Síndrome de Fortunata: quando alguém só sente atração por pessoas casadas
Sentir atração por pessoas comprometidas ou casadas é comum em muitos casos. Descubra por que acontece e de onde vem o nome da síndrome.
Erika Otero Romero
A infidelidade é um tema complexo; apesar disso, tem perdido a importância sob as diferentes formas em que os casais se relacionam atualmente.
Hoje em dia, é comum encontrar casais sentimentalmente abertos; ou seja, o casal decide não ser monogâmico. Dito de outra forma: ambos chegaram ao acordo de ter relações com pessoas fora do casamento ou noivado. Essas relações extraconjugais podem ser esporádicas ou um pouco mais duradouras. O ponto é que o casal sabe que seu amor sai com outra pessoa e isso não causa conflito.
Há também as relações poliamorosas. Trata-se de um grupo de pessoas que mantêm uma relação afetiva, íntima e/ou emocional entre elas. Costuma ser simultânea e bastante duradoura e, como sua palavra indica, são mais de duas pessoas. Para que essa relação seja bem-sucedida, os participantes precisam saber da existência do resto das pessoas.
O que esses dois tipos de relações têm em comum é que as partes sabem da existência dos outros. Claramente, há dois aspectos importantes: o respeito e o acordo a que chegam as partes. Não há infidelidade, portanto; e quem decidir praticá-la, deve ser respeitado.
Falamos de infidelidade quando, dentro de um relacionamento monogâmico, alguém tem uma relação oculta. Não importa quem faça isso, a vítima sempre sairá vulnerável.
Do que se trata a Síndrome de Fortunata?
O nome tem origem no romance de Pérez Galdós, “Fortunata e Jacinta”. O livro conta as aventuras de três pessoas: Juanito Santa Cruz, Jacinta, sua esposa, e Fortunata, sua amante. O romance aborda a complexidade dos vínculos afetivos e fala de relações de dependência e obsessão.
Quando se fala da síndrome de Fortunata, faz-se referência às seguintes características:
1. Emoções, sentimentos e interesses orientados para pessoas que se encontram em uma relação. A síndrome se concentra no interesse de mulheres por homens casados.
2. A rival está disposta a deixar tudo para estar com o seu amante.
3. A portadora da síndrome crê que seu objeto de afeto está destinado a ela. Acredita que há algo importante entre eles, e é por isso que devem ficar juntos.
4. Costumam imaginar-se juntos no futuro. Além disso, acreditam que, em algum momento, poderão compartilhar uma vida em liberdade e sem problemas.
5. Há a idealização desse romance e recorrem a diferentes desculpas para justificar seus sentimentos.
6. Há perda de interesse em todos os outros vínculos sociais e ou atividades que não envolvem o amante.
7. Sofrem de emoções contraditórias em relação à esposa do amante. Vai da raiva ao rancor, já que ela é um obstáculo para que estejam juntos e, no entanto, também sente culpa e empatia em relação à esposa.
Impacto sobre a saúde
Não se trata de uma doença ou transtorno; apesar disso, com o tempo, desenvolve-se comportamentos que afetam a saúde dos envolvidos no triângulo amoroso.
Esses transtornos podem ir desde ansiedade, baixa autoestima, dependência emocional e até mal-estares físicos.
A infidelidade não tem gênero
É claro que sentir atração por pessoas comprometidas não é só uma questão feminina. No entanto, a Síndrome de Fortunata só se refere às mulheres. É aqui que se apresenta uma queixa, porque tanto as mulheres como os homens traem. A infidelidade não é uma questão de gênero, é uma questão de valores e princípios.
O problema é que, em vez de se concentrar no estabelecimento de uma relação saudável, o foco é “estar numa relação com um homem casado”. Isso é realmente reprovável.
Seja quem for a pessoa enganada ou que engana, em caso algum deve ser celebrado. A infidelidade não torna o homem mais homem e nem a mulher uma “perdida”. Este é um comportamento igualmente reprovável em ambos os gêneros.
Na infidelidade, há dois personagens ativos: a (o) amante e o cônjuge que engana. Ambos atuam de maneira incorreta; e se só o casado é desleal com seu parceiro, o ou a amante não é menos culpado (a).
Não há desculpas nos triângulos amorosos, porque alguém vai sair ferido. Sim, pode tratar-se de uma situação de adultos; justamente por isso, ao estar em plena capacidade para tomar decisões acertadas que não prejudiquem ninguém, escolhem a traição.
Falemos da vítima da traição
Quer seja um homem ou uma mulher a vítima da traição, as feridas que isso deixa são profundas e duradouras.
Sempre me perguntei se não é mais fácil ser honesto com o cônjuge dizer-lhe que já não sente nada; para mim, é melhor isso do que enganá-lo.
O problema com a pessoa infiel é que ela quer jogar em dois terrenos; a aventura com o amante e a estabilidade do lar. A questão é que as coisas não funcionam assim numa relação monógama.
Recuperar-se de uma traição custa tempo porque há que superar o tanto de inseguranças que uma infidelidade deixa. Inclusive, há aqueles que, depois de serem traídos, se negam a oportunidade de um novo amor. É justo?
Só me resta dizer que, seja qual for a posição que uma pessoa tenha em uma relação a três, ela sofrerá. O enganado sofrerá a dor da traição. Quem engana perderá a confiança daqueles que acreditaram nele ou nela; e o terceiro na disputa dificilmente terá respeito por si mesmo.
Traduzido e adaptado por Stael Pedrosa do original Síndrome de fortunata: cuando alguien solo siente atracción por personas casadas