Quando as mães se levantam ajudam a curar o mundo

Nas duas décadas que tenho pesquisado intersecção de gênero e segurança, eu vim a perceber que o amor das mães por seus filhos é o que mantém o mundo inteiro girando.

Valerie Hudson

Ontem eu terminei de ler “A guerra não acaba quando acaba”, de Ann Jones, do Comitê Internacional de Resgate, um livro impressionante que narra as dificuldades muitas vezes invisíveis que as mulheres que vivem em zonas de guerra continuam a enfrentar mesmo depois que as hostilidades já terminaram. Há uma citação especial, que ficou comigo, e gira cada vez mais alto no meu coração neste Dia das Mães. Annie da Libéria, um dos lugares visitados por Jones, fala de um costume em sua cultura onde as mulheres devem andar de joelhos na presença de homens: “E nós fizemos isso, porque sempre fazemos qualquer coisa para alimentar nossos filhos. Mas, agora, nos levantamos.”

Nas duas décadas em que tenho pesquisado intersecção de gênero e segurança, eu vim a perceber que o amor das mães para com seus filhos é o que mantém o mundo inteiro girando. A trama social de um grupo é tecida, em primeiro lugar, pelos esforços das mulheres. As mulheres fazem o dia a dia possível para homens, mulheres e crianças, tecendo os fios do cultivo e processamento de alimentos, obtenção de água e combustível; provendo vestimentas e higiene; realizando a reprodução, lactação e cuidados infantis, serviços de enfermagem aos enfermos e idosos, compartilhamento de informações e coordenação de esforços com outras mulheres em suas famílias e comunidades; armazenamento de provisões de emergência, sendo as principais investidoras no capital humano das crianças na família, e assim por diante. O que as mulheres fazem é a base da segurança humana em todas as sociedades.

E, no entanto, o seu próprio amor por seus filhos é o que coloca as mães em uma posição vulnerável – e, por extensão, o nosso mundo. As mães estão dispostas a andar de joelhos, se isso significa que seus filhos estarão seguros. E ainda assim, quando fazemos as mães andarem de joelhos, literalmente ou figurativamente, nós, a humanidade, nos colocamos em perigo. Aqueles que se preocupam mais são os mais chamados a trabalhar sem uma rede de segurança e sem voz. Não há recursos nem orçamento para os serviços sociais? Não se preocupem, as mulheres vão usar seu dia de folga e cuidar das crianças, doentes e idosos. O carinhoso serviço prestado pelas mulheres aos outros é assumidamente inesgotável e gratuito, como o ar que respiramos.

Além disso, assumimos que esse trabalho carinhoso não será afetado se as mulheres forem oprimidas pelos costumes sociais, ou se ignorarmos completamente suas ideias e preocupações, isolando-as das tomadas de decisões. Mesmo nas piores condições abusivas, assumimos que as mulheres ainda irão fornecer o seu trabalho carinhoso gratuitamente e manter a sociedade funcionando dia após dia.

E elas o farão – porque fazem qualquer coisa para manter suas crianças seguras. Não só todos os bons costumes ou política, mas também todos os maus costumes ou más políticas dependem das mães para manterem-se. Quem enfaixava os pés das meninas na China, quebrava seus ossos e transformava-os de modo que seus pés não teriam mais que 10 cm de comprimento? Suas próprias mães faziam isso, por amor – sim, amor – para que suas filhas pudessem tornar-se esposas e mães, ou seja, assegurando assim que suas filhas estariam a salvo em um sentido social. O que era mais cruel – o que era feito às filhas, ou o que era feito às mães que iriam submeter a isso a suas amadas filhas?

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“Mas agora levantamos”. O que eu acho que Annie quis dizer é que as mães da Libéria descobriram que andar de joelhos não mantinha suas crianças seguras, afinal de contas – apenas perpetuava a terrível prática. Que, para que seus filhos pudessem estar realmente seguros, as mães teriam que levantar-se e ajudar a refazer e curar a sociedade em que eles crescem. O que aconteceria se as mães começassem a se levantar?

Neste Dia das Mães, não busquemos primeiro os chocolates e as flores. Neste Dia das Mães, vamos, como povo, perguntar às mães sobre seus pensamentos e ideias de como curar o mundo, e então ouvir verdadeiramente. E como mães, reflitamos sobre o que diríamos se soubéssemos que seríamos ouvidas e, em seguida, nos levantarmos e dizê-lo corajosamente… Porque amamos os nossos filhos.

Traduzido e adaptado por Stael Metzger do original Mothers help heal the world when they ‘stand up’ de Valerie Hudson.

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Valerie Hudson

Valerie M. Hudson é professora de ciência política na Universidade Brigham Young, e co-diretora e investigadora do Projeto WomanStats. Em 2009, ela foi nomeada uma das 100 pensadoras que mais influenciam pela "Foreign Policy Magazine".