Síndrome do pensamento acelerado, verdade ou mito?
Afinal, Síndrome do Pensamento Acelerado é uma doença ou sintoma de ansiedade?
Stael Ferreira Pedrosa
De acordo com o psiquiatra, escritor, palestrante e pesquisador Augusto Cury, que identificou o que ele chama de Síndrome do Pensamento Acelerado (SPA), este é um distúrbio que acomete crianças e adultos. Em seu livro “Ansiedade: como enfrentar o mal do século”, Augusto Cury, trata a SPA como um “subproduto” da ansiedade.
O que é Síndrome do Pensamento Acelerado (SPA)
Segundo o autor, “Quem tem uma mente agitada, quem é uma máquina de se informar e de pensar, ultrapassou os limites saudáveis da movimentação psíquica e desenvolverá a Síndrome do Pensamento Acelerado”, que “provavelmente atinge mais de 80% dos indivíduos de todas as idades, de alunos a professores, de intelectuais a iletrados, de médicos a pacientes” e que, suplanta a depressão como “mal do século”.
De acordo com Cury, a SPA produz alguns sintomas semelhantes aos da hiperatividade, embora a causa seja diversa, pois a TDAH tem natureza genética. Além disso, a agitação e a inquietação de uma pessoa hiperativa manifestam-se já na primeira infância, enquanto na SPA a inquietação é construída pouco a pouco, ao longo dos anos. Entre as causas da SPA estão o excesso de estimulação, de brinquedos, de atividades, de informação.
Sintomas de SPA
O Dr. Cury aponta os sintomas de SPA: dores de cabeça e musculares, acordar cansado, baixa tolerância a contrariedades (o paciente se irrita ao ser contrariado), sofrer por antecipação, déficit de concentração, lapsos de memória e transtornos de sono. O motivo do desenvolvimento da SPA, segundo Cury, é o “excesso de informação”.
O médico ainda alega que neurologistas, psiquiatras e psicopedagogos no mundo todo estão fazendo diagnósticos errados, atribuindo a desconcentração, irritação, inquietude e baixo limiar para a frustração como hiperatividade ou transtorno de déficit de atenção, em vez de SPA, já que os sintomas são semelhantes, mas as causas não.
Há controvérsia
Para os que discordam do psiquiatra, estes são sintomas genéricos de quem tem ansiedade e não se constitui em uma doença. Um destes é o pesquisador Murillo Rodrigues dos Santos, psicólogo e mestre em psicologia. Para Murillo, não existe tal “doença”, ainda lança dúvidas sobre a qualificação de Augusto Cury e diz que o mesmo não apresentou nenhum dado científico baseado em nenhuma pesquisa que desse respaldo à sua “descoberta”.
Murillo ainda condena a falta de critérios científicos (ontológicos, epistemológicos, metodológicos) para afirmar as coisas que ele escreve! Para finalizar, o psicólogo pergunta se há algum estudo cientifico que determine a quantidade máxima de informação que o cérebro pode processar e questiona: um programador de supercomputadores para o Google ou a NASA tem mais probabilidade de sofrer disso do que um entregador de pizza?
Faz coro a Murillo, Simone Cunha, que, em artigo do UOL, cita os médicos Alfredo Maluf e Luiz Vicente Figueira de Mello, ambos psiquiatras. Segundo estes, a SPA é um conceito muito difundido na internet, mas que não encontra legitimação na ciência, e que os sintomas ou conjunto de sintomas apontam para diagnóstico de outros problemas, tais como: transtorno de ansiedade, transtorno afetivo bipolar, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, transtorno de dependência de drogas, abuso de medicamentos, entre outros.
Pesquisadores e médicos divididos
A questão que surpreende, é que no blog psicologia viva, o tema é tratado como Síndrome, ou seja um conjunto de sintomas, e não um sintoma apenas associado a qualquer doença, o mesmo acontecendo no site Saúde da Saúde – um portal de conteúdo da Anahp – Associação Nacional de Hospitais Privados. O mesmo acontece no Neuroblog, que se apresenta como o blog de uma Clínica Especializada em Neurologia, Mal de Parkinson, Doença de Parkinson e tratamentos para a Dor. O que vem mostrar desencontro de informações e mesmo de consenso, se SPA é doença ou não.
No meio desse cabo de guerra, estão as pessoas que sofrem com esses sintomas (que realmente existem) sem saber o que têm, se um transtorno de ansiedade, depressão ou SPA.
Seja como for, se você percebe em si ou em algum familiar tais sintomas, busque um médico. Existe tratamento, independentemente do termo que se usa para descrevê-los. Tratamento medicamentoso e terapia psíquica podem ajudar a dar mais qualidade de vida, diminuindo o sofrimento.