O que se esconde por trás do medo de ofender aqueles que o rodeiam

Não é que você seja retraído ou grosseiro, apenas não deseja ser incômodo para as outras pessoas.

Erika Otero Romero

Já há algum tempo luto contra uma “mania” que tem me frustrado demais. Não sei se acontece com os outros, mas para mim é complicado relacionar-me com outras pessoas.

Tudo vai bem quando é uma situação formal, pois posso lidar com ela; no entanto, a questão muda quando as perguntas se tornam um pouco mais amigáveis. Eu fico congelada, ruborizo, e quando abro a boca para dizer algo, só digo tolices que fazem com que a pessoa em questão me olhe surpreendida. Sinto-me mal por mim, mas sempre penso em como essa pessoa se sente em relação a mim. É muito “pesado” lidar com isso, porque é um pensamento que pode durar vários dias.

Isso sempre acontece comigo e eu não tinha percebido. Para evitar, eu penso nas coisas mil vezes antes de dizer. Em mim há esse medo constante de dizer ou escrever algo que possa chegar a incomodar e ofender alguém. É tão perturbador porque os pensamentos me atormentam e porque quanto mais o tempo passa, mais me envergonho e me tranco em mim mesma.

Mas não para por aí, tenho medo de ligar para um número telefônico e que me digam que é engano; pensar na incomodidade gerada me sobrecarrega. Preocupa-me ser um incômodo para os outros, isto me leva a  isolar-me. Falar com desconhecidos é muito embaraçoso porque sempre digo uma bobagem sem querer. A situação me leva a olhar para baixo e a desejar ter asas nos pés para fugir e não me sentir envergonhada.

A doença de Taijin Kyofusho

Tudo o que descrevi antes, e que realmente me ocorre, trata-se do transtorno de Taijin Kyofusho. É vital saber que é um tipo de fobia muito particular. A pessoa que a padece teme ser ofensiva ou incômoda de alguma maneira aos demais. Também é considerada como um tipo de ansiedade social que limita a capacidade da pessoa em estabelecer relações sociais de qualidade.

É natural que desejemos ter um comportamento diante da sociedade que pareça culto e respeitoso; como diria minha mãe: “muito bem-comportado”, mas sentir-se mal e carregar nas costas o peso emocional de sentir que é irritante para os outros, só por olhar para eles ou dizer o que pensa, isso realmente é problemático.

Como é de esperar, a desordem de Taijin Kyofusho está intimamente ligada à baixa autoestima e insegurança. É precisamente essa insegurança que nos faz querer, de forma obsessiva, comportar-nos à altura em cada situação social que tenhamos de viver. Essa ansiedade por ser esteticamente agradável, ter boa atitude, dizer tudo de boa maneira e tratar os outros de maneira correta, é a que nos leva a duvidar de nosso agir.

A questão é que tal pressão social que se leva às costas nos dá medo de passar vergonha, gaguejar, inclusive dizer algo estúpido só pela mesma timidez que nos embarga. Acredite, viver assim é muito estressante.

Japão versus o mundo inteiro

Um dado curioso é que no Japão este é um transtorno psiquiátrico muito conhecido; no entanto, recentemente, no mundo ocidental, é que se começa a saber deste tipo de fobia. A realidade é que os japoneses são pessoas que dão importância à maneira como um indivíduo deve comportar-se na sociedade. É por isso que os japoneses são muito propensos a se sentir pressionados em passar uma boa imagem aos outros.

Sintomas mais relevantes do transtorno

– Quem sofre de transtorno de Taijin kyofusho teme envergonhar ou incomodar com sua presença.

– O problema não está no comportamento próprio, mas como os outros podem reagir quando a pessoa está na frente deles.

– A pessoa pode desenvolver comportamentos obsessivos compulsivos. Por exemplo: olhar para as partes íntimas dos outros (um caso documentado em um manual clínico dos EUA).

No Japão há alguns sintomas do transtorno que são relevantes na cultura. Por exemplo:

– Ekimen-Kyofu: medo de corar e que os outros se sintam desconfortáveis por isso.

– Shubo-Kyofu: medo de incomodar os outros por não ter um corpo atraente.

–Jiko-shisen-Kyofu: é a angústia a que os demais se sintam ameaçados ou inquietos quando se olha para eles.

–Jiko-shu-Kyofu: é um medo a desprender mau cheiro em algum momento.

No mundo ocidental, os seguintes aspectos são considerados para determinar se alguém sofre deste tipo de fobia:

– Para determinar se trata-se ou não de uma fobia social, é observado se os sintomas são passageiros ou crônicos; ou seja, se têm uma duração duradoura ao longo da vida.

– O grau em que esse tipo de medo pode prejudicar uma pessoa.

– Grau de frequência do surgimento de pensamentos obsessivos-compulsivos.

Tratamento

Inicialmente, a maneira que se tratava esta fobia consistia em isolamento, repouso forçado, manter um diário de controle, trabalhos manuais e terapias de grupo onde se davam conferências de aceitação pessoal.

Este tipo de tratamento inicial foi desenvolvido pelo doutor Shoma Morita na década de 1910. Mas como tudo muda com o tempo, na década de 1930, o tratamento foi modificado para acomodar aquelas pessoas que eram tratadas de maneira ambulatória; além disso, chegou-se a fazer uso de drogas para conseguir um melhor tratamento. O objetivo da medicina psiquiátrica era inibir a recaptação da serotonina e da noradrenalina. Isso também foi e é muito usado para tratar transtornos como ansiedade social.

Tudo isto deve ser diagnosticado por um profissional em psicologia, que saberá como agir e que tratamento o paciente deve seguir. Embora o nome tenha sido cunhado no Japão, é um transtorno que pessoas sofrem em todo o mundo.

Na verdade, algo que também se pode fazer por conta própria para complementar o tratamento médico das pessoas que sofrem desta doença é praticar relaxamento e ioga para manter sob controle o estresse que pode causar situações de fobia social.

Se acontecer a você, pode aos poucos enfrentar os seus maiores medos, não temer falar com as pessoas e fazer frente à ansiedade que sente ao pensar que pode constranger outros com sua presença ou comportamento.

Lembre-se que você é o dono de si mesmo, procure ajuda e siga o tratamento proposto; verá que com o tempo poderá enfrentar seu maior temor, e terá mais controle sobre si.

Traduzido e adaptado por Stael Pedrosa do original Lo que se esconde tras el miedo a ofender a quienes te rodean

Erika Otero Romero

Erika é psicóloga com experiência em trabalhos comunitários, com crianças e adolescentes em situação de risco.