Por que sinto inveja?
Ninguém, absolutamente ninguém, sabe as tristezas e sofrimentos do outro.

Erika Otero Romero
Alguns dias atrás, alguém me perguntou por que ele sentia uma forte inveja de alguém que é muito bem-sucedido. Disse-me que não só sentia raiva porque essa pessoa é muito atraente, mas também invejava seu estilo de vida, fama e fortuna. A minha resposta remeteu a uma pequena fábula que hoje quero partilhar com você.
A conversa do monge e do corvo
“Era uma vez um corvo que estava muito infeliz com sua vida. Estava tão descontente que, um dia, começou a chorar enquanto se encontrava no galho de uma árvore.
Um monge que estava sentado debaixo daquela árvore ouviu seu triste lamento, perguntou-lhe o que se passava. O corvo disse que se sentia infeliz com sua vida.
Contou-lhe como sentia, que ninguém o amava, e jogavam coisas nele para espantá-lo; além disso, custava-lhe muito encontrar alimento. Inclusive, acreditava que a morte era melhor que viver dessa maneira.
Diante dessas palavras, o monge se encheu de compaixão começou a consolá-lo. Disse-lhe que deveríamos aprender a ser felizes, qualquer que fosse a condição que tivéssemos que viver. Essas palavras não deram consolo a seu aflito coração. Foi quando, então, o monge lhe disse:
“Tranquilo, diga-me o que é o que quer ser? Posso transformá-lo no que você me disser com um de meus mantras”.
Então o corvo mudou de atitude e disse:
“Grande sábio, poderia me converter em um lindo cisne?”
“De acordo, vou convertê-lo em um cisne, mas, antes, vá visitar um e lhe pergunte se é feliz. Eu esperarei.“
Foi então que o corvo empreendeu sua busca. Pouco e depois encontrou um cisne em um lago; então aproximou-se dele e disse:
“Como você é bonito! Suas penas são brancas como o leite, todo mundo o ama. Você deve ser o pássaro mais feliz do mundo.”
O cisne então lhe respondeu:
“Não, não é como você pensa. De tantas cores bonitas que existem no mundo, eu sou de um branco sem graça, acho que um papagaio deve ser o pássaro mais feliz do mundo; é tão colorido, sua plumagem é tão bonita.”
Ao ouvir isso, o corvo se afastou e começou a procurar um papagaio. Quando finalmente encontrou um, perguntou-lhe se estava feliz por sua bela plumagem;
Então o papagaio disse:
“Não, não. As pessoas nos trancam em gaiolas. Eu vivo com medo constante de que me aconteça algo igual. Acho que o pavão é o pássaro mais feliz do mundo”.
Diante dessa resposta, o corvo voou em busca de um. Ao encontrá-lo, estava atrás das grades de um zoológico. Quando chegou, percebeu que muitas pessoas estavam reunidas para vê-lo.
Quando todos se foram, o corvo se aproximou e admirou sua beleza. Disse-lhe:
“Creio que você seja a ave mais bonita e mais feliz do mundo”.
Ao que o pavão respondeu aflito:
“Sempre pensei que eu fosse o pássaro mais bonito e mais feliz, mas, por causa da minha beleza, estou preso aqui. Quando as pessoas arrancam minha plumagem é doloroso. Não, eu não sou feliz, meu amigo”.
Então, o corvo lhe perguntou:
“Quem você acha que é o pássaro mais feliz do mundo?“
O pavão lhe disse:
“Vi muitos pássaros e cheguei à conclusão de que você, meu amigo, é o mais feliz de todos. Você pode voar por toda parte e ninguém o incomoda. Se eu fosse um corvo, teria liberdade e seria feliz.“
Ouvindo isso, o corvo voou para longe, pela primeira vez ele se sentiu feliz por ser um corvo.
Chegou ao monge e disse:
“Sabe? Já não quero ser nenhuma outra ave. Sou feliz sendo quem sou”.
A moral dessa fábula é que não devemos nos comparar desnecessariamente a ninguém. A realidade é que isso só nos magoa e prejudica sem necessidade. Além disso, desconhecemos o que a outra pessoa teve que viver para ser quem é, para chegar onde está.
Por que sentimos inveja?
A inveja é um sentimento negativo. Por mais que alguns digam “sinto uma inveja boa”, a verdade é que não há inveja boa. Quando se sente inveja, há sentimentos que geram dor, raiva e mal-estar.
Sentimos inveja porque nos comparamos com outras pessoas. Que se, a certa idade, já tem casa, carro, emprego e família. É claro! Ainda mais se você tem a mesma idade, mas não conseguiu nem a metade do que essa pessoa tem, é normal sentir-se infeliz.
As pessoas invejosas não sabem todos os sacrifícios que essa pessoa teve que fazer para ter o que tem. Sim, porque o sucesso requer sacrifícios, dor, solidão e atrai muitos inimigos.
Quando respondi a essa pessoa, tentei fazê-la ver que a pessoa que ela invejava perdeu muitas coisas enquanto perseguia o seu objetivo. Indiquei-lhe que não havia passo que desse que não fosse criticado, não tinha vida privada. Cada dia, trazia consigo uma fofoca nova. Tinha que acrescentar que, mesmo sendo muito atraente, não se sentia bem com seu físico. Sim, tem muita fama e dinheiro, mas a que preço?
Ninguém sabe os sofrimentos da pessoa a quem inveja. Apenas se pode ter uma vaga ideia. Se entrarmos na vida dela, descobriremos que nem tudo é “cor-de-rosa”.
Eu também costumava sentir inveja e nunca gostei de me sentir assim. Por isso, esforcei-me por me concentrar nas minhas próprias realizações; em tornar-me consciente do alto preço que outros pagaram para atingir seus objetivos. Isso me fez perceber que todos nós temos algo que os outros não têm.
Esse é o convite, para que, sempre que sentir inveja, olhe para você e veja as coisas boas de sua existência. Tenho certeza de que você tem algo que a pessoa que você inveja não tem.
Traduzido e adaptado por Stael Pedrosa do original ¿Por qué siento envidia?