Os efeitos do grito no desenvolvimento infantil

Stael Ferreira Pedrosa

Nós, pais, sabemos que às vezes as crianças, mesmo que não queiram agir mal, nos tiram do sério, nos estressam ao limite. Isso porque é da natureza delas serem curiosas e, nessa curiosidade exploratória e inexperiente, podem causar verdadeiros desastres pela casa.

Também é comum chorarem em excesso por algo que querem muito ou dar birras, levando qualquer pai ou mãe ao cansaço e impaciência.

No entanto, devemos ter em mente que elas são crianças e nós não. Elas ainda não sabem se controlar (e devem aprender), mas os pais têm a obrigação de ter ou aprender a ter autocontrole.

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Bater, sacudir, empurrar ou gritar são formas de violência que jamais devem ser usadas contra alguém, especialmente nossos filhos. O grito é um tipo de violência e intimidação que pode ter sérias consequências no desenvolvimento infantil.

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A questão do grito

No Instagram da autistólogos Kaká, que eu sigo, pois tenho um filho autista, foi postado recente este vídeo que ilustra claramente o que o grito faz ao emocional de uma criança.

O vídeo é parte de um estudo sobre os efeitos do grito no comportamento infantil, os resultados mostram que:

  • O grito coloca a criança em estado de alerta e em dificuldade de se expressar.
  • A criança se sente ameaçada, não explora o ambiente ao redor, tem medo de se expressar e não se manifesta por insegurança.
  • Há uma descarga de cortisol como resposta ao estresse provocado pelo grito. O cortisol pode interferir na produção de neurônios ou mesmo matar muitos deles, causando sérios danos ao cérebro infantil.
  • Despertam sentimentos nocivos ao desenvolvimento saudável como insegurança, dificuldade de se relacionar, baixa autoestima e senso de inferioridade.
  • Bloqueia a capacidade cognitiva, afeta o raciocínio e prejudica a aprendizagem.
  • Deixa a criança em constante estado de alerta e reativa. Traz a sensação de estar sempre em ambiente hostil, levando-a a agir sempre na defensiva – gerando agressividade na maioria das vezes.
  • De acordo com a Escola de Medicina de Harvard, o abuso verbal, os gritos, a humilhação ou a combinação desses três ingredientes alteram de forma definitiva a estrutura cerebral da criança.

Um grito aleatório, embora cause momentaneamente tais efeitos na criança e deva ser evitado, não chega a ser um problema para seu desenvolvimento. O problema é quando o grito é uma forma constante dos pais se relacionarem com o filho.

De acordo com Jusley Valle, consultora educacional e fundadora da Academia de Pais Conscientes, por trás dos gritos dos pais, o que se esconde é uma incapacidade de se comunicar de forma clara e afetiva, por isso transmitem sua mensagem de insatisfação à criança por meio do grito, causando bloqueio mental dos pequenos e desgaste emocional nos pais.

É muito comum os pais racionalizarem que foram criados desta maneira e que nada disso aconteceu a eles. Isso não é verdade, o fato de gritarem com os filhos já demonstra sua incapacidade de se expressar gerada na infância diante dos gritos de seus próprios pais.

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Ainda de acordo com Jusley Valle, esses pais, por terem sido criados dessa maneira, desconhecem que existem outros caminhos para se comunicar.

Se você é um pai ou mãe que grita

Existem caminhos para amenizar ou até mesmo reverter os efeitos danosos em seus filhos. Mas, a mudança deve começar por você. Aqui estão alguns conselhos de Jusley para ajudar:

1. Reconhecer que este é um modelo errado de educar os filhos e desejar mudar isso

2. Tentar manter o controle – gritar é perder as rédeas e a capacidade de disciplinar a criança pelo exemplo.

3. Evitar momentos e situações que geram estresse – busque tratar as questões com leveza e tranquilidade. Demonstre amorosidade, mesmo nos momentos difíceis ou quando a criança erra e adota um comportamento inadequado.

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4. Não agir imediatamente após o comportamento indesejado da criança. Pare e observe. Tente ver se o comportamento não foi intencional ou foi apenas um engano.

5. Em seguida, reflita sobre a situação, antes de falar qualquer outra coisa ou sair gritando. Pode ser útil se afastar e conversar com a criança posteriormente – claro, sem gritar.

6. Por último e não menos importante, pense nos adultos ao seu redor, seus amigos, colegas de trabalho, irmãos etc. Você se comunica com eles gritando quando o desagradam? Se não, porque seus filhos merecem tal tratamento?

Se, por acaso, na sua busca pela melhora ainda se exceder e gritar, não se culpe e nem se cobre muito. Isso pode acontecer, mas o importante é não banalizar o grito. Simplesmente admita seu erro e peça desculpas, e seus filhos aprenderão uma lição importante: todos nós cometemos erros e precisamos nos desculpar.

Segundo o site healthline, quando submetidos a gritos constantes, é muito comum também que os filhos comecem a imitar o comportamento dos pais e gritem com outras pessoas ou com os pais. Se os seus filhos gritarem, converse com eles e diga que essa não é uma forma aceitável de comunicação. Eles precisam saber que você está pronto para ouvir, desde que mostrem respeito – mas desde que você seja um exemplo de tal comportamento.

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Se o problema não for sanado, seu relacionamento com eles será sempre instável, tornando impossível a comunicação saudável. Eles tenderão a se afastar de você e serem mais abertos à influência dos amigos ou de outras pessoas em vez dos pais.

Como mudar isso?

Está nas mãos dos pais, claro. Vocês podem mudar isso. Busquem terapia para um autoconhecimento e sugestões de como vencer seus modelos paternos equivocados – se for o caso. Talvez existam outros problemas emocionais ou psicológicos que não tenham ainda percebido em vocês mesmos.

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Tenha uma conversa franca com seus filhos sobre o quanto você estava errado em gritar, sobre a injustiça de gritar e por que manifestar sua raiva dessa forma não é saudável.

Faça de sua casa um ambiente calmo, onde as pessoas se comunicam de maneira edificante, tranquila, um local para onde as pessoas queiram voltar. Lembrem-se de que uma criança amada, atendida em suas necessidades e compreendida é mais feliz, mais ajustada, aprende e se torna um adulto muito melhor.

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Stael Ferreira Pedrosa

Stael Ferreira Pedrosa é pedagoga, escritora free-lancer, tradutora, desenhista e artesã, ama literatura clássica brasileira e filmes de ficção científica. É mãe de dois filhos que ela considera serem a sua vida.