Por que não ser grato pode matar você
A gratidão pode ser um sentimento presente facilmente na vida de algumas pessoas. Mas outras precisam praticar, assim como um esporte, até que ela comece a fluir livremente.
Caroline Canazart
A gratidão é muito mais do que um simples sentimento ou um princípio de vida para algumas pessoas. É mais do que o “muito obrigado” dito depois que alguém faz algo para outro. Ser grato pode transformar a vida de todos. Mesmo nos momentos mais difíceis da vida, sempre existe alguma razão para que a gratidão seja exercida e, segundo a ciência, é sim um exercício que precisa ser apenas praticado para dar resultados.
Um estudo da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, afirma que quando uma pessoa se propõe a ser grata as mudanças são tão grandes que podem ser comprovadas por exames cerebrais. De acordo com a pesquisa, depois de algumas semanas sendo grato o cérebro se torna condicionado a ser ainda mais grato.
A experiência foi realizada com a participação de 43 pessoas que estavam fazendo terapia para tratar depressão e problemas com ansiedade. O grupo foi chamado para um encontro semanal, mas, apenas 22 deles foram orientados a participar de uma “sessão de gratidão”. Nos três primeiros encontros os voluntários tinham que escolher uma pessoa da sua vida e escrever uma carta, por vinte minutos, tudo o que tinha a agradecer por aquela pessoa. O segundo grupo, formado por 21 pessoas, não participou da atividade.
Depois de três meses, todos os mesmos 43 participantes passaram por um exame de escaneamento cerebral enquanto viam fotos de pessoas que supostamente teriam feito doações financeiras para que a pesquisa continuasse. Durante o escaneamento eles precisavam agradecer àquelas pessoas.
Sabe o que os exames mostraram? Quem havia exercitado o ato de agradecer – três meses antes – por meio das cartas demonstrou uma atividade cerebral mais forte nas áreas relacionadas à gratidão do que o grupo de pessoas que não participou das “sessões de gratidão”. O que deixou os pesquisadores mais impressionados foi que já havia passado um tempo desde que essas sessões tinham acontecido. Eles concluíram que a atitude de ser grato é como quando se exercita um músculo do corpo, isto é, quanto mais a pratica, mais você poderá senti-la no futuro.
Além dessa descoberta, outros estudos dizem que a gratidão pode trazer benefícios para várias áreas da vida. De acordo com uma pesquisa da Associação de Psicologia Americana, de 2015, os pacientes com alguma insuficiência cardíaca que tinham mais atitudes de gratidão apresentavam níveis menores de biomarcadores inflamatórios – o que indica a presença de alguma inflamação no organismo que pode ser fatal para essas pessoas. A gratidão também fazia essas pessoas dormirem melhor, ter bom humor e passar os dias com menos cansaço.
Num segundo momento da mesma pesquisa, os cientistas pediram para que os pacientes escrevessem em um papel três coisas pelas quais eram gratos – duas vezes por semana, durante dois meses. Os pacientes que mantiveram a rotina reduziram os níveis de circulação sanguínea de muitos biomarcadores de inflamação e melhoraram a variabilidade cardíaca enquanto escreviam os agradecimentos.
A saúde mental também pode ser modificada com alguns atos de gratidão, pelo menos é o que afirma um outro estudo, agora da Universidade para Mulheres do Mississipi e da Universidade da Califórnia, ambas nos Estados Unidos. Na pesquisa, realizada com pacientes que receberam transplante de órgãos, o grupo foi dividido em dois. O primeiro manteve um diário falando sobre como sentiam-se sobre a vida, sobre os efeitos colaterais dos remédios, sobre como estavam próximos das pessoas e sobre as esperanças que tinham. O segundo grupo também deveria manter os mesmos registros e incluir cinco coisas ou pessoas pelas quais eles eram gratos e o porquê disso. Passados 21 dias a saúde mental e o bem-estar do segundo grupo era melhor do que do primeiro grupo que não exercitou a gratidão. Tudo porque quem é grato consegue ter uma visão mais positiva da vida e controlar melhor a ansiedade e agressividade.
O escritor Aldous Huxley disse: “A maioria dos seres humanos tem uma capacidade quase infinita de não dar valor ao que tem”. Parece que os cientistas deram bons motivos para contrariar o escritor. Chegou a hora de pegar o bloquinho de papel e começar a fazer a lista de todas as coisas que somos gratos em nossa vida. E, se pensarmos bem, vai até faltar papel. Em qualquer circunstância de nossas vidas temos motivos para que a “mãe de todas as virtudes” tenha um lugar em nosso coração.