Quando o comportamento dos filhos é motivo para preocupação

Os recentes ataques e ameaças de ataque a escolas no Brasil levanta a seguinte questão: quais são os sinais de que nossos filhos não estão bem psicológica e emocionalmente e podem representar uma ameaça? Continue lendo.

Erika Strassburger

Os recentes ataques e ameaças de ataque a escolas no Brasil me fizeram ponderar muito tentando entender o que leva um jovem ou jovem adulto a querer destruir vidas inocentes e, consequentemente, a própria vida. Como mãe de um jovem e dois jovens adultos, coloco-me no lugar dos pais e me pergunto: será que os pais têm alguma responsabilidade? Onde podemos estar errando na educação de nossos filhos? Que sinais eles estão dando de que não estão bem emocional e psicologicamente?

Logo após ser noticiado na mídia o ataque à creche de Blumenau, as redes sociais foram inundadas de informações de que estavam sendo orquestrados ataques simultâneos a escolas em várias partes do Brasil. Inicialmente, pensava-se tratar de fake news, mas, na verdade, haviam jovens na Deep Web realmente falando sobre isso ou se organizando. Por conta disso, órgãos de segurança pública criaram a Operação Escola Segura para investigar. Até final de abril de 2023, a Polícia Federal já havia apreendido 10 adolescentes e cumprido 13 mandados de busca e apreensão.

Os governos Federal, estaduais e municipais criaram canais de denúncia. As escolas receberam reforços na segurança e os pais foram orientados e tranquilizados. A escola de ensino médio do meu filho caçula mandou-nos informações e orientações bem específicas, inclusive hashtags que esses grupos estavam usando para se comunicar (principalmente no Twitter), pedindo que ficássemos alertas para condutas anormais que víssemos e que denunciássemos.

Fui até o Twitter e pesquisei as tais hashtags. Fiquei horrorizada com o que encontrei:

– Posts cheios de desprezo pela vida de jovens e crianças;

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– Frases e imagens incitando o ódio contra estudantes;

– Falas sobre incendiar escolas;

– Imagens muito fortes de suicídio;

– Frases de desprezo pela própria vida;

– Imagens obscuras, como máscaras de caveira ao lado de facas e outras armas brancas;

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– Muitas falas sobre matar-se, ou matar outros e depois se matar;

– Desejo de ser alvejado pela polícia;

– Exaltação e homenagem a homicidas que fizeram ataques anteriores, como o assassino de Suzano.

Denunciei ao Twitter e vi que outros fizeram o mesmo, inclusive marcando a Polícia Federal, que certamente estava monitorando esses perfis.

Quem são as pessoas por trás desses perfis?

Além da tristeza pela notícia de que criancinhas morreram pelas mãos desse monstro de 25 anos, outra coisa me deixou triste: ver que esses perfis no Twitter pareciam de adolescentes bem jovens, na faixa de 13 a 15 anos.

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É inconcebível sequer imaginar que pessoas tão jovens tenham uma visão tão sombria da vida. O que há de errado com eles? O que está acontecendo em suas vidas para estarem com tanto ódio e desejo de vingança? O que aconteceu para eles perderem completamente a esperança no futuro?

Qual é a responsabilidade dos pais nisso?

Trechos de um artigo de 2002, das doutoras em psicologia Junia de Vilhena e Maria Maia, publicado na Pepsic – Periódico Eletrônico de Psicologia, referindo-se à agressividade e violência na infância e adolescência, diz:

“Tudo indica que (…) esteja havendo uma falha básica da família em seu papel contenedor dos impulsos agressivos. A tendência antissocial, que seria normal até nos bons lares, está se transformando rapidamente em destrutividade, violência e delinquência. (Maia, 2002). ‘Por trás de tudo está a confiança que a criança tem na relação dos pais; a família é uma empresa que continua funcionando’ (Winnicott, 1996: 74). Caso esta família (mãe/pai) não funcione, (…) a esperança conduz a um sinal de SOS em termos de uma explosão de agressão’ (Winnicott, 1996: 75)”.

Não estou aqui para atribuir aos pais a culpa desses acontecimentos, até porque os adolescentes já são bem “grandinhos” para saber que isso é terrivelmente errado e mau (para não dizer demoníaco). Além disso, cada caso é um caso e deve ser investigado individualmente.

Entretanto, precisamos saber que, como pais, temos grande responsabilidade na formação do caráter de nossos filhos. Não podemos nos esquivar. A forma como os tratamos e educamos contribui para que sejam cidadãos de bem ou contraventores da lei. Vejam bem, “contribui”, mas não garante. Vou explicar melhor:

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Há jovens que foram amados e receberam uma boa educação dos pais, mas acabaram se envolvendo com más companhias e entraram para o mundo das drogas e dos atos ilícitos, escrevendo uma história triste ou trágica. Alguns deles, por terem traços de sociopatia, foram muito além nas contravenções. Outros, por outro lado, que viveram em lares onde imperava a violência doméstica e os vícios, sendo muitas vezes maltratados e abusados, acabaram escrevendo uma história totalmente diferente, uma história de superação e sucesso.

Assim sendo, infelizmente não há como ter garantia de que nossos filhos vão “andar na linha”, por mais que os treinemos para isso. Mas a probabilidade de que uma educação baseada em respeito, diálogo e amor traga resultados positivos para suas vidas é indiscutível. O oposto também é verdadeiro. Quando são tratados com agressividade e violência, aumentam as chances de que se tornem agressivos e violentos.

O que nossos filhos andam fazendo, principalmente on-line?

Entre as atribuições inerentes à paternidade/maternidade está a de acompanhar os filhos, inclusive monitorá-los. Prestar atenção no que andam fazendo (principalmente na internet), observar seu comportamento, saber identificar prontamente quando apresentam comportamentos estranhos. Inteirar-se, através de diálogos sinceros, do que estão sentindo, do porquê de estarem tristes e irritados, e do que os deixam felizes.

Se todos os pais fizessem isso e buscassem ajuda para o filho logo que percebessem algo preocupante em seu comportamento, talvez tivéssemos uma juventude mais saudável emocionalmente. E se comportamentos agressivos e violentos fossem acompanhados por profissionais da saúde desde o início, creio que a sociedade seria um lugar mais seguro para todos, principalmente para os mais indefesos.

Sem o acompanhamento dos pais, a criança não aprende a modular seus sentimentos

Em uma entrevista à Revista Oeste sobre o ataque em Blumenau, a psicóloga Patrícia Rodini Amato disse:

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“Os pais estão muito distantes da educação dos filhos. A sociedade exige muito trabalho dos cidadãos, para que seja possível manter determinado padrão de vida. A criança acaba ficando renegada, sob cuidado de terceiros. Isso não é cuidado efetivo, é apenas físico. A criança não aprende a modular seus sentimentos. Aí, conhece o mundo e tem experiências de agressividade. O mundo está cruel. A perspectiva de estudo, de profissão e de autossustento não é favorável. Acredito que esses fatores geram uma disfunção nos jovens, que não sabem como controlá-la.” Ela identifica como um grande problema a ruptura do laço familiar.

Como medida a ser adotada, ela sugere que os pais adentrem sem julgamentos “esse mundo de desespero” dos filhos, que procurem compreender seus problemas emocionais. “É necessário um ambiente de calma, conversa e ensinamento. Isso facilita na modulação dos sentimentos dos adolescentes”, completa. 

Em suma, as palavras de ordem são amor, acompanhamento e diálogo. Proporcionar à criança ou jovem um ambiente tranquilo em que se sinta livre para abrir o coração e expressar suas inseguranças e medos, além de alegrias e expectativas, mune os pais de informações necessárias para agir no momento certo, inclusive buscar ajuda quando necessário.

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Erika Strassburger

Erika Strassburger nasceu em Goiás, mas foi criada no Rio Grande do Sul. Tem bacharelado em Administração de Empresas, trabalha home office para uma empresa gaúcha. Nas horas vagas, faz um trabalho freelance para uma empresa americana. É cristã SUD e mãe de três lindos rapazes, o mais velho com Síndrome de Down.