Somatização: aquilo que seu coração cala, o corpo grita
Problemas emocionais podem causar dores físicas severas e até doenças crônicas, não releve os sinais.
Stael Ferreira Pedrosa
Ela foi demitida do trabalho que adorava e se sentiu arrasada. O desapontamento por ter dado tudo de si, trabalhado até mesmo doente e ser demitida lhe consumia. Sentia-se injustiçada, sem esperança, e parecia ter sofrido um golpe mortal na sua autoestima e autoconfiança. Poderia resumir sua dor como “um coração partido”. Tentava manter uma aparência tranquila e não se mostrar muito abalada. Alguns dias depois, deu entrada no Pronto Socorro com sintomas fortes de infarto. O diagnóstico foi de “Síndrome do Coração Partido”.
Esta é uma história real que aconteceu com alguém próximo a mim. A Síndrome do Coração Partido, ou cardiomiopatia de Takotsuba, é real e ocorre após um trauma ou período de estresse intenso. Embora tenha fundo emocional, os efeitos no organismo são reais – o ventrículo esquerdo, que é uma parte do coração, não bombeia o sangue corretamente, prejudicando o funcionamento deste órgão. Felizmente é algo que tem cura se tratado com medicamentos.
As emoções causam doenças?
De acordo com o site abc.med, isso se chama Somatização, ou seja, a geração de sintomas físicos a partir de uma condição mental, seja algo de fundo psicológico, psiquiátrico ou por ansiedade. São males que levam a queixas contínuas significativas que, no entanto, não apresentam nenhum sinal de doença física detectável. Mas, por que isso ocorre? Por que um órgão que não está doente emite sinais de doença?
De acordo com o Dr. Peter Liu, médico e acupunturista chinês, na medicina chinesa os órgãos internos são considerados como profundamente ligados entre si e com o sistema nervoso. Todas as partes do corpo se comunicam e o corpo deve ser tratado como um todo.
Por exemplo, o fígado sofre os efeitos da raiva, os rins com o medo, o coração pela euforia ou angústia, o estômago sofre com as preocupações e os pulmões com a tristeza. Geralmente não são detectados por exames complementares como de sangue, urina, Raio X, ou outros.
As causas
Estas são incertas, mas já se sabe que há um fator hereditário envolvido no processo de Somatização. Eu sempre ouvia minha mãe reclamar de dores generalizadas frequentemente, sem que nenhum exame detectasse um problema real, a ponto de pensar que era mentira ou desculpas para ficar deitada ou fugir de suas obrigações. Ela reclamava de levantar os braços, de colocar a mão na água fria, de varrer o chão e, às vezes, até mesmo de ser tocada.
Eu acabei por assumir todo o trabalho da casa e me sentia injustiçada e revoltada. Hoje, tenho que pedir perdão mental à minha mãe, já que eu enfrento o mesmo problema: fibromialgia, que provoca dores reais, sem causas reais.
A explicação médica é que a causa do distúrbio de Somatização aumenta a sensibilidade às sensações físicas internas e à dor, pois há um limite para o corpo suportar a dor psicológica, seja por depressão ou ansiedade, a partir de certo ponto a dor passa a ser física, fazendo com que o paciente desenvolva uma sensibilidade aumentada à dor e à percepção da dor.
A depressão na minha família é endógena, hereditária. Todos são afetados por ela e os sintomas acabam por surgir.
Como detectar se alguém sofre desse problema (inclusive você mesmo)
- A pessoa afetada não apresenta nenhum problema de saúde relacionado às suas queixas (comprovado por exames específicos), ou, se apresenta, a reação é anormal, exagerada.
- Exames médicos repetidos não confirmam o problema relatado e as queixas permanecem.
- A pessoa passa a se preocupar em demasia com problemas de saúde, sempre pensa que pode estar enfartando ou tendo uma doença degenerativa que a levará à incapacitação.
- É possível que a pessoa apresente sinais físicos da doença que pensa ter, como dor no peito, falta de ar, palidez, dor ou dormência no braço esquerdo (que evidenciam problemas cardíacos graves) e, no entanto, se tratar apenas de ansiedade.
Como lidar com o problema
1. Não julgue ou critique
A pessoa que sofre com a Somatização não está mentindo ou fazendo cena, ela está realmente sofrendo, seja física ou emocionalmente. Uma pessoa emocionalmente saudável não cria problemas de saúde para fugir de suas obrigações ou para atrair atenção de outros. Existe um problema mental associado.
2. Ouça com atenção e empatia
É possível que seja um problema real, ainda que não constatado por exames, como no caso da minha mãe que sofria com fibromialgia. Como era um problema desconhecido, não teve o tratamento adequado e sofreu anos a fio com a dor generalizada e a incompreensão da família e dos médicos – o que causou um sofrimento duplo: físico e mental.
3. Procure ajuda especializada
Seja para si mesmo ou para um familiar, amigo, etc., que esteja com esse problema. Quando a pessoa se queixar ou caso seja você mesmo a ter sintomas de que algo está errado, procure o médico e faça os exames requeridos. Pode ser que haja um problema físico real, e caso não haja, o médico pode encaminhar o doente para a psicoterapia. O que não pode é o médico dizer que a pessoa “não tem nada”, se ela se queixa, ela tem algo e precisa de tratamento, seja físico ou mental.
Não se pode “deixar para lá”
A Somatização pode estar associada a depressão ou ansiedade generalizada e ter desdobramentos graves, dificultando o funcionamento cotidiano do portador com dificuldades profissionais e financeiras, trazer problemas de convivência tais como fobia social ou isolamento, dissolução de relacionamentos e até ideação de autoextermínio (suicídio). Por isso, cuide-se e cuide de quem você ama. Se eu soubesse, à época, o que minha mãe tinha, ela poderia ter tido outra qualidade de vida.