultos que responderam questões sobre suas infâncias. De acordo com os especialistas uma das descobertas foi que – quando os pais dão atenção ao bebê (com um toque, balanço ou abraço) nos primeiros meses de vida até completar o primeiro aniversário – a criança se mantém mais calma e dessa forma todo o seu sistema corporal e neural se estabelece seguindo esse mesmo ritmo. Já as crianças que não tiveram esse estímulo – como aquelas que ficam chorando no berço – desenvolvem um sistema que o leva facilmente ao estresse, como se fosse um gatilho. De acordo com a pesquisa, é essa a razão que faz com que muitos adultos estejam estressados por qualquer motivo e que encontrem dificuldade para achar uma forma de se acalmar.
O mito que dar muita atenção aos filhos é uma forma de transformá-los em crianças mimadas cai por terra. Até porque o que os torna assim é tentar compensar a ausência com coisas materiais e/ou ser permissivo a tudo o que os filhos querem, sem impor os limites necessários para viver em sociedade. O amor só será um combustível para que a criança se sinta mais segura, inclusive emocionalmente. Nos tempos atuais, o carinho com qualidade é uma forma boa de recompensar todas as crianças que têm ido para as escolinhas com pouco tempo de vida, quando a licença maternidade acaba – às vezes com quatro ou seis meses. O médico e pesquisador de desenvolvimento infantil em Harvard, Jack Shonkoff, disse “a ciência nos diz que os primeiros anos de vida são cruciais para o desenvolvimento do cérebro. As experiências que a criança tem durante a infância moldam a estrutura cerebral”. Por isso, criar um vínculo de confiança e amor com os filhos é uma grande arma para termos pessoas mais estáveis emocionalmente no futuro.
O desejo de estar mais tempo com os filhos pode ser colocado em ação de algumas formas. Primeiro, quando os pais chegarem do trabalho o tempo reservado com as crianças deve ser real – nada de apenas corpo presente. Então, o celular ou tablet não são bem-vindos aqui. Se o seu filho ainda for um bebê não deixe de lado o contato físico, em outras palavras: dê muito colo. Outras formas de passar um tempo que marcará positivamente seus filhos é ler livros, encontrar uma atividade tradicional para a família, conversar sobre o seu dia e o dia dele ou fazer brincadeiras relativas à idade. Carinho e amor nunca são demais e podem ser expressados de muitas maneiras. É só começar.