Uma criança pode ser vegetariana? Saiba como isso a afeta
Dieta vegetariana, vegana, ovolactovegetariana, criança pode? Não pode? Quais os riscos?
Stael Ferreira Pedrosa
Em 2013 um vídeo se tornou viral atingindo mais de 5 milhões de visualizações – no vídeo um garotinho de 3 anos (Luís Antônio) se recusa a comer polvo, porque segundo ele: “polvo é os animais e quando a gente come os animais, eles morrem. Não gosto que eles morrem”.
Assim como o Luís Antônio, muitas crianças se recusam a comer carne e na maioria das vezes é por pena dos animais.
É um sentimento nobre e que toca os corações, mas e a nutrição? Não fica prejudicada em uma dieta vegetariana ou vegana?
Este é um assunto que divide médicos, nutricionistas, veganos, vegetarianos e pais. Eric Slywitch, autor do livro “Alimentação sem Carne – Guia Prático” é médico e nutrólogo. Segundo ele, toda criança até 1 ano de idade precisa de alguma proteína de origem animal para produzir um aminoácido essencial – a taurina, encontrado no leite materno e em fórmulas infantis que o substituem. Já para as crianças maiores, a retirada das proteínas animais não traz problemas desde que haja uma substituição adequada, diz o médico.
O que é prontamente combatido pela pediatra Jocemara Gurmini, do Departamento de Nutrologia e Suporte Nutricional da Sociedade Brasileira de Pediatria, que afirma que as crianças em dietas restritivas como a vegetariana estão em maior risco de deficiência nutricional, com consequências nocivas ao crescimento e desenvolvimento.
Para a nutricionista pediátrica, Giovana Longo Silva, da Unifesp, o grande problema do vegetarianismo na infância é a deficiência de ferro. Segundo ela, quando a criança se alimenta da maneira convencional (onívora) não é necessário fazer a suplementação, pois os alimentos por si já fornecem a quantidade adequada e caso necessite somente o médico pode indicar o medicamento adequado.
Mas, e a experiência dos pais vegetarianos, o que diz?
Beatriz Medina, mãe, blogueira e vegetariana há mais de 30 anos, criou seus cinco filhos como vegetarianos. Eles são saudáveis e, segundo ela, “belíssimos”. E acrescenta: “Logo, acredito que nenhuma criança precisa de carne”.
Neste site, Vanessa Rosa, vegetariana, esposa de onívoro (que come de tudo) e mãe de três crianças ovolactovegetarianas – ou seja que são vegetarianas, mas comem ovos e tomam leite. Segundo Vanessa, o objetivo dela é suprimir aos poucos o leite e ovos das crianças, migrando para uma dieta totalmente vegetariana. Ela sempre amamentou os filhos até os 6 meses de idade e diz: Nem preciso falar que (eles) têm uma saúde de ferro.
Conclusão
Os depoimentos fazem crer que sim, a criança pode ter uma alimentação vegetariana, ou ovolactovegetariana sem prejuízo para a sua saúde e desenvolvimento, desde que haja uma substituição eficaz das proteínas, ferro e outros nutrientes da carne.
Julia Harger, instrutora de yoga, blogueira, vegana e apaixonada pelo assunto, dá dicas importantes para os pais que querem introduzir a alimentação vegetariana às crianças. Segundo ela, que traduziu um Guia Completo da Alimentação Vegana, (disponível para baixar aqui) os pais precisam primeiro dar o exemplo. Ela também aconselha a procura de profissionais de saúde alinhados com essa proposta de vida, tanto pediatras quanto nutricionistas.
Julia também aconselha os pais a terem um estilo de vida condizente com o vegetarianismo, e passar valores como compaixão, empatia e bondade para com os animais e respeito a toda forma de vida. Não adianta impor uma dieta vegetariana às crianças e maltratar os animais.
Ela também aborda a questão social. Seja na escola ou em outros locais, a criança vegetariana estará em contato com outras que não são. Cabe aos pais ensiná-las a conviver com as diferenças e interagir com outras famílias ou grupos que seguem o mesmo estilo de vida.