10 coisas que você nunca deveria dizer a uma família adotiva

Adotar é sinônimo de aceitar, acolher, assumir. Nesse sentido, toda família é adotiva.

Stael Ferreira Pedrosa

Segundo o site promenino, “para cada criança esperando ser adotada no Brasil, existem seis pretendentes procurando um filho ou uma filha. Ainda assim, cerca de 5,5 mil crianças e adolescentes ainda esperam em abrigos para serem adotados.”

De acordo com dados do CNA (Cadastro Nacional da Adoção), “Só no Estado de São Paulo, em 2012, foram 3.535 adoções processadas – cada processo pode ter mais de uma criança envolvida. Em 2011, foram 3.450.”

Muitos casais desejam ter filhos e os motivos são vários. Maria Inês Villalva, assistente social e coordenadora de um grupo de apoio a adoção de Santo André – São Paulo, explica que “Os motivos que normalmente levam à adoção são infertilidade, evitar uma gravidez de risco, impedimento de ter mais filhos ou criação de vínculo afetivo com uma determinada criança”.

Sejam quais forem os motivos para a adoção, é algo que envolve sentimentos delicados de ambas as partes. Pode haver muito riso, alegria ao se adotar um filho, mas também há lágrimas, decepções e muitas vezes uma longa espera até ter a criança desejada nos braços.

Por envolver tantas emoções, há naturalmente uma hipersensibilidade com relação ao assunto. Por isso, há que se ter cuidado com o que se diz a uma família onde há filhos não biológicos envolvidos.

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Leia: Como decidir pela adoção de uma criança

Especialistas e mães mostram 10 coisas que nunca se deve dizer a uma família adotiva:

1. É seu filho mesmo?

Como não poderia ser? Filho é alguém que amamos, cuidamos, nos preocupamos, queremos o bem-estar em todos os aspectos da vida. Independente da raça ou cor da pele, filho adotivo é tão filho quanto o biológico. E outra pergunta costuma seguir-se a essa: “Você não tem vontade de ter um filho seu mesmo?” A advogada Paula Abreu, mãe de Davi, responde: “É meu, você vai ver, vai ter até certidão de nascimento dizendo que é meu”.

2. Que coragem!

Não é coragem, é amor. Todo filho é um desafio, traz preocupações e dá trabalho. Tanto o que carrega o DNA dos pais quanto os que não carregam. “Não tivemos que “tomar coragem” ou nada parecido porque ter dois filhos é uma das coisas mais comuns do mundo”, diz Ruri Giannini, blogueira e mãe de gêmeos adotivos.

3. Parabéns pelo seu gesto!

Adoção não é um gesto heroico ou de caridade. Como diz Gabi Rocha, mãe adotiva da Manu, “Adoção é somente, e tão somente, uma forma legítima de filiação que permitiu nos tornarmos pai e mãe. Não fizemos caridade”.

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4. Como é ter um filho adotivo?

Como é ter um filho? Esse deveria ser a pergunta. A palavra “adotivo” ao final da frase não faz o menor sentido. Como já ressaltado no item 2, todo filho dá trabalho e dá alegrias, todo filho traz um pacote de experiências e vivências, não importa se no pacote tem o DNA dos pais ou não.

Leia: Como contar ao seu filho que ele é adotado

5. Como seus filhos reagiram?

A pergunta poderia ser: “Como seus outros filhos reagiram?”. Afinal todos são filhos.

6. Filho adotivo dá muito trabalho

E qual filho não dá trabalho? Sim, os filhos dão muito trabalho, todos dão. Mas, dão amor, carinho e proporcionam situações de aprendizado e crescimento que nenhuma outra experiência traz.

7. Você os castiga?

Regina e Edmar, um casal de empresários de Brasília, pais de dois filhos adotivos, respondem a esse tipo de pergunta de maneira direta, como conta Regina:

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“Já respondi a perguntas estúpidas de outras mães: ‘Mas eles não são rebeldes? Você consegue que eles lhe obedeçam? Você os castiga?’ Ora, que perguntas são essas? Eles se comportaram e foram tratados igualzinho às demais crianças e adolescentes na idade deles”.

8. Onde você os encontrou?

A professora da Universidade Federal de Minas Gerais, Regina Helena Alves Silva, conta sua reação a esse tipo de pergunta. Com dois filhos adotados, segundo ela essa pergunta gera outra em sua mente:

“Como assim, onde encontrei?”

Cansada desse tipo de pergunta sem sentido, a professora chegou a responder: “Encontrei num supermercado!”

9. E se os pais verdadeiros forem de má índole?

Os pais verdadeiros são os que criam e ensinam a serem boas pessoas. Ruri Giannini, mais uma vez conta sua experiência com esse tipo de pergunta: “Sim, já ouvi perguntas esdrúxulas sobre esse assunto, como ‘e se o genitor for um criminoso e passar essa carga genética para seus filhos?’. Sempre fico um pouco brava com essas perguntas, porque parece que as pessoas acham que filho adotivo vai necessariamente dar problema e que filho biológico vem com certificado de garantia”. Em seguida, ela pede desculpas e conta a história bem conhecida de uma filha biológica que matou os pais.

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10. Como é ter um filho tão diferente?

Isso é puramente discriminação. Esse tipo de pergunta mostra um preconceito profundamente enraizado. Em uma pesquisa feita pela psicóloga Lídia Natália Dobrianskyj Weber, sobre abandono e adoção, uma das palavras mais frequentemente relatadas é “diferente”. A pesquisa traz respostas de pais e filhos adotivos sobre várias questões, entre elas sobre diferenças, sejam de cor, raça, etc. A resposta de um dos adolescentes entrevistados sobre diferenças é: “Eu gostaria de ser mais parecido com meus pais. Somos diferentes em tudo, até na cor da pele, mas amor não tem padrão de cores, tem?”

Leia: Alternativas realistas para quem não pode ter filhos

Famílias são unidas pelo amor e quando esse tipo de pergunta é feita, magoa, fere a todos, pais e filhos. A fotógrafa norte-americana Kim Kelley-Wagner explica às suas filhas adotivas que “as pessoas não dizem essas coisas por maldade, mas por ignorância“.Ela ressalta que

As palavras são poderosas, elas podem ser ferramentas ou armas“. E conclui: “Use-as de forma sábia”.

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Stael Ferreira Pedrosa

Stael Ferreira Pedrosa é pedagoga, escritora free-lancer, tradutora, desenhista e artesã, ama literatura clássica brasileira e filmes de ficção científica. É mãe de dois filhos que ela considera serem a sua vida.